Pressão inflacionária no Brasil e incertezas globais reforçam cenário de vigilância dos bancos centrais

Veja os indicadores econômicos que serão destaques entre os dias 12 a 18 de maio, com projeções e comentário do economista André Galhardo.
Ata do Copom pode adotar tom mais duro do que o comunicado da última decisão
Apesar da desaceleração na inflação cheia no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que passou de 0,56% em março para 0,43% em abril, os dados qualitativos reforçam um cenário de preocupação para a autoridade monetária. O índice de difusão subiu para 66,5%, o maior patamar em quatro meses e o segundo mais elevado desde dezembro de 2022, indicando uma propagação ampla da inflação. Além disso, os núcleos de inflação permaneceram estáveis na média, mas os mais sensíveis ao ciclo econômico seguem pressionados, sugerindo que a demanda interna — impulsionada por um mercado de trabalho aquecido — está exercendo pressão inflacionária. Nesse contexto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central pode utilizar a ata para sinalizar de forma mais clara a possibilidade de um novo aumento da taxa básica de juros (Selic) na reunião de junho. A ata da última reunião do Copom será divulgada nesta terça-feira (13).
Após avanço acima do esperado em fevereiro, setor de serviços deve voltar a crescer
Indicadores antecedentes apontam para uma alta em torno de 0,4% para março, sucedendo a expansão robusta de 0,8% registrada em fevereiro. Apesar de positivo, esse resultado — caso confirmado — pode reforçar as preocupações do Banco Central quanto ao ritmo de aquecimento da atividade econômica e seus potenciais efeitos sobre a inflação. O comércio varejista, por outro lado, pode apresentar recuo na margem após ter renovado o maior nível da série histórica em fevereiro. Os dados do setor de Serviços serão divulgados na próxima quarta-feira (14), e os do Varejo saem na quinta-feira (15).
Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) de maio deve reverter breve deflação em resposta ao fim da queda nos preços ao produtor
Apesar da recente valorização do real e da queda nos preços de alguns produtos agrícolas, fatores que podem mitigar pressões inflacionárias nas próximas leituras, os dados parciais de maio ainda apontam para uma aceleração dos preços. Além disso, seguimos atentos à defasagem nos preços dos combustíveis no mercado interno. De acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), há espaço para que a Petrobras (PETR4) implemente novos cortes nos preços, inclusive na gasolina. Projetamos uma variação positiva de 0,32%, em linha com o resultado do IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) de abril. O IGP-10 de maio será anunciado na próxima sexta-feira (16) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dos EUA deve apresentar alta moderada em abril
A aceleração, se materializada, já está precificada pelo mercado e pode refletir, em parte, os efeitos iniciais da nova política tarifária adotada pelo presidente norte-americano Donald Trump, que tem elevado os custos de insumos e produtos importados, pressionando os preços ao consumidor. Embora o impacto completo das tarifas ainda não tenha se manifestado, já são perceptíveis sinais de repasse, especialmente em setores fortemente dependentes de cadeias globais. O dado pode evidenciar o dilema enfrentado pelo Federal Reserve (Fed): com a atividade econômica em desaceleração — após a contração anualizada do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2025 — e uma inflação em retomada, o espaço para cortes de juros persiste, mas o ritmo tende a ser mais cauteloso do que o inicialmente projetado pelo mercado. A inflação ao consumidor dos Estados Unidos sai nesta terça.
Índice de Preços ao Produtor (IPP) dos EUA deve voltar a subir em abril
Expectativa é de alta de 0,2% após queda de 0,4% em março e estabilidade em fevereiro. Essa possível retomada dos preços na porta de fábrica pode ser um dos primeiros reflexos concretos da nova política tarifária proposta por Donald Trump. A elevação de tarifas tende a encarecer insumos importados, pressionando a cadeia produtiva doméstica. Vale lembrar que o PIB americano já apresentou retração anualizada de 0,3% no primeiro trimestre, impactado, entre outros fatores, pela ampliação das importações antes da vigência plena das tarifas. A elevação do IPP pode indicar um incipiente processo inflacionário, conforme temido pelo Federal Reserve e agentes do mercado. O índice será divulgado na próxima quinta-feira (15).
Vendas no varejo e a produção industrial dos EUA devem registrar avanços modestos em abril
Previsão reforça a percepção de uma economia que, apesar da pressão das novas tarifas, ainda não apresenta sinais de fragilidade generalizada. A contração do PIB no primeiro trimestre gerou alguma preocupação, mas a criação de empregos em abril demonstrou que o mercado de trabalho segue resiliente. Esse cenário, marcado por uma desaceleração pontual combinada com forças setoriais ainda ativas, oferece ao Federal Reserve espaço para postergar o início do ciclo de cortes de juros. Com consumo e atividade industrial ainda em terreno positivo, o Banco Central pode adotar uma postura mais cautelosa enquanto avalia os reais impactos das medidas comerciais. Dito de outra forma, os dados do comércio e da indústria relativos ao mês de abril podem colaborar para que o início do ciclo de cortes de juros se dê apenas na reunião marcada para julho. Ambos os dados serão divulgados na quinta.
Novos empréstimos na China devem desacelerar em abril, refletindo perda de dinamismo da demanda interna
Embora alguns indicadores de atividade sinalizem certa estabilidade, o setor industrial segue pressionado, e a composição da balança comercial evidencia fragilidade no consumo doméstico. Em resposta, o governo chinês tem adotado medidas de estímulo para impulsionar o crédito e a atividade econômica, como a liberação de liquidez ao sistema bancário. Ainda assim, o volume de financiamentos deve permanecer contido no curto prazo. Nesse contexto, a principal preocupação dos mercados é compreender a trajetória da economia na China e, sobretudo, estimar até que ponto o governo asiático estará disposto a intensificar suas políticas de estímulo. O dado será divulgado na próxima quarta.
Expectativa para o PIB da Zona do Euro no primeiro trimestre é de uma alta modesta
Consenso do mercado prevê crescimento de 0,4%. Os PMIs (Índice de Gerentes de Compras) de abril mostram uma economia que ainda respira: os indicadores de serviços (50,1) e composto (50,4) apontam leve expansão, enquanto a indústria segue em retração (49,0). A inflação veio em linha, com alta mensal de 0,6%, e o desemprego permanece estável em 6,2%. Ainda assim, o cenário permanece morno na Zona do Euro. Mesmo que os dados confirmem crescimento, o ritmo continua abaixo do desejável, com a atividade pressionada por juros ainda elevados em 2,40%. Falta tração — e o dinamismo econômico parece distante no curto prazo. Os números saem na quarta-feira.