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Quatro motivos que impedem o metaverso de Zuckerberg de deslanchar

02 nov 2022, 14:00 - atualizado em 01 nov 2022, 19:08
metaverso
Segmento de Reality Labs tem sido pressionado por investidores majoritários da Meta .(Imagem: Unsplash/Minh Pham)

A Meta Platforms Inc. (META) não poderia pensar em um ano pior do que 2022. As ações da empresa derretem mais de 60% no acumulado do ano, representando uma perda de US$ 670 bilhões em valor de mercado.

Mas para além da piora das condições macroeconômicas, que fogem do controle da empresa, a companhia de Mark Zuckerberg  está sendo pressionada pelos gastos em seu projeto preferido, o metaverso. Somente em 2021, o segmento de Reality Labs, responsável pelo projeto, a perda de investimentos foi da ordem de US$ 15 bilhões.

Mas o que está impedindo o conceito de metaverso do dono do Facebook de deslanchar? Confira quatro motivos.

Confusão da marca e de conceito

A Meta Platforms Inc. foi originada a partir do ‘rebranding’ do Facebook Inc., a companhia que apresentou Mark Zuckerberg ao mundo. A rede social, no entanto, passou a ser protagonista de escândalos envolvendo violações à privacidade dos usuários e a disseminação de desinformação.

Aparentemente cansado das turbulências do mundo real, o CEO do Facebook aproveitou o desgaste da antiga marca para conceber ao mundo a Meta, empresa que lideraria a realização de seu sonho pessoal: o metaverso como a nova e promissora fronteira da internet.

O problema para Zuck, no entanto, é que o conceito de metaverso da empresa ainda está verde na cabeça das bilhões de pessoas que integram o Facebook.  A propósito, a escolha do nome ‘Meta’ para a empresa parental também não ajudou a esclarecer muito as coisas para os usuários, que passaram a temer uma revolução imediata no modo habitual como usam a plataforma.

Além disso, Zuckerberg tem sido criticado por outros ‘players’ do segmento por ter se apropriado do termo metaverso para a sua empresa.  O conceito — que pressupõe uma aproximação quase indistinguível entre o real e o virtual —  foi criado em 1992 em uma obra de ficção científica e desde então diversas interpretações tentaram ser postas em prática.

Em luta com tantos fatores contrários, a ideia do metaverso de Mark parece ter perdido tração na sociedade.

Ambição demais (até para investidores do Vale do Silício)

Na carta que endereçou à Meta, o CEO da Altimeter Capital e investidor majoritário Brad Gerstner defende que a empresa deveria despender de menos recursos — entre US$1-2 bilhões por ano, em contraste com o plano de US$10 bilhões anuais  pelos próximos 10 anos — no segmento de realidade aumentada, enquanto o mesmo ainda passa por diversos aprimoramentos.

O capex da Meta — gastos em investimentos próprios — hoje supera a Apple, Tesla, Snap, Twitter e Uber juntos.

Ao perseguir um curso mais agressivo no curto-prazo, a Meta tem amedrontado alguns dos seus principais investidores institucionais, que começam a questionar se o ROI (relação retorno-investimento) do projeto continua sendo uma boa ideia para se por dinheiro.

Dilemas éticos da centralização

Um dos riscos mais flagrantes mencionados por especialistas da área é a tendência de centralização expressa no conceito trabalhado pela Meta. Isso, porque o acesso ao metaverso de Zuckerberg ocorre exclusivamente pelo Horizon Worlds, um jogo de realidade aumentada não disponível em nenhum outro sistema operacional.

Como avalia Luiz Octávio, CEO da Dux (empresa focada na elaboração de games play to earn), a elaboração do metaverso esbarra em questões éticas: “a empresa é centralizadora e historicamente utiliza os dados do usuário para vantagens próprias. É pouco provável que a transição [de Facebook para Meta] seja proveitosa e benéfica, com foco no usuário”, explica.

A percepção de que no metaverso da Meta, Zuckerberg seria uma espécie de Deus também não escapou à avaliação feita por analistas do Itaú BBA. Segundo o relatório publicado na semana passada, mencionado pela Business Insider, a Meta teria domínio das três variáveis de dados dos usuários — comportamental, transacional e de inventário. Em outras palavras, isso significa um controle total da forma com os usuários se portam e compram na realidade aumentada, além do controle do próprio ambiente.

Marketing no ‘timing’ errado

Outro problema que a Meta enfrenta é a ansiedade em mostrar o desenvolvimento do projeto, quando este ainda está operando em versões pouco aprimoradas. A imersão 3D hoje disponível na plataforma parece pouco real, o que tem gerado uma enxurrada de memes na internet.

O próprio Mark Zuckerberg foi alvo de piadas, quando em agosto publicou uma foto no Instagram de seu avatar no metaverso. Nela, o ‘boneco’ de Mark está sem pernas, no que representa uma falha ainda não coberta pela Meta: não há uma tecnologia disponível que emule o movimento das pernas humanas.

O esforço para tornar a experiência no metaverso mais verossímil ilustra a importância que a companhia dá à percepção do público na atual fase do negócio.

Na visão de investidores, que defendem investimentos mais centrados e uma atividade de pesquisa menos ruidosa no segmento, os holofotes exacerbados sobre o projeto pouco amadurecido podem mais gerar piadas do que convencer o público de que o metaverso é um produto chave no futuro da comunicação

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Estagiário
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
Jorge Fofano é estudante de jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP. No Money Times, cobre os mercados acionários internacionais e de petróleo.
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