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Quase mil hotéis foram inaugurados nas Américas durante a pandemia

17 ago 2020, 15:27 - atualizado em 17 ago 2020, 15:27
Hotel
É uma situação tenebrosa para quem está abrindo qualquer tipo de negócio, ainda mais se for associado a custo fixo elevado e enormes dívidas subjacentes (Imagem: Pixabay)

O novo hotel White Water, na costa central da Califórnia, tem muito a seu favor: localização em uma praia cheia de pedras-da-lua, quartos espaçosos, decoração de inspiração escandinava, criada pela badalada designer Nina Freudenberger, de Los Angeles.

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E o que vai contra o empreendimento? Apenas o colapso mundial da indústria hoteleira.

O White Water é um dos milhares de hotéis que já foram ou serão inaugurados em plena pandemia da Covid-19. De acordo com a empresa de dados STR, especializada no setor, as taxas de ocupação caíram para menos de 30% em toda a Europa em março.

Nos EUA, números da M3, empresa de contabilidade focada em hotéis, mostram que a ocupação dos estabelecimentos do país diminuiu pela metade, embora os preços das diárias tenham diminuído. O quadro é parte de uma recessão que, segundo cálculos apresentados pelo Fundo Monetário Internacional em junho, causará US$12,5 trilhões em perdas globais, quase 5% do PIB mundial.

É uma situação tenebrosa para quem está abrindo qualquer tipo de negócio, ainda mais se for associado a custo fixo elevado e enormes dívidas subjacentes.

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Ainda assim, a rede Hilton abriu 60 novos hotéis no mundo no segundo trimestre, enquanto a Marriott estreou 163 propriedades — incluindo quatro Ritz-Carltons — desde o início do ano.

Mesmo hotéis independentes e inexperientes estão seguindo adiante. Os donos da marca de cosméticos Fresh abriram seu primeiro negócio no ramo este mês: o Maker Hotel, com 11 quartos, no Vale do Hudson, estado de Nova York. A Nobu Hotels ampliou seu portfólio em um terço nos últimos meses, com novas propriedades em Chicago, Londres e Varsóvia.

A PRG Hospitality Group, que possui oito hotéis boutique na Califórnia, incluindo o White Water, está prestes a inaugurar o segundo estabelecimento do verão.

De acordo com o website Tophotelnews, existe programação para inaugurar mais 775 hotéis em todo o continente americano até o final de 2020.

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Soa contraintuitivo, uma vez que as viagens estão praticamente paralisadas. Mas para quem é do ramo, faz sentido.

Longe demais

Para muitos hotéis novos, a decisão de abrir consumiu milhões de dólares e anos de trabalho. Inaugurar é a última etapa de um processo muito caro e muito longo. Chega a ser inevitável.

“Em um projeto típico de hotel, desenvolver e abrir leva de dois a cinco anos”, diz Sean Hennessey, consultor e professor da Faculdade de Hotelaria Jonathan M. Tisch da Universidade de Nova York.

Incluindo o terreno, o custo de construção pode variar de vários milhões de dólares para um hotel econômico a bilhões para um empreendimento luxuoso. E a manutenção de um edifício acabado exige pessoal que pode ser alocado para atender hóspedes pagantes.

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Portanto, adiar operações sai caro. “Mesmo sem sucesso no lançamento, um projeto concluído é muito mais valioso do que um que estiver 80% concluído”, acrescenta Hennessey. “É preciso pular no fogo e torcer.”

Para hotéis de luxo, empatar significa muitas coisas. Com 50% de ocupação, uma propriedade geralmente tem fluxo de caixa suficiente para a folha de pagamento, supondo que as diárias permaneçam estáveis.

Uma ocupação de 70% proporciona retorno saudável sobre o investimento. De acordo com a STR, a taxa de ocupação dos hotéis nos EUA estava abaixo de 43% em junho.

Ainda assim, inaugurar dá aos hotéis uma chance de cobrir despesas permanentes como impostos, seguros, alguns salários de gestores, segurança, manutenção e eletricidade, que precisam ser pagos mesmo se a propriedade estiver fechada.

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É também uma chance de conquistar clientes locais. É este o raciocínio da rede Rocco Forte, que em setembro terá reaberto todos os 13 hotéis cinco estrelas que já operava pelo mundo e irá adiante com três inaugurações

“Meu negócio terá uma saída de US$ 55 milhões, enquanto normalmente tenho uma entrada de US$ 35 milhões”, diz o presidente Rocco Forte. Segundo ele, operar restaurantes ao ar livre enquanto o clima ainda está agradável — como o restaurante no jardim do Hotel de Russie, em Roma — compensa um pouco a fraqueza das operações de pernoite e exige bem menos funcionários. “Para muitas pessoas no setor, é questão de sobrevivência.”

Geografia importa

Localização, oferta, demanda, endividamento, moral da equipe, flexibilidade e fatores adicionais também influenciam a decisão sobre se e quando abrir.

“É uma história de duas áreas — urbana versus não urbana”, diz o cofundador da PRG, Britten Shuford. No negócio dele, a taxa de ocupação atingiu 80% no Cambria Beach Lodge, ideal para surfistas, e 20% em Los Angeles, onde fica seu Prospect, que permanece fechado em Hollywood.

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Desde a reabertura em junho, seu Sands Hotel & Spa, propriedade de design moderno no Vale de Coachella, também na Califórnia, teve aumento de 50% no movimento em relação ao ano passado. O quadro deu a Shuford confiança de que o White Water e o San Luis Creek Lodge, que foi inaugurado em agosto na cidade costeira de San Luis Obispo, iriam se firmar.

O público-alvo também faz diferença. Phil Cordell supervisiona a Canopy, marca da Hilton de hotéis urbanos, elegantes e amigáveis. Nove unidades foram abertas este ano, ampliando o portfólio em 75%, incluindo Filadélfia e a capital Washington.

Mesmo nas cidades grandes, ele acha que a marca Canopy pode atrair viajantes que têm ajudado o setor neste verão no Hemisfério Norte: gente que viaja de carro, indivíduos que viajam sozinhos a negócio e pessoas que passam longas temporadas de férias.

“Estamos indo adiante com todas as inaugurações que estavam programadas para este ano”, diz Cordell.

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Calculando o risco

Abrir um hotel não precisa ser tudo ou nada. Um caso emblemático é o do Maker Hotel, em Hudson, cidadezinha onde os nova-iorquinos passam fins de semana. O empreendimento é uma parceria de Lev Glazman e Alina Roytberg, fundadores da marca de cosméticos Fresh, e do especialista em hotelaria Damien Janowicz.

Eles demoraram três anos e meio para reformar, restaurar e juntar três edifícios históricos em um. A propriedade foi aberta gradualmente — primeiro um lounge, depois um restaurante em uma redoma de vidro e, por fim, um café com astral europeu.

O hotel elegante e temperamental estrearia em abril, mas foi lançado no início de agosto, com reservas disponíveis apenas de quinta a segunda-feira, dando tempo para higienização completa a cada troca de hóspedes. Alguns fins de semana já têm reservas esgotadas e Glazman espera empatar despesas e ganhos em poucos meses.

Para Rocco Forte, desenvolver três novas propriedades — duas na Itália e uma em Xangai — significa maximizar economias de escala. “Até certo ponto, o futuro do meu grupo depende da capacidade de continuar crescendo”, explica Forte.

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Felizmente para ele e outros profissionais do ramo, não se espera que hotéis novos deem lucro no primeiro ano de operação.

“Diferentemente de um prédio de escritórios, onde os inquilinos fazem a adesão durante a construção, os hotéis são sempre construídos a partir de especulações. Não há base de clientes instalada até que as portas sejam abertas”, explica o professor Hennessey.

A abertura agora permite que as operadoras resolvam problemas e se preparem para uma recuperação, mas não podem trabalhar com perdas por muito tempo. “Muitas empresas hoteleiras têm dinheiro suficiente em caixa para pagar despesas gerais durante 12 a 24 meses”, disse ele. “Proprietários independentes provavelmente têm menos recursos para aguentar.”

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bloomberg@moneytimes.com.br