‘Quando a gente acha que o Brasil vai virar a Venezuela, é hora de comprar’, diz gestor da Lifetime

O Brasil foi um dos principais beneficiados pela rotação de alocação dos investidores gringos em meio às incertezas sobre a economia dos Estados Unidos e mesmo com a entrada de mais de R$ 20 bilhões de capital estrangeiro no primeiro trimestre, o mercado local segue “barato”.
“No final do ano passado, a gente vinha precificando muito o fim do mundo e agora o Brasil está muito barato, seja na operação de renda fixa, de câmbio de carry trade, seja na bolsa”, disse Lucas Tambellini, gestor de renda variável da Lifetime Investimentos durante o evento Onde Investir no 2º Semestre de 2025, promovido pelo Seu Dinheiro com apoio do Money Times.
Segundo ele, os estrangeiros têm observado isso há algum tempo — diferentemente do investidor local.
“O gringo é muito pragmático. Ele olha para cá e vê a que a bolsa brasileira foi a pior entre os mercados emergentes no ano passado, tem uma taxa de juros a 15% ao ano e que o Brasil tem uma reserva de mais de R$ 300 bilhões. Ele entende o risco, mas também entende que tem um upside”, afirmou o gestor da Lifetime.
Para o gestor da Lifetime, o movimento de rotação do dinheiro global e a entrada de capital ainda deve permanecer nos primeiros meses do segundo semestre com as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e os seus efeitos no radar.
Mas quando saber que é hora de comprar Brasil?
“Quando a gente acha que o Brasil vai virar a Venezuela, é hora de comprar. Já quando o Brasil virou a Alemanha, é hora de vender”, afirmou Tambellini, da Lifetime.
Segundo o gestor, o país também tem um diferencial em relação aos mercados emergentes.
“Quando os investidores vão comprar mercados emergentes, eles sempre pensam em crescimento. Esse não é o caso agora porque já estamos falando em PIB global sendo revisado para baixo e não há um ‘superciclo’ das commodities. Mas no caso do Brasil, o nosso país é muito mais valor que crescimento”, destacou o gestor.
Além disso, o Brasil não deve enfrentar “surpresas” no cenário macroeconômico neste segundo semestre.
“Acho que as coisas estão relativamente dadas: PIB vai crescer cerca de 2%, a Selic deve ficar em 15% e cada vez que a gente se aproximar de 2026 haverá mais clareza de quem são os candidatos” para a presidência.
O gestor ainda afirma que “sempre vai existir o fantasma da inflação” e também não desconsidera o cenário fiscal brasileiro. Mas, para ele, o Congresso não deve permitir “cavalos de pau” na economia.
“O Congresso é muito mais relevante do que há 15 anos. Agora, vimos algumas derrotas importantes do governo dentro do Congresso em relação a aumento de imposto. Então, eu tenho pouco medo de algo que seja muito disruptivo”.
“Não quer dizer que não vai ter volatilidade. Mas tudo que é importante é lei e lei precisa do Congresso. Eu não vejo o congresso ‘ok’ em fazer qualquer tipo de cavalo de pau muito grande faltando um ano e meio para a eleição”, acrescentou.
De olho no exterior
Para Tambellini, pouca coisa deve mudar no cenário doméstico no curto prazo. O exterior, por sua vez, continua a ser o “grande fator” de incertezas, principalmente, em relação aos Estados Unidos.
“O [presidente norte-americano, Donald] Trump tem imprimido uma velocidade de incertezas maior do que o mercado esperava”, afirmou o gestor durante o Onde Investir.
“A guerra comercial já estava na mesa, mas o que está assustando [o mercado] é a intensidade das mudanças.”
Na visão do gestor, no cenário atual é muito difícil prever como a inflação norte-americana deve se comportar nos próximos meses e, principalmente, como o Federal Reserve (Fed) deve atuar para equilibrar os preços. “O [presidente do Fed, Jerome] Powell ainda não sabe o que vai fazer”, disse.
Mesmo com o cenário incerto, não alocar capital nos EUA pode ser um grande erro para o investidor. “Acho que quem não tem Estados Unidos, tem que ter. De modo geral, a gente recomenda um percentual de 20% a 30% do total dos investimentos. Não dá para apostar contra.”
Como montar a carteira
Uma boa alocação está focada no médio e longo prazos com posições em renda fixa, renda variável, investimentos alternativos, além de posições dolarizadas, segundo o gestor da Lifetime.
“O primeiro passo é que um investidor precisa fazer é sair da zona de conforto da Selic de 15% para não perder uma oportunidade lá na frente e o segundo é importante olhar uma estratégia para 2 ou 3 anos e tentar começar a fazer [as alocações] aos poucos”, disse Lucas Tambellini.
“Hoje dá para montar uma carteira bem diversificada. Essa é a vantagem de estar tudo muito barato. Hoje você não precisa ficar tomando muito risco para fazer uma carteira”, acrescentou.
Considerando uma carteira moderada com alocações no Brasil e no exterior, o gestor recomenda a alocação de entre 10% a 15% em títulos de renda fixa com liquidez diária — como fundos de DI (contratos de Depósitos Interfinanceiros). Essa “fatia” é, segundo ele, estratégica para acompanhar rápidas mudanças no cenário.
“É preciso ter liquidez nesse mar de incertezas que a gente ainda está navegando, principalmente em relação ao exterior.”
A segunda “fatia” é a alocação em títulos pré-fixados. Na Lifetime, hoje a recomendação é na faixa de 12,5% a 15%, considerando ainda a carteira mais moderada.
O gestor também recomenda cerca de 30% de títulos são indexados à inflação. No total, a renda fixa “ocupa” entre 70% e 80% da carteira de investimentos de um investidor com perfil moderado — nem tão conservador e nem tão agressivo.
A parcela restante, entre 30% e 20% da carteira, devem ser alocados em multimercados e ações. “A posição em renda variável ainda é relativamente tímida, mas existe: no perfil moderado ela é de 7,5%”, afirmou Lucas Tambellini, gestor de renda variável da Lifetime no Onde Investir.