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Quer ganhar na bolsa? Então, saiba como Rubens Menin, da MRV, decolou, e Eike afundou

02 jan 2020, 21:55 - atualizado em 02 jan 2020, 21:57
Rubens Menin, fundador da MRV, banco Inter e Logg Commercial Properties
Menos powerpoint, mais concreto: Menin é o brasileiro com mais empresas listadas na bolsa (Imagem: Divulgação/MRV)

Após uma alta de mais de 30% na bolsa em 2019, muita gente está animada para investir em ações. Não será por falta de opções que esse pessoal ficará de fora: a B3 (B3SA3) prevê um recorde de emissões neste ano. A estimativa é que as captações alcancem R$ 120 bilhões.

Mas, como a história recente nos ensinou, a empolgação pode cegar os investidores. Por isso, nada melhor do que saber separar o joio do trigo, ou um Eike Batista de um Rubens Menin, dono da MRV – e lucrar com isso.

A comparação não é aleatória. Em sua época áurea, no fim dos anos 2000 e início dos 2010, Eike era o brasileiro com mais empresas listadas na bolsa. O Grupo EBX, seu famoso império, chegou a ter seis companhias negociadas: OGX (petróleo e gás), MPX (energia), LLX (logística), MMX (mineração), OSX (construção naval), e CCX (carvão mineral).

Sucessor

A honraria cabe, agora, a Menin, com três companhias: a construtora MRV (MRVE3); a Log Commercial Properties (LOGG3), que constrói e aluga galpões para logística; e o Banco Inter (BIDI11). Considerando-se o fechamento do pregão desta quinta-feira (2), as companhias somam mais de R$ 24 bilhões em valor de mercado.

Muita espuma: Eike dizia que não vendia vento, mas suas empresas evaporaram (Imagem: Arquivo/Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

É verdade que a cifra parece uma ninharia, quando se lembra que, em 2012, Eike foi alçado ao posto de sétimo homem mais rico do mundo pela revista Forbes, com uma fortuna pessoal avaliada em US$ 30 bilhões (em valores atuais, algo como R$ 120 bilhões).

A fortuna de Menin, calculada em US$ 1,8 bilhão pela Forbes (pouco mais de R$ 7 bilhões), está bem longe disso. Mas, como a história mostra, números podem evaporar de uma hora para outra. E, com ele, as esperanças de quem investiu suas economias numa empresa que contava uma boa história – e apenas isso.

Basta lembrar que, enquanto quem apostou em Eike viu seu dinheiro virar poeira, os “sócios” de Menin na MRV enriqueceram nada menos que 70% no ano passado, quando as ações da incorporadora passaram de R$ 12,64 para R$ 21,55.

Para entender as diferenças (e semelhanças) entre Eike e Menin, e apostar nos cavalos certos em 2020, é preciso voltar aos fundamentos. Veja, a seguir, o que levou o último ao sucesso – e o primeiro a um fracasso de proporções épicas.

1. Apetite do mercado

Eike fez fama e fortuna num momento em que o Brasil estava na moda. Investidores estrangeiros procuravam ativos locais, diante da alta das commodities, dos baixos juros em outros países e do crescimento da economia brasileira, que incorporava uma crescente classe média ao mercado consumidor.

Parte desse cenário é semelhante ao de 2020. Há investidores (institucionais locais e estrangeiros) interessados em comprar ações de empresas brasileiras, diante da Selic mais baixa da história. Isso deve valorizar os papéis. Na média, os analistas projetam uma alta de 15% no Ibovespa.

2. Economia em alta

Assim como nos tempos de Eike, a economia brasileira ensaia uma retomada. Se tudo der certo, o PIB deve crescer 2% ou mais. É pouco, diante das necessidades do país, mas seria a primeira vez que alcançamos esse patamar, desde 2013.

A combinação de juros baixos e volta do crescimento anima as perspectivas da renda variável. Mais um ponto para quem quer comprar ações para ampliar os ganhos.

3. Powerpoint versus tijolos

Uma diferença fundamental entre as empresas listadas por Menin e por Eike é o estágio em que chegaram à bolsa. Nunca é demais lembrar que, já naquela época, os críticos acusavam Eike de vender “vento”, referindo-se ao fato de que seus negócios eram apenas projetos, e não companhias com modelos de negócio já amadurecidos.

MRV
Liderança: MRV só foi para o mercado, após se consolidar no mercado (Imagem: Facebook MRV)

O empresário se defendia, alegando que inaugurava uma nova era do empreendedorismo brasileiro – o capitalismo de risco, comum em países desenvolvidos, como os Estados Unidos.

Assim, o que Eike pedia era um voto de confiança dos investidores. Em troca do dinheiro que seria aplicado na abertura e estruturação das empresas, grandes lucros viriam no futuro.

Menin tem um estilo totalmente diferente. A MRV, sua empresa mais antiga, foi fundada em 1979, mas só chegou à bolsa em 2007, quando já liderava o mercado de imóveis populares. Seu IPO foi o maior da construção civil, e, apesar dos altos e baixos da economia, a empresa ainda lidera o setor em número de unidades.

A Log Commercial Properties, uma cisão da MRV, também só foi para o mercado, após se consolidar. O Banco Inter, conhecido por liderar a digitalização do setor financeiro no país, também conta com algumas cartas, como administrar o Luggo Fundo Imobiliário (LUGG11), cuja carteira é composta de imóveis construídos pela MRV.

4. Consistência

Eike se orgulhava de adotar uma estratégia de negócios que batizou de 360º. Suas empresas se alavancariam mutuamente. A OSX, por exemplo, forneceria as plataformas para a petroleira OGX. A LLX transportaria o minério da MMX, e assim por diante.

O desfecho, você já sabe. A OGX não encontrou petróleo na quantidade esperada e deixou a OSX na mão… e Eike perdeu metade de sua fortuna em apenas quatro meses. Daí, foi ladeira abaixo.

Plataforma da OGX
Tira n’água: petroleira OGX deveria ser a base do império de Eike Batista (Imagem: Divulgação/OGPar)

Já Menin também entrelaçou seus negócios. A diferença, contudo, é que eles já existem – e não dependem, necessariamente, uns dos outros para funcionar.

5. Menos show e mais resultados

Menin e Eike nasceram em Minas Gerais em 1956. Ambos são engenheiros e começaram a empreender antes dos 30 anos. Os dois se orgulham de superar dificuldades – Eike gostava de lembrar que vendia apólices de seguro para se sustentar; já Menin vendeu o carro e o telefone da construtora para enfrentar a crise dos anos 80.

Mas as semelhanças param por aí. O estilo de Menin lembra o de outro bilionário brasileiro famoso – Jorge Paulo Lemann, dono de potências mundiais como a AB Inbev, o Burger King e a Heinz.

Ambos são discretos e preferem ser notícia pelos resultados que entregam, em vez das promessas que fazem. Já Eike adorava a badalação e os holofotes.

Você já conhece o fim da história: enquanto Eike continua enrolado com a Justiça, condenado por manipular o mercado, Menin é conhecido pela pesada carga de trabalho, que inclui vistorias a terrenos e canteiros de obras da MRV, ligações a executivos cobrando resultados e filantropia.

Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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