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Privatizar a Petrobras é, mesmo, possível? E a gasolina ficaria mais barata? Eis as repostas de alguns dos maiores especialistas no assunto

20 dez 2021, 8:00 - atualizado em 20 dez 2021, 14:51
Petrobras
É possível privatizar a Petrobras? Elena Landau e Guilherme Affonso Ferreira defendem que privatização pode sair do papel (Imagem: REUTERS/Sergio Moraes)

Nos últimos meses, a privatização da Petrobras (PETR3; PETR4) voltou com força às manchetes, reacendendo a velha e ruidosa polêmica sobre o tema. Com a alta do preço do combustível, o presidente Jair Bolsonaro mostrou-se a favor de fatiar a companhia para então privatizá-la. Além disso, Bolsonaro tem criticado com frequência a distribuição de dividendos da Petrobras a seus acionistas.

Com um valor de mercado de cerca de R$ 400 bilhões, a venda de uma das maiores petrolíferas do mundo levanta uma série de questões. É possível privatizar a Petrobras? Qual seria o modelo ideal? A privatização da companhia irá, de fato, resolver o problema que o presidente critica quando toca no assunto: a alta nos preços dos combustíveis no país?

Segundo divulgado pela Bloomberg, um integrante do governo afirmou que levar a empresa ao novo mercado será bom para a estatal, que terá ações mais valiosas e uma melhor governança. Entretanto, resolver o que afeta direto no bolso dos brasileiros ainda exige um longo caminho.

 

 

Qual seria o modelo de privatização mais adequado para a Petrobras?

Para Ferreira, “vender a Petrobras em pedaços” é o modelo de privatização mais apropriado, pois, desta forma, a companhia não precisa de autorização do Congresso. “Do ponto de vista pragmático, é muito mais inteligente seguir este caminho, do que tentar enfrentar a privatização da Petrobras como um todo”, completa.

Landau também defende que tirar a Petrobras do monopólio estatal para passar para um monopólio privado não seria o modelo ideal para a companhia.

“A Petrobras já está em um processo de desverticalização e venda de ativos, que foi imposto pelo Cade e pelo Ministério Público. Se não tivesse sido imposto por esses órgãos, a Petrobras jamais abriria mão do seu monopólio — que é mais um problema de ser estatal”, afirma Landau.

Nos últimos anos, a Petrobras tem trabalhado na comercialização de grande parte de sua produção, as refinarias. Em junho de 2019, a companhia já anunciava seu plano de vender oito de suas 13 refinarias, responsáveis por cerca de 50% da capacidade brasileira de produção de combustíveis.

Segundo o antigo presidente da companhia, Roberto Castello Branco, o objetivo do plano é “ampliar o mercado de refino brasileiro, em busca de mais investimentos e competição”, além de “encerrar processo de abuso de poder econômico no mercado de combustíveis”.

Até agora, a companhia concluiu a venda de duas de suas refinarias, a Landulpho Alves, na Bahia, que foi comprada pelo fundo árabe Mubadala, e a Isaac Sabá, no Amazonas, adquirida pela distribuidora de combustíveis Atem’s.

Outras duas negociações seguem em andamento e as três restantes foram suspensas, afirmou a companhia.

Petrobras ainda divulgou que planeja vender campos de petróleo menos rentáveis em 2022 e manter políticas de mercado, mesmo com o provável debate sobre a independência da estatal em um ano de eleições.

Observando as movimentações da companhia, o ex-conselheiro da Petrobras afirma que a companhia já caminha para um processo de privatização, sem criar alarde no mercado.

Quais empresas comprariam as partes da Petrobras?

Gasolina
Ultrapar, Cosan e Raízen sairiam na frente na compra de partes da Petrobras? (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Segundo Eduardo Cavalheiro, gestor de fundos da Rio Verde Investimentos, em relação às refinarias, a tendência é que as próprias distribuidoras de combustíveis entrem nesse ramo. “Nos Estados Unidos, por exemplo, quem tem rede de postos tem refinarias também. Então, seria um caminho natural”, completa

O gestor ainda ressalta que, nas últimas divulgações de venda da Petrobras, as empresas que se mostraram interessadas e que podem adquirir essas partes foram a Ultrapar (UGPA3) — dona da Ipiranga —, a Cosan (CSAN3) e sua controlada Raízen (RAIZ4), que opera a bandeira Shell no Brasil.

Chambriard, ex-ANP, alerta que na disputa pela compra da Petrobras, independentemente do modelo, a companhia poderia sair de mãos brasileiras. “Eu não tenho dúvida que as empresas brasileiras perderiam essa disputa. Para quem a Petrobras seria vendida no país? Com certeza, esse comprador não seria brasileiro”, completa.

Quais os impactos de uma Petrobras privatizada?

Investimentos

Landau afirma que, com a privatização, a Petrobras receberá maiores investimentos e terá mais capital para investir em inovações do mercado.

“Na mão do setor privado, talvez, a Petrobras tenha mais dinheiro para fazer investimentos na transição energética, assim como várias outras empresas de óleo e gás estão fazendo, compondo o seu portfólio com renováveis e com outras atividades de redução de carbono”, completa.

Competição

Além da questão de investimentos, Landau, Ferreira e Cavalheiro destacam que a privatização traria uma maior competição em termos de preço, pois tiraria o monopólio da Petrobras nos setores que atua, afetando o preço final que chega ao consumidor.

O ex-conselheiro da Petrobras ainda reforça que tal competição traria maior eficiência para os setores. “As companhias que já estão envolvidas na distribuição de petróleo e gás e na transmissão de energia no Brasil querem e precisam se posicionar. Um regime de livre de competição, que resulta em acabar com monopólio da Petrobras, afeta todo mundo e essas empresas estão se posicionando bem”.

Landau também afirma que todo setor se beneficia desse movimento. “[Com a privatização,] você não fica na mão de um monopolista. No mercado, o monopolista é quem decide se vai fornecer gás para termelétrica ou não e as prioridades do setor”, diz.

Editora-assistente
Editora-assistente no Money Times e graduanda em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Entrou para a área de finanças e investimentos em 2021.
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Editora-assistente no Money Times e graduanda em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Entrou para a área de finanças e investimentos em 2021.
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