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Pré-Market: Roteiro comprometido

07 nov 2017, 7:47 - atualizado em 07 nov 2017, 7:47

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Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

O presidente Michel Temer jogou a toalha e admitiu que a reforma da Previdência pode não ser aprovada. Durante reunião com líderes dos partidos governistas, a qual contou com a ausência de vários deles, o presidente prometeu dar algum avanço nas novas regras para a aposentadoria, mas ressaltou que a proposta não deve ser aprovada “em todo o conjunto”.

Diante das dificuldades, o presidente falou em um texto mais enxuto, mexendo somente em alguns pontos, como a idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres. Mas a pauta sofre resistência na Câmara até mesmo entre parlamentares aliados e será difícil obter o número suficientes de votos para a aprovação de uma emenda à Constituição (PEC). Segundo o líder do PMDB da Casa, o governo simplesmente não tem os votos necessários.

Temer bem que tentou uma reaproximação com a base, só que os aliados mostram que só haverá disposição em avançar até mesmo com uma proposta mais enxuta da Previdência quando forem entregues os cargos e emendas prometidos, à luz da votação das denúncias da PGR, as quais ele chama de “tramas”. A pressão é pela saída imediata do PSDB dos ministérios. Se não ceder, torna-se um presidente decorativo até o fim do mandato.

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O governo ainda tenta correr contra o tempo e juntar esforços para emplacar a agenda econômica, faltando apenas sete semanas para que o Congresso entre em recesso. Porém, a pauta do Legislativo deve ficar mais voltada a medidas de apelo popular, como projetos de segurança pública, do que impopulares, como a reforma da Previdência.

Aos poucos, o mercado doméstico vai se dando conta disso, com a classe política já no embalo de interesses eleitorais em 2018. Assim, por mais que o presidente e a equipe econômica ainda sonhem em aprovar as reformas da Previdência e tributária, será preciso escolher entre as medidas de ajuste fiscal e as do Orçamento do ano que vem.

Entre uma pauta e outra, o governo pretende encaminhar ainda nesta semana, a proposta de privatização da Eletrobras, por meio de um projeto de lei, o que tende a agilizar a votação. A estimativa do governo é de que R$ 12,2 bilhões entrem nos cofres públicos no próximo ano por causa do processo.

A questão é que sem a aprovação completa das novas regras para a aposentadoria, incluindo o tempo necessário de contribuição, cresce o risco de novos rebaixamentos na nota de crédito soberano do Brasil pelas agências de rating. E esse cenário não autoriza qualquer otimismo dos investidores nos negócios locais.

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As incertezas do quadro eleitoral, com as pesquisas de intenção de voto não trazendo qualquer novidade, só corrobora a frustração com o avanço da “agenda positiva” do governo. E o próximo impacto deve ser no ritmo de recuperação do crescimento, uma vez que os benefícios vindos da queda da inflação e dos juros tendem a se esgotar.

Nessa perspectiva, a retomada gradual da atividade e do emprego pode configurar-se como um movimento pontual. Sem as reformas, a perspectiva de continuidade da recuperação econômica perde força e os problemas fiscais do país voltam ao centro das atenções. Só que agora o rombo dos cofres públicos é maior e foi inflado pelo toma-lá-dá-cá de Temer.

A cena política deve dominar as mesas de operações nesta terça-feira, diante da agenda econômica esvaziada no Brasil e no exterior. Lá fora, o foco está na composição da nova diretoria do Federal Reserve, após a confirmação de Jerome Powell no lugar de Janet Yellen na presidência e das aposentadorias de Stanley Fischer e William Dudley.

Com mudanças nos três principais cargos no Fed a partir de 2018, crescem os temores sobre a forma que será conduzida a taxa de juros norte-americana, em resposta aos impactos da reforma tributária do governo Trump. Mais que isso, as alterações lançam dúvidas sobre a influência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no Fed.

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Por ora, prevalece a percepção de uma política monetária suave (“dovish”), o que tende a manter a liquidez elevada nos mercados. Essa avaliação combinada com o bom estado da economia global e com a safra positiva de balanços beneficia a tomada de risco. Tanto que ontem os índices acionários norte-americanos encerram a sessão em novas máximas históricas, o que impulsionou as bolsas na Ásia.

Em Tóquio, o índice Nikkei 225 encerrou no maior nível desde 1992. As bolsas da China também tiveram ganhos, com mais de 1% em Hong Kong e perto disso em Xangai. Na Austrália, a Bolsa de Sydney fechou no patamar mais alto em quase 10 anos, sendo que o dólar australiano chegou a ser negociado acima de US$ 0,77, após o Banco Central local (RBA) melhorar a perspectiva dos investimentos no país.

Entre as demais moedas, o won sul-coreano também é destaque, com a moeda aproximando-se da maior cotação do ano. O euro, por sua vez, está de lado, com as principais bolsas europeias não conseguindo manter o tom positivo, após a queda maior que a esperada da produção industrial alemã em setembro. Nas commodities, o petróleo e os metais básicos sustentam os ganhos de ontem.

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Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
olivia.bulla@moneytimes.com.br
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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