Comprar ou vender?

Privatização: Ação da Copel (CPLE11) ‘frustra’ e anda de lado no primeiro semestre; oportunidade ou furada?

05 jul 2023, 20:30 - atualizado em 05 jul 2023, 20:36
Copel
Mas afinal, por que o papel não disparou? O modelo de privatização desagradou o mercado? Ou a empresa é uma ‘fria’? (Imagem: Copel/Divulgação)

A privatização da Copel, empresa de energia elétrica do Paraná, é uma das mais avançadas do país. Analistas acreditam que a estatal irá concluir seu processo de venda até o final do ano. Porém, engana-se quem acredita que o papel tenha seguido o mesmo ritmo na bolsa. No primeiro semestre, a ação preferencial classe B (CPLE6) subiu 6,28%, a R$ 8,12, enquanto as Units (CPLE11) tiveram alta de 10%.

Veja no gráfico a seguir:



Mas afinal, por que o papel não disparou? O modelo de privatização desagradou o mercado? Ou a empresa é uma ‘fria’?

Para analistas que conversaram com o Money Times, nem uma coisa nem outra. Acontece que o governo estadual, tocado pelo governador Ratinho Junior, estabeleceu um ‘preço de tela’ alto, explica o gestor Gustavo Henrique Fabricio, da RPS Capital. Ele diz que, para o investidor, é melhor esperar o processo ocorrer primeiro para comprar o papel.

“O estado tem falado que vai fazer a privatização próximo ao valor de livro, que é R$ 8, ação que está na tela agora. Então qual é a cabeça de quem vai alocar o capital? Se vai ter uma oferta a R$ 8, e o papel está R$ 7,7, se eu comprar agora corro o risco de não ter oferta por algum motivo, ou o governo desiste ou o mercado, e aí com isso a ação cair. Então por que vou comprar a R$ 7,7 se eu posso comprar na oferta a R$ 8?”, explica.

Ricardo Schweitzer, CEO da consultoria que leva o seu nome, vê outras incertezas que fazem investidores pensarem duas vezes antes de comprar a ação da companhia.

“Há a pendência da validação pelo TCU do valor das outorgas para renovação das concessões das hidrelétricas de Foz do Areia, Segredo e Salto Caxias – são R$3,7 bilhões. Tais renovações são bastante importantes no contexto da Copel privatizada”, discorre.

Na avaliação dele, para o investidor ganhar mais confiança, é necessário o “ok” do TCU em relação às renovações de concessões e ao rito adotado no processo de privatização como um todo, além da preservação das regras do jogo no caso da Eletrobras (ELET6) e/ou da construção de um arcabouço legal alternativo na Copel que mitigue os riscos de “reestatização branca” da empresa.

Na semana passada, inclusive, o PT havia entrado com Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal, com o objetivo de frear o processo da Copel. Porém, nesta quarta-feira, o ministro Roberto Barroso negou a liminar de urgência.

Modelo da Copel é bom?

O modelo adotado pelo governo do Paraná se assemelha ao da privatização da Eletrobras. A operação passa por três pontos:

  • unificar as ações em uma única classe ordinária e adequar o estatuto social e migrar para Novo Mercado da B3;
  • promover um relevante aumento de capital, que diluiria a participação do Estado do Paraná;
  • e limitar, por meio de dispositivos estatutários, o poder de voto do estado do Paraná a 10% do total (contra uma participação estimada em 15%);

“A meu ver, caso a solução jurídica “pare em pé”, é um bom modelo para a empresa”, explica Schweitzer.

Já o gestor da RPS diz o modelo não é o melhor, mas é aceitável.

“O melhor modelo seria a venda completa. Só que esse modelo tem sido adotado, vide a Eletrobras que a gente tem uma corporation. O Estado fica minoritário para não ter o discurso que vendeu toda a empresa, capturando parte do ganho. O ótimo é inimigo do bom”, observa.

O que fazer com Copel?

Segundo Schweitzer, nos níveis atuais de preço, Copel parece barata. “A depender do desfecho dos esforços de privatização, a empresa pode chegar ao final de 2023 com um balanço forte, flexibilidade de gestão e ótimo posicionamento competitivo. Existem riscos, mas o retorno potencial parece bom”, coloca.

Na semana passado, o Bank of America havia elevado o preço-alvo da companhia para “compra”, bem como o preço-alvo das Units, que passou para R$ 51, o que implica um potencial de valorização de 31,3% sobre o último fechamento.

Três fatores explicam a mudança de rating: além do valuation atrativo (descontada em relação aos pares, com taxa interna de retorno real de 11,5% vs. aproximadamente 10%) e do bom momento após os últimos resultados, existe a opcionalidade da privatização.

Segundo o banco, existe um risco de alta de cerca de 20% em relação ao cenário-base do processo de privatização da companhia, que pode ser concluído nos próximos meses.

O Safra é outra instituição otimista com a companhia, apesar de alguns possíveis entraves, como as perspectivas do mercado de capitais, o cenário macro e as discussões regulatória.

“Vemos uma alta probabilidade do processo de privatização, com conclusão prevista para o ano de 2023”, prevê. A recomendação é outperform, ou desempenho acima do mercado, com preço-alvo de R$ 11,3 para CPLE6.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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