Selic a 15%: Bolsa ou renda fixa? Estrategista do Santander diz o que fazer agora; ‘Quem não tomou risco deixou dinheiro na mesa’
O Banco Central manteve a taxa básica de juros (Selic) em 15%, como amplamente esperado pelo mercado.
Mesmo que a decisão tenha ficado dentro das expectativas, investidores se perguntam se é hora de continuar na calmaria da renda fixa ou se ainda é possível pegar o bonde da Bolsa, em meio aos recordes do Ibovespa.
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Afinal, se os juros chegaram ao topo, a previsão é que caiam em algum momento. No ano, o índice acumula alta de 27%, aos 152 mil pontos.
Um pouco de tudo
Para o estrategista do Santander (SANB11), Caio Camargo, a ideia para investidores nesse cenário é calibrar a carteira, mantendo tanto renda fixa quanto Bolsa.
“Quem não tomou risco, seja em renda fixa ou variável, acabou deixando dinheiro na mesa. Costumamos dizer que o portfólio não é um canhão que vira de um lado pro outro — a gente calibra as posições para tentar surfar a onda da melhor forma possível”, disse.
Apesar disso, o estrategista vê a renda fixa como mais atrativa neste momento. Entre os títulos, ele aponta o pós-fixado como um bom balanceador de risco e retorno. Também se mostra mais otimista com títulos atrelados à inflação, pensando em médio e longo prazo.
“Hoje temos taxas reais de 7% a 8%, o que é bastante atrativo. No curto prazo, o carrego inflacionário um pouco menor pode reduzir o rendimento momentaneamente, mas no longo prazo — 10, 15 anos — é isso que agrega valor.”
E a Bolsa?
Camargo recorda que o motivo da alta não é 100% mérito local. Parte do movimento vem da rotação global de ativos de risco.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) cortou sua taxa básica pela segunda vez neste ano, em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 3,75% a 4%.
O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que a medida visa impedir uma desaceleração ainda maior do mercado de trabalho.
“Esse movimento de carry trade — tomar juros fora e aplicar aqui — acaba beneficiando o fluxo brasileiro. E nem tivemos um fluxo estrangeiro gigantesco, mas ele ajudou.”
“Grande parte da alta é porque a Bolsa brasileira está barata. O câmbio está controlado — R$ 5,40 ainda é um bom número — e o investidor estrangeiro encontrou um bom ponto de entrada.”
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Por outro lado, Camargo ressalta que as empresas estão bem preparadas, com endividamento controlado e balanços sólidos.
“Fizeram o dever de casa e estão prontas para o que vier.”
Mesmo assim, o estrategista prefere ações de beta mais baixo — ou seja, mais defensivas —, já que o cenário para 2025 ainda é de volatilidade, por mais que tenha aumentado “um pouco o risco de Bolsa”.
“Resumindo: estamos em um novo patamar, mas ainda não é o fim do ciclo. O investidor precisa estar preparado para volatilidade.”
Em termos de alocação, Camargo afirma que faz sentido priorizar empresas boas pagadoras de dividendos e manter uma pitada de risco — seja em ações específicas ou derivativos.
Chance de cortes neste ano
Agora, o sonho de cortes ainda em 2025 parece cada vez mais distante. A expectativa é de que a tesoura de Gabriel Galípolo comece a trabalhar apenas no próximo ano.
“Vemos o Copom muito preocupado com a questão inflacionária. Ainda temos uma atividade muito forte e uma taxa de desemprego mais baixa. Então, no fim do dia, os indicadores acabam dando essa chamada de insegurança — talvez o Copom ainda não tenha essa confiança”, afirmou.
Ainda segundo ele, há muita incerteza, apesar da melhora da inflação e do câmbio.
“Acho complicado o Copom agir neste ano. O mercado, que antes falava em janeiro, já começa a empurrar para março. Então, realmente, para 2025 está difícil.”