Banco Central

Rafael Bevilacqua: O que importa é o juro real!

21 mar 2018, 18:48 - atualizado em 11 set 2019, 16:37

Por Rafael Bevilacqua, estrategista da Levante

O Banco Central reduziu em mais 0,25% a taxa Selic que atingiu mais outro mínimo histórico: 6,5% ao ano. No comunicado desta quarta-feira (21), o comitê indica continuidade do ciclo de afrouxo monetário.

Mas qual o impacto real deste último corte?

Bom, o efeito desta redução da taxa de juros é praticamente nulo. O grande feito do Banco Central foi quando a Selic passou de 14,25% para um nível de juros mais civilizado abaixo dos dois dígitos em julho de 2017.

A atual equipe econômica assumiu o BC em junho de 2016, ano em que o Brasil passava por uma das maiores crises econômicas da história. Mesmo em um contexto de fortíssima queda da atividade econômica e desaceleração da inflação, o Copom decidiu dar um choque de credibilidade no mercado para ancorar as expectativas de inflação futura. Só depois, na terceira reunião após o novo comando do BC assumir em outubro de 2016, foi iniciado o ciclo de afrouxo monetário, reduzindo a Selic de forma modera de 14,25% para 14%.

Os movimentos posteriores do Banco Central seguiram de maneira sempre muito cautelosa e respeitando o cenário, fato que permitiu com que a Selic atingisse o menor nível da história: 6,5%. Lógico que outras variáveis permitiram esse movimento. A inflação cedeu fortemente e continua em patamar baixíssimo, fato que é consequência da queda dos preços dos alimentos, excesso de mão de obra e, claro, do choque de credibilidade realizado pela instituição.

Aliado a isso, o país passou por profundas mudanças. Reformas importantes foram aprovadas, tais como a PEC do teto dos gastos e reforma trabalhista, a nova taxa TLP, sem contar a agenda política focada em reduzir o endividamento público.

Mas o ponto principal da discussão não pode mais ser a redução da Selic, pois o efeito prático na economia seria pequeno com a Selic a 6,5% ou se o BC tivesse mantido a taxa em 7,5%. O verdadeiro foco do Banco Central, na verdade, precisa ser o juro real, que ainda está muito alto.

A forte queda no juro nominal não foi acompanhada pelo juro real. Se pegarmos a taxa medida por um título “IPCA +” ou antiga NTNB-B com vencimento em 2035, a taxa ainda está em 5%. Ou seja, ainda está entre a mais altas dos mundos.

A Selic caiu 7,75% desde outubro de 2016, e, na média, o juro real de longo prazo caiu apenas 1%.

O juro real é o grande vilão do Brasil porque é ele que onera a economia real, além disso é o importante componente da taxa de desconto que o investidor em ações utiliza nas suas projeções para calcular o valor justo das empresas na bolsa.

Na teoria econômica, a taxa de juros real neutra é aquela que possibilita o crescimento econômico sem gerar inflação. Acreditamos que a taxa de juros real de equilíbrio no Brasil pode chegar a 4% ao ano.

Quanto mais baixa for a taxa de juros real, menor será a taxa de desconto e, portanto, maior será o valor das empresas na bolsa.

Por isso, este deveria ser o foco do Banco Central nas próximas reuniões. O comunicado de hoje não fala sobre essa discussão, mas quem sabe nas reuniões de maio e junho o ponto seja o novo foco.

Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.