Renda fixa com tudo: Previ troca BRF (BRFS3) por títulos públicos; veja quais

A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, anunciou que encerrou sua posição na BRF (BRFS3) e está redirecionando o valor recebido pela venda das ações — que somaram cerca de R$ 1,9 bilhão — para os títulos públicos.
Segundo comunicado, as compras estão sendo feitas em papéis de longo prazo, como o Tesouro IPCA+ (ou NTN-B), com taxa média de 7,45% ao ano acima da inflação.
O movimento, de acordo com analistas, reforça a atratividade dos títulos públicos em um momento de juros ainda elevados e incertezas no cenário fiscal.
Para a Previ, a alocação garante um retorno real significativamente superior à meta atuarial do fundo, de 4,75%. Já para o mercado, o gesto sinaliza que a renda fixa voltou a ganhar protagonismo entre os grandes investidores institucionais.
“Essa taxa que a Previ conseguiu é extremamente atrativa. Em termos históricos e internacionais, é um juro real alto demais para ser ignorado. Ele garante poder de compra no futuro e ainda oferece potencial de valorização caso os juros caiam”, avalia Viviane Las Casas, head de renda fixa da Valor Investimentos, em entrevista ao Money Times.
“É como receber um prêmio para assumir um risco-país que, se não se concretizar com tanta força, gera ganho significativo”, afirma.
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Esse aporte de quase R$ 2 bi pode mexer com o Tesouro?
Segundo Viviane, aportes bilionários como o da Previ tendem a pressionar os preços dos títulos, o que eleva as cotações e, de maneira inversa, reduz as taxas dos papéis.
“Um forte aumento de demanda tende a fazer os juros caírem um pouco, beneficiando quem emite os títulos (o Tesouro) e sinalizando condições de financiamento ligeiramente melhores”, avalia.
No entanto, na prática, de acordo com a especialista, o impacto é limitado. Ela explica que o mercado de dívida pública brasileira é muito grande, de modo que R$ 1,9 bilhão representa uma fração pequena desse total.
“Em resumo, é pouco provável que esse aporte isolado mexa nas taxas de forma significativa, já que a precificação do Tesouro é determinada principalmente pelo cenário macroeconômico, como expectativas de Selic, inflação, risco fiscal, e pelo conjunto muito maior de investidores”, ressalta.
Liquidez e efeito sinal
Apesar de não alterar os juros estruturalmente, a movimentação bilionária, em termos de liquidez, gera um volume adicional de negociação no mercado secundário, o que pode facilitar transações.
“Houve um incremento de liquidez pontual quando a Previ realizou as compras, pois vendedores encontraram um comprador de grande porte disposto a absorver R$ 1,9 bi em títulos, algo saudável”, comenta.
Mais importante, porém, é o efeito sinal. A escolha de um dos maiores fundos de pensão da América Latina reforça a tese de que os papéis públicos indexados à inflação são hoje considerados seguros e vantajosos.
“Ver um grande investidor institucional migrando quase R$ 2 bilhões para títulos do governo sinaliza que eles são considerados atrativos, o que pode estimular outros participantes a avaliarem estratégia similar”, avalia.
“A Previ atua de forma técnica e prudente. Quando ela migra da Bolsa para o Tesouro IPCA+ é um termômetro para o mercado”, complementa.
O Tesouro é uma oportunidade?
Com as taxas dos títulos públicos ainda em patamares elevados, especialistas veem espaço para o investidor pessoa física aproveitar a janela atual.
A avaliação é que momentos em que os juros reais ultrapassam 7% ao ano são considerados raros — e, historicamente, costumam entregar retornos superiores ao CDI no longo prazo.
“Ao garantir mais de 7% de ganho anual real, o investidor dobra o capital em cerca de 10 anos. Isso para um papel público, praticamente sem risco de crédito, é bastante vantajoso”, afirma Viviane.
Na visão da especialista, travar hoje IPCA +7,45%, como fez a Previ, é atrativo, pois “oferece um colchão robusto contra a inflação futura e um rendimento real muito acima da média histórica”.