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Pré-Market: Dias abreviados

06 abr 2018, 8:15 - atualizado em 06 abr 2018, 8:15

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Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

A celeridade na decisão do juiz Sérgio Moro em mandar prender o ex-presidente Lula – o que deve acontecer até as 17h de hoje, em Curitiba – gerou perplexidade e surpreendeu até mesmo a Polícia Federal, que não esperava a expedição de uma ordem de prisão tão cedo. Trata-se da decisão mais rápida entre todos os condenados da Lava Jato que estavam soltos, mas a agilidade não muda em nada a indefinição no cenário eleitoral brasileiro, o que reteve ontem a euforia nos mercados domésticos, na esteira da decisão da véspera do STF, e não deve animar tanto os negócios locais hoje.

Ainda mais diante da nova ofensiva lançada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a China. Ele ordenou que o representante do Comércio norte-americano analise mais US$ 100 bilhões em novas tarifas contra produtos chineses, “à luz da retaliação injusta de Pequim”. Assim que a notícia foi divulgada, quando Wall Street já esteve fechada, os índices futuros das bolsas de Nova York mergulharam no vermelho e seguem no campo negativo nesta manhã, com perdas ao redor de 1%, inibindo o apetite por risco pelo mundo.

A reação dos mercados na Ásia nem foi tão grande, com o feriado chinês que manteve a Bolsa de Xangai fechada hoje ajudando a amenizar a tensão em torno do tema. Mesmo assim, o Ministério do Comércio chinês afirmou que a China irá combater até o fim e a qualquer custo, em resposta às ameaças de tarifas adicionais às importações do país.

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Isso porque o foco do governo Trump está, agora, em violações de propriedade intelectual, em meio a uma batalha sobre a soberania na Inteligência Artificial. Washington tem como alvo o setor de alta tecnologia, que Pequim denominou como um dos pilares para transformar o país na maior potência mundial.

Já nos negócios no Ocidente, as principais bolsas europeias abriram em queda, com as ações de montadoras e de produtoras de commodities liderando as perdas. Na outra ponta, ouro e iene seguem como refúgio, ao passo que o petróleo recua e o cobre também. Entre as moedas, o dólar ganha terreno das rivais europeias, como o euro e a libra, e também frente às divisas de países emergentes, com destaque para o rand sul-africano, que cai à mínima em oito semanas.

Para os investidores, está se tornando infantil a retórica de Trump em torno das tarifas protecionistas, que pode ter consequências sem precedentes. A China está ciente de que a situação pode ficar muito delicada e, por ora, tem adotado a estratégia da reciprocidade, com retaliações a sobretaxa de produtos, o que tende a elevar a espiral tarifária. Afinal, como diz o ditado chinês, “é apenas educado retribuir”.

No fim das contas, serão, então, os cenários eleitoral e externo que deverão continuar dando o tom dos mercados domésticos. Após o desfecho do principal evento jurídico (político) no Brasil, as eleições deste ano ainda seguem nebulosas, mas a ausência de Lula no pleito de outubro reduz ao menos um fator de incerteza, abrindo a disputa entre os demais candidatos.

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A grande questão, agora, é quem receberá os votos que seriam dados ao petista. Há dúvidas sobre a distribuição, pois não é certo que apenas alguém da esquerda consiga conquistar todos os eleitores do ex-presidente. Até mesmo a visão de que Lula terá mais dificuldade em transferir votos para um candidato da prisão do que em campanha é frágil, pois vai depender da capacidade de transformar tal fato em um foco de resistência.

Os próximos dias é que vão dizer…Ainda mais após a rapidez no “prenda-se” do juiz Sérgio Moro, ignorando a possibilidade dos embargos dos embargos em segunda instância (TRF-4), que seria o último recurso que a defesa do ex-presidente pretende apresentar ante de esgotar-se a juridisção em segundo grau. Tanto que a opção foi entrar com um pedido de habeas corpus no STJ, para tentar impedir a prisão imediata do petista – sem algemas, dando início ao cumprimento da pena de 12 anos e um mês.

Seja como for, mesmo com Lula fora da corrida presidencial, os candidatos com viés pró-mercado não aparecem em posição favorável nas pesquisas e ainda enfrentam uma luta difícil até outubro. O populista da direita Jair Bolsonaro lidera os cenários sem Lula, mas também é líder no quesito rejeição, enquanto candidatos amigáveis ao mercado, como o governador Geraldo Alckmin (SP), têm apenas um dígito nas intenções de voto.

Outra possibilidade é de que a decisão da Corte ajude o candidato de extrema direita a conseguir mais apoio, em um momento em que o Centro se divide em muitos nomes diferentes, sendo que nenhum deles apresenta força suficiente para superar nem Bolsonaro nem Alckmin.

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Mas nem mesmo a certeza de que Lula está, definitivamente fora das eleições, é garantida. A estratégia do PT é mantê-lo como pré-candidato à Presidência da República mesmo preso. O que não se sabe é por quanto tempo durará essa candidatura. Em princípio, ele só poderá ser barrado por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que deve acontecer até setembro. Até lá, se estiver solto, o petista pode, inclusive, usar a sua imagem em propaganda eleitoral.

Em meio a tudo isso, não se pode perder de vista que hoje é dia dos dados de emprego nos Estados Unidos (payroll). Os números sobre o mercado de trabalho norte-americano em março podem dar pistas sobre os próximos passos do Federal Reserve, tirando ou acrescentando mais um foco de tensão à cada vez mais extensa lista de preocupações dos investidores.

O chamado payroll será divulgado às 9h30 e deve mostrar certa desaceleração na criação de vagas no país, após os dados fortes de fevereiro. A expectativa é de geração de 203 mil vagas no mês passado, após a abertura de 313 mil postos de trabalho no mês anterior, com a taxa de desemprego caindo de 4,1% para 4,0%, no período. A questão é que, apesar dos dados fortes sobre o emprego nos EUA, o crescimento médio dos salários deve seguir lento, com alta de 0,2% no mês e aumento de 2,7% na comparação anual.

O elo fraco entre a recuperação sólida do mercado de trabalho e o crescimento salarial lento é o que mantém, por ora, um ritmo gradual no processo de alta das taxas de juros norte-americanas. As apostas são de que a inflação continue baixa e não seja um tanto problemática, o que sustenta o cenário de três aumentos até dezembro. Porém, a chance de quatro altas, contando o aumento já feito em março, ainda não foi descartada.

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O presidente do Fed, Jerome Powell, discursa no Clube Econômico de Chicago (14h30) e pode trazer novas coordenadas sobre o plano de voo em torno da normalização dos juros nos EUA, atualmente no intervalo entre 1,50% e 1,75%. Ainda na agenda econômica norte-americana, saem os dados sobre o crédito ao consumidor em fevereiro (16h).

Na Europa e no Brasil não estão previstas divulgações relevantes. Mesmo assim, a volatilidade para o dia já está garantida.

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Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
olivia.bulla@moneytimes.com.br
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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