Agronegócio

Produtores veem mercado do boi igual a biruta de aeroporto

20 dez 2019, 16:57 - atualizado em 20 dez 2019, 17:27
Carnes Boi Commodities
Mercado interno fraco e importações chinesas mais frouxas estariam gerando mais confusão no mercado (Imagem: Reuters/Paulo Whitaker)

Em um dia, o boi Cepea/Esalq despencou de R$ 223,75 para R$ 204,30, mantendo a gangorra que o caracteriza nos últimos dias, com esses saltos desproporcionais para muita gente no mercado. É praticamente senso comum que ninguém está entendendo, enquanto os negócios em São Paulo, por exemplo, estão reportados entre R$ 195,00 e R$ 205,00 a @ desde quando o indicador ficou nesse sobe de um dia a 3,37% (18) e desce no outro 8,69% (ontem).

Parece biruta de aeroporto, brincam. As opiniões estão entre vendas mais fracas para China e mercado interno, além de especulações em momento atípico vivido pela pecuária de corte.

Se for olhado em detalhes, como lembra Walter Magalhães, produtor e consultor em mercado futuro, as máximas e mínimas informadas à instituição dão a dimensão dessa confusão.

Mais de dois dias as máximas ficaram em R$ 229,00. E nesta quinta teve mínimas de R$ 170,00. Boi de quase R$ 230,00 com importações da China e mercado interno mais afrouxados é mosca branca.

“A R$ 170, então, é brincadeira. Só pode ter sido boi a termo (contratado antes)”, acentua Magalhães. Por si só já confirmaria a “estrutura equivocada do Cepea”, ou seja, que deve tratar de negócios fechados a cada dia.

Mas ele está mais propenso a aceitar que o mercado está altamente especulativo, com “ações de frigoríficos com força suficiente para interferirem no mercado”. Inclusive, segundo pensa, com foco na B3. Segundo o produtor de Ribeirão Preto e com propriedade em Dourados (MS), o indicador, que serve de parâmetro oficial para o mercado futuro, “deveria estar abaixo da Bolsa”.

Sem justificativa

Em Barretos, Juca Alves adianta que o Minerva (BEEF3) reabriu compras apenas de novilhas China – e não vê negócios nas outras unidades de abates do Norte paulista de boi acima de R$ 200,00. E com poucas transações.

As escalas estão curtas por falta de boi para valer mesmo ou porque os compradores estão segurando preços aproveitando a demanda mais fragilizada em dezembro inteiro?

Como esse é o assunto dos últimos dias, como se justifica que o indicador ‘oficial’ foi de R$ 216,45 (17), bateu em R$ 223,00?

A queda de ontem, de quase R$ 20,00, deixou mais ainda o produtor sem referência, mesmo se se somar, às vendas mais lentas, algumas unidades já desacelerando para férias coletivas e as escalas curtas de 3 a 3,5 dias. “Cada dia é de um jeito, mas vamos ver se em janeiro os frigoríficos vão fazer escalas”, destaca Francisco Brandão, vice-presidente do sindicato rural de Araçatuba e região.

O quadro em outros estados não difere muito de São Paulo, influenciado pela falta de certezas sobre o ambiente de negócios.

Em Aquidauna (MS), o produtor Frederico Stella acredita que não haja sobra de boi e pensa mesmo que é o mercado interno está travando e a China que “está tentando renegociar preços e não quer mais pagar os 30% adiantado”. Mas ele complementa que também não tem certeza, o que confirma a confusão desse setor.

Um diretor de frigorífico recém-habilitado para a China, que pediu anonimato, inclusive sobre a localização da sua empresa, acredita, sim, que o país asiático embaralhou o jogo, “inclusive com contratos fechados com preços aquém dos que estavam negociados antes”. Os chineses, segundo pensa, estão mais confortáveis com outros fornecedores mundiais flexibilizando mais que os brasileiros, embora não possuam a oferta daqui.

E o consumo doméstico também colabora.

Para Marcelo Marcondes, do Vale do Araguaia, nos últimos dias a China também teria saído das compras por conta dos feriados locais, de acordo com informações passadas pelo comprador do JBS da região goiana.

Mas também não tem boi de pasto em volume, como também registra Walmir Coco, do Sindicato Rural de Alta Floresta (MT).

 

Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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