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Pré-Market: Tempo fecha em Brasília

10 mar 2017, 10:29 - atualizado em 05 nov 2017, 14:06

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

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Números a serem conhecidos hoje sobre a inflação no Brasil (9h) e sobre o emprego nos Estados Unidos (10h30), ambos referentes ao mês de fevereiro, devem definir as expectativas em relação aos próximos passos dos bancos centrais brasileiro (Copom) e norte-americano (Federal Reserve). Enquanto isso, o clima é de tensão em Brasília.

O tempo fechou na capital federal e nuvens carregadas se aproximam com a chegada do fim de semana e a possibilidade de divulgação, a qualquer momento, da segunda “lista de Janot”, que pode trazer o pedido de abertura de inquéritos contra políticos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com base nas delações premiadas da Odebrecht. Até a semana passada, haviam 30 pedidos concluídos, mas esse número deve ser mais expressivo.

O conteúdo pode tornar intransitável o andamento das reformas estruturais no Congresso, sendo que a reforma da Previdência já parece cada vez mais ameaçada, sem o apoio da própria base aliada, apesar dos esforços da equipe econômica. Agora, com a perspectiva de tempestade de forte intensidade em outras regiões, principalmente no Sudeste, os poderes Legislativo e Executivo devem ficar alagados em uma lama de corrupção.

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Juntamente com os pedidos de Janot deve ser quebrado o sigilo das declarações de ex-executivos da empreiteira. Ontem, o Supremo Tribunal Federal (STF) instruiu jornalistas a deixarem dispositivos de dados, como HDs externos, com um volume disponível de ao menos um terabyte (!).

Trata-se do tamanho dos arquivos referentes às delações da Odebrecht, que devem vir à tona em breve. A expectativa é de que o conteúdo se torne público até a próxima segunda-feira, podendo atingir o ambiente político a partir da semana que vem. Ainda assim, trata-se de algo importante a ser monitorado.

Enquanto isso, os mercados se debruçam sob os fatos do dia. A sexta-feira começa com o índice oficial de preços ao consumidor no Brasil (IPCA), que podem aumentar as chances de aceleração no ritmo de cortes da taxa básica de juros (Selic) em abril.

A previsão é de que índice ganhe força e avance 0,43% em fevereiro em relação a janeiro. Ainda assim, o resultado, se confirmado, será o menor para meses de fevereiro desde 2000, quando o IPCA subiu 0,34%. Já no acumulado dos últimos 12 meses, a estimativa é de desaceleração a 4,87%, com a taxa no período retrocedendo aos níveis de 2010.

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Por enquanto, o mercado segue dividido quanto a essa possibilidade de corte de um ponto percentual na Selic no mês que vem. A aposta majoritária ainda sugere a manutenção da dose de 0,75 pp, com cerca de 55%. Os outros 45% veem chance de queda maior.

Já no exterior, o mercado já se convenceu que o Fed subirá os juros na próxima semana. Ainda assim, os investidores aguardam os números oficiais sobre o mercado de trabalho norte-americano (payroll) para calibrar as apostas em relação aos passos do Fed para além da reunião deste mês.

Por enquanto, o mercado não enxerga mais do que três altas na taxa de juros dos EUA (FFR). Mas os investidores têm acompanhado o avanço no rendimento (yield) dos títulos norte-americanos. O papel de 10 anos (T-note) alcançou nesta manhã o perigoso nível de 2,6%, que havia sido alertado recentemente pelo veterano Bill Gross (ex-PIMCO).

Trata-se de um marco importante e que deve ter reflexos entre os ativos mais arriscados, já que juros mais altos nos EUA têm potencial para atrair à maior economia do mundo recursos aplicados em outros mercados, principalmente emergentes. Por enquanto, as ações e commodities ignoram tal fato e ensaiam uma recuperação.

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Os índices futuros das bolsas de Nova York exibem ganhos, amparados no avanço dos preços do barril de petróleo WTI, que segue abaixo de US$ 50, reavivando a preocupação de que a inflação apoiada nos preços de energia não deve persistir. Os metais básicos ampliam as perdas. O dólar, por sua vez, mostra fôlego reduzido para novas altas, com o euro ganhando força após o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, afirmar que os riscos à economia da região da moeda única estão mais balanceados.

Agora, é aguardar os dados do payroll para ver se esse comportamento dos mercados se sustenta. A previsão é de abertura de 200 mil vagas nos EUA no mês passado, o que tende a reforçar um ritmo estável de crescimento de postos de trabalho. A taxa de desemprego no país deve cair a 4,7%, de 4,8% antes.

Qualquer número melhor que esses tende a agitar os negócios globais, podendo levantar suspeitas quanto a uma ação ainda mais agressiva do Fed. Dados em linha com o esperado simplesmente confirmarão uma nova alta na FFR na semana que vem. Nesse caso, apenas um resultado pior será comemorado pelos mercados….

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Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
olivia.bulla@moneytimes.com.br
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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