Coluna
Coluna da Renata Spallicci

Qual o limite ético para a inteligência artificial?

12 jul 2023, 14:09 - atualizado em 12 jul 2023, 14:09
Volkswagen
“Assim que a propaganda foi ao ar, a polêmica surgiu na mesma proporção da admiração pela beleza do filme publicitário”, discorre a colunista (Imagem: Reprodução/Volkswagen)

Confesso para vocês que achei a campanha da Volkswagen com o dueto entre Maria Rita e o avatar de Elis, falecida há 41 anos, criado por inteligência artificial, algo lindo, sensível e de arrepiar.

Até porque o próprio produto, a Kombi, traz uma série de memórias afetivas para nós, brasileiros, e isso, associado à bela música de Belchior, são daqueles ingredientes fáceis para nos emocionar e nos envolver.

Dito isso, precisamos, sim, discutir e analisar os limites da Inteligência artificial na publicidade, nas artes e em todos os aspectos de nossa vida!

Assim que a propaganda foi ao ar, a polêmica surgiu na mesma proporção da admiração pela beleza do filme publicitário.

Afinal, será que é certo utilizarmos a imagem de uma pessoa morta em um anúncio? Se houve autorização da família, e se imagina que sim, uma vez que a própria filha estrela a campanha, esse termo é o suficiente eticamente? E como fica a linha entre ficção e realidade?

Todos esses pontos serão analisados pelo CONAR – o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária que abriu um processo ético para investigar a propaganda.

Consumidores questionaram a ética do uso da IA para “trazer à vida” uma pessoa falecida e levantaram preocupações sobre a autorização do uso da imagem de Elis pelos herdeiros.

A Volkswagen também é questionada por associar a imagem da cantora, uma artista que lutou contra a ditadura militar, a uma empresa que há indícios de que tenha colaborado com o regime.

O CONAR vai analisar se o uso da IA confundiu o público sobre o que é ficção e realidade, especialmente entre os mais jovens, que podem não estar familiarizados com a trajetória de Elis Regina.

Como vivemos em um período de polarização, o tema causou rebuliço nas mídias sociais. Há aqueles que defendam incondicionalmente a liberdade criativa, e, na outra ponta, os que se posicionam totalmente contra o uso da IA para esses fins.

Para mim, acho saudável que essa discussão seja colocada à mesa para a sociedade; afinal, o tema da IA é extremamente novo e, certamente, ainda passaremos por muitos dilemas éticos que teremos de resolver juntos.

Atuando como vice-presidente em uma indústria farmacêutica, venho estudando e me encantando com tudo aquilo que a Inteligência artificial poderá ser capaz de fazer em um futuro próximo.

Desde a identificação e diagnóstico de doenças até a descoberta e fabricação de medicamentos, a IA tem se mostrado essencial em diversas áreas da saúde.

Por meio de aplicativos de inteligência aumentada, podemos diagnosticar doenças de forma mais precisa e precoce, identificar pacientes para ensaios clínicos, otimizar a fabricação de medicamentos e realizar previsões preditivas. Essas tecnologias têm se mostrado extremamente valiosas.

A descoberta e fabricação de medicamentos também têm se beneficiado significativamente da IA. Com a triagem inicial de compostos, podemos prever com maior precisão a taxa de sucesso de novos medicamentos com base em fatores biológicos.

Ademais, a medicina de precisão e o sequenciamento de próxima geração permitem a descoberta mais rápida de medicamentos personalizados, adaptados às necessidades específicas de cada paciente.

A previsão preditiva é outro campo promissor. Com a ajuda da IA, podemos monitorar e prever surtos epidêmicos e doenças sazonais em todo o mundo.

Essas tecnologias são fundamentais para o planejamento adequado da cadeia de suprimentos, garantindo que os medicamentos estejam disponíveis no momento e na quantidade certa.

Os ensaios clínicos também se beneficiam da IA e do ML. Por meio dessas tecnologias, podemos identificar os candidatos mais adequados para participarem de ensaios clínicos, levando em consideração o histórico médico, as condições da doença e outros atributos relevantes, como taxas de infecção, dados demográficos e etnia.

Mas, certamente, assim como os avanços são inúmeros, há questões éticas que também surgirão e que precisaremos regulamentar.

A referida propaganda da montadora alemã é apenas a ponta de uma extensa discussão que precisamos fazer como humanidade. Afinal, por mais que a tecnologia avance ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.

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Vice-presidente executiva da Apsen Farmacêutica, escritora e mentora. À frente do laboratório fundado por seus avós há mais de 50 anos e no qual atua desde 2003, Renata graduou-se em Engenharia Química pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), especializou-se em Finanças, fez MBA para CEOs na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Como escritora possui dois livros publicados.
renata.spallicci@moneytimes.com.br
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Vice-presidente executiva da Apsen Farmacêutica, escritora e mentora. À frente do laboratório fundado por seus avós há mais de 50 anos e no qual atua desde 2003, Renata graduou-se em Engenharia Química pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), especializou-se em Finanças, fez MBA para CEOs na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Como escritora possui dois livros publicados.
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