Agronegócio

Preço do boi: a difícil tarefa de traduzir (e contentar) o mercado – Parte 1

29 jul 2019, 10:07 - atualizado em 29 jul 2019, 10:32

As variáveis do mercado do boi (Arquivo/Agência Brasil/Agência Brasil)

No momento em que a maioria dos produtores e analistas do mercado pecuário defendem mudanças na metodologia de cálculo do índice Cepea/Esalq do boi gordo, entre quais a ponderação de negócios diários de praças sem relevância, a discussão pode se estender sobre como trabalhar as informações a respeito de preços médios, volumes e diferenças relativas aos tipos de animais, entre outros, difundidas por algumas consultorias.

E assim não induzir os pecuaristas, sem muito base de mercado ou sem poder de negociação, a aceitarem o primeiro valor oferecido pelos compradores, bem menor, especialmente mais nos grandes que nos pequenos.

Há uma visão de que as informações de algumas consultorias não devem ser levadas como média de compra e venda, mas sim como indicações de preços mínimos. E nesse contexto, teriam que ser observadas, na divulgação pela imprensa, de informações relativas ao desconto ou não de 1,5% do Funrural na venda – optativo, há produtores que preferem descontar em folha de pagamento -, e acentuar que os valores exibidos não mostram negócios com animais que levam premiação, como boi China ou boi Europa.

Gustavo Figueiredo, da AgroAgility, é um deles, porque entende que a maioria dos produtores estaria preferindo o desconto em folha. Portanto, as indicações divulgadas diariamente pelas empresas com o desconto do Funrural já na nota emitida pelo frigorífico teriam poucos participantes.

“Numa venda a R$ 154,00 (em São Paulo), se tiver que descontar Funrural (1,5%) é abaixo disso, se não tiver que descontar é R$ 154,00 livre. Ou seja, esse exemplo já mostra que os R$ 152,00 ou 153,00 é mínima e já descontado. E não média”, diz Figueiredo, com base nas informações que demos aqui na sexta (26). Frisa-se que ele não menciona nenhuma consultoria, ressalvando apenas o Cepea/Esalq.

Exemplos

O Money Times, por exemplo, usa regularmente as referências divulgadas pela Scot Consultoria e pela Agrifatto, porque são empresas que assumem publicamente seus levantamentos, naturalmente cada uma chegando à sua média dentro do respectivo universo de informantes do mercado.

E leva em consideração que se as indicações foram divulgadas “oficialmente” é porque foram registrados negócios com esses valores mínimos, já que as notas fiscais apresentadas balizam essas pesquisas.

Portanto, se a Scot deu que na última sexta em Araçatuba e Barretos o boi saiu a R$ 152,00 à vista, e é tabela que tem mais destaque contra tabela do “sem desconto” (R$ 154,00) que o site da empresa também publica, é porque é média. Ainda que seja a média dela, baseada na quantidade de informantes que possui (sic).

É consenso, no entanto, que por ser média, sempre haverá negócios acima ou abaixo.

Sobre o Esalq/Cepea , sem contestar a lisura da respeitada instituição, os negócios pesquisados, também livres da  taxa do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural, são divulgados às 18 horas, e até por isso pouco mencionado aqui regularmente.

A menos, por exemplo, que no dia anterior, o índice saiu da curva, mesmo porque também sempre se procura destacar que os valores notificados normalmente estão abaixo das demais referências (o que já é sabido por todos).

E uma das observações que a equipe da instituição faz sobre o método de pesquisa, que resulta em “diferença sempre para menor”, segundo o mercado, sobre a quantidade informações que chega dos participantes poderia ser maior, inclusive com campanhas nesse sentido.

Além da ponderação no índice de regiões sem peso.

Daí que, por exemplo, quando o CEO da AgroAgility menciona que no ‘boi Cepea’ entram informações do Vale do Ribeira e de outras regiões inexpressivas, e a tendência é a média cair para baixo, não deixa de ter certa razão. Portanto, negócios baseados nesta referência seriam poucos e notadamente entre os pequenos vendedores, sem poder de volume e qualidade (na maioria) em seus animais.

É importante lembrar, ainda, que o indicador é o oficial da B3 e baliza a liquidação do mês corrente. Também alvo de outra crítica do mercado, porque, obviamente, um indicador menor puxa para baixo os resultados.

E há um movimento pedindo a revisão da metodologia, inclusive em encontros com os gestores da bolsa de valores e os coordenadores da pesquisa da instituição.

*Amanhã (30) continuaremos com a segunda parte desta análise.

Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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