Leilões

Quadro saqueado pelos nazistas na guerra se torna 2ª obra mais cara da história; conheça

25 nov 2025, 15:34 - atualizado em 25 nov 2025, 15:34
Pintura de Gustav Klimt retrata jovem herdeira de família judia; obra foi roubada pelos nazistas em 1938 e devolvida somente dez anos depois
Pintura de Gustav Klimt retrata jovem herdeira de família judia; obra foi roubada pelos nazistas em 1938 e devolvida somente dez anos depois

Quase dois metros de altura, cores vibrantes e um fundo cheio de referências à arte chinesa. No centro, uma jovem judia de olhar marcante, envolta em um manto imperial branco. A composição impressiona à primeira vista — e pode até ajudar a justificar seu valor. Mas a importância desta obra vai muito além da estética.

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O Retrato de Elisabeth Lederer (1914–1916) é uma obra de Gustav Klimt, renomado artista austríaco conhecido principalmente por sua obra O Beijo (1907–1908). Na semana passada, o retrato atraiu todos os holofotes no mundo da arte ao ser leiloado por US$ 236,4 milhões — o equivalente a mais de R$ 1,25 bilhão.

Assim, o Retrato de Elisabeth Lederer se tornou a segunda obra de arte mais cara já leiloada na história, perdendo apenas para Salvator Mundi, quadro de Leonardo da Vinci vendido em 2017 por US$ 450 milhões (mais de R$ 2,4 bilhões de reais na cotação atual).

Mas foi por pouco que a tela de Klimt não teve um destino trágico. Isso porque ela foi uma das milhares de obras de arte vítimas da pilhagem nazista, isto é, do roubo sistemático de arte e bens culturais praticado pelo regime de Hitler antes e durante a Segunda Guerra Mundial. 

O mesmo pode se dizer em relação a Elisabeth Lederer, a musa judia da obra, que precisou reescrever a sua própria história para ter a chance de sobreviver em Viena. 

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Retrato de Elisabeth Lederer, de Gustav Klimt. Fonte: Reprodução WikiCommons
Retrato de Elisabeth Lederer, de Gustav Klimt. Fonte: Reprodução WikiCommons

O que aconteceu com Elisabeth Lederer e seu retrato

O Retrato de Elisabeth Lederer foi encomendado em 1914 pelo casal August e Szerena Lederer para eternizar sua única filha, Elisabeth. Aqui, estamos falando de uma das famílias mais ricas de Viena, que tinha um catálogo notável de obras de arte — muitas delas do próprio Gustav Klimt, inclusive, que era próximo da família (guarde essa informação). 

A tela, finalizada em 1916, foi considerada símbolo da “era de ouro” da cultura de Viena e reafirmava o prestígio da família dentro da elite da cidade. O quadro foi colocado na sala da mansão Lederer, e ficou lá, em posição de destaque… Até 1938, quando a cidade foi invadida pelos nazistas e a Áustria foi incorporada ao Terceiro Reich.

A maioria das obras dos Lederer foi confiscada pelos nazistas — com exceção daquelas consideradas “judias demais para serem roubadas”. Posteriormente, foram levadas para o Castelo de Immendorf, onde os nazistas abrigavam as obras de arte apreendidas. 

Enquanto isso, fora das telas 

Mesmo diante da tomada dos nazistas na Áustria, Elisabeth Lederer se recusou a fugir de Viena. 

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Seu cenário era delicado: Elisabeth era uma mulher judia que se encontrava sozinha. Divorciada, seu único filho havia morrido ainda jovem. Seu pai havia morrido anos antes. E sua mãe fugira para sobreviver à perseguição nazista, assim como seus demais parentes.

Foi então que, em 1939, Elisabeth recorreu a uma estratégia nada convencional: alegou ser filha ilegítima de Gustav Klimt, e portanto, “portadora de seu sangue ariano”. 

Gustav Klimt, em 1917
Gustav Klimt, em 1917. Reprodução

A narrativa “fazia sentido”: quando vivo, o pintor tinha várias amantes e recebia a fama de “mulherengo”. Além disso, Klimt tinha uma forte ligação com a família Lederer, sendo Elizabeth uma de suas musas.

Sua mãe, Serena Lederer, chegou a assinar um documento reconhecendo a paternidade de Klimt —  e os nazistas “compraram” a ideia, o que garantiu certa proteção a Elizabeth até 1944, quando morreu devido à complicações de saúde, aos 48 anos.

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De volta ao seu retrato e à sua (quase) destruição

Em 1945, as tropas nazistas se retiraram da Áustria — mas sem antes colocarem fogo no Castelo de Immendorf

O objetivo? Garantir que as obras de arte jamais caíssem nas mãos dos Aliados. Estima-se que 140 obras de arte foram perdidas nesse desastre, incluindo onze obras do acervo dos Lederer, sendo várias de Gustav Klimt. 

Porém, o Retrato de Elisabeth Lederer não foi uma delas. Afinal, os nazistas não tinham interesse em exibir publicamente uma musa judia no Castelo. Paradoxalmente, foi esse pensamento que manteve o quadro a salvo da destruição. 

Além dele, escaparam do incêndio o retrato de Serena Lederer, também pintado por Klimt, e o retrato do meio-irmão de Elisabeth, Erich Lederer, de Egon Schiele.

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Os 3 retratos da família Lederer que sobreviveram ao incêndio. Da esquerda para a direita: Retrato de Elisabeth Lederer e Retrato de Serena Lederer, de Gustav Klimt; e o Retrato de Erich Lederer, de Egon Schiele. Reprodução
Os 3 retratos da família Lederer que sobreviveram ao incêndio. Da esquerda para a direita: Retrato de Elisabeth Lederer e Retrato de Serena Lederer, de Gustav Klimt; e o Retrato de Erich Lederer, de Egon Schiele. Fonte: Reprodução

Em 1948, o Retrato de Elisabeth Lederer foi encontrado e devolvido a Erich Lederer, permanecendo com ele por toda a vida.

Depois, passou a fazer parte da coleção privada do bilionário Leonard A. Lauder, herdeiro da Estée Lauder, até a sua morte, em junho.

Agora, em 2025, o retrato voltou ao mercado internacional e fez história, entrando para o grupo das pinturas mais valiosas do mundo.

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Redatora do Money Times
Jornalista formada pela Universidade de São Paulo (ECA-USP) e redatora para os portais Seu Dinheiro e Money Times
leticia.pinheiro@empiricus.com.br
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