Mercados

Real tem espaço para ganhos após novembro recorde, mas a depender de fiscal

30 nov 2020, 17:51 - atualizado em 30 nov 2020, 17:51
Dinheiro, Real
Mas é preciso contextualizar que a moeda brasileira vinha de três quedas mensais consecutivas (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O real terminou seu melhor mês de novembro já registrado impulsionado pelo clima positivo no exterior, que provocou uma forte correção de posições negativas na divisa brasileira, e analistas afirmam que o cenário para o começo do ano segue pautado pelos desenvolvimentos externos, mas ainda suscetível às intempéries domésticas relacionadas à política fiscal.

O real apreciou 7,32% em novembro ante o dólar, segundo melhor desempenho entre as principais divisas emergentes, atrás apenas do peso colombiano (+7,6%).

Mas é preciso contextualizar que a moeda brasileira vinha de três quedas mensais consecutivas, período em que perdeu 9,06%. Nos 11 primeiros meses do ano, a divisa caiu 24,95%.

Em 2020 até outubro, a queda era de 30,07%.

Tamanha desvalorização deixa o real preparado para um “catch up” ante seus pares algo em parte visto já em novembro. Rand sul-africano (-9,3% em 2020), rublo russo (-18,9%) e peso mexicano (-5,9%), por exemplo, caem no ano menos que seu par brasileiro.

O índice MSCI de moedas emergentes vai na contramão e sobe 1,76% (dado até 27 de novembro), amparado por moedas da Ásia.

O Goldman Sachs (GS) fez um exercício econométrico e concluiu que o real está entre as moedas com maior potencial de valorização em um cenário de continuidade da recuperação cíclica, bom desempenho das commodities e boa performance da China.

“O real é notável não apenas por seu potencial significativo de alta em um ‘bom estado do mundo’, mas também por seu desempenho significativo no acumulado do ano”, disseram analistas do Goldman. Veja imagem abaixo:

Um dos pontos fortes do real são os termos de troca –de forma geral, razão entre preços de exportação e importação. Uma medida do Goldman Sachs para essa variável está nas máximas em pelo menos um ano, em alta desde maio e mostrando disparada depois de agosto, quando maciças injeções de liquidez por bancos centrais no mundo turbinaram os preços das commodities.

A alta das matérias-primas melhora os termos de troca do Brasil e beneficia o real, já que o país é exportador desses insumos. As commodities estão nos picos desde o começo de março.

Depois de um período de quebra, a correlação entre o real e as matérias-primas voltou a ficar positiva, indicativo de que um contínuo movimento de alta nas commodities –num cenário de retomada global da economia e de sobra de liquidez– pode alavancar também a moeda brasileira.

A “pedra no sapato” da taxa de câmbio brasileira segue a questão fiscal, segundo Daniel Tatsumi, gestor de moedas da ACE Capital. “A parte política ainda pega. Adoraria dizer que está tudo bem, que estão fazendo as coisas certas, mas não estão”, avaliou.

Ainda assim, ele pondera que o real tem espaço para ganhos, com potencial de 70% a 80% da valorização ser ditada por fatores externos. “Uma taxa de 5,10 reais no começo do ano seria factível”, disse.

Nesta segunda-feira, o dólar à vista fechou em alta de 0,39% contra o real, a 5,3467 reais, puxado por uma correção global em outros mercados.

Atuação do BC

“Estávamos com uma posição de dólar fraco ante outras moedas, sobretudo da Ásia, e um pouco fora do real, por causa do overhedge. Agora com a rolagem do BC a gente voltou a apostar a favor do real”, disse Tatsumi, ressalvando que a moeda, depois dos ganhos recentes, pode ficar um pouco “de lado” em dezembro, mas deve voltar a ganhar tração em janeiro.

Por rolagem do BC ele se refere a decisão do Banco Central de aumentar (de 12 mil contratos para 16 mil) o volume ofertado em leilão de rolagem de swap cambial nesta segunda-feira. O BC vendeu todo o lote nesta segunda.

Se mantiver essa quantia até o fim de dezembro, com colocação integral, o BC terminará negociando pelo menos 9 bilhões de dólares a mais do que o estoque desses papéis a vencer em 4 de janeiro (11,798 bilhões de dólares).

A perspectiva de colocação líquida de swaps aliviou temores do mercado de forte volume de compra de dólares na virada do ano relacionado ao overhedge.

O overhedge é uma proteção cambial adicional adotada por bancos que deixou de ser interessante depois de mudanças, anunciadas no começo do ano, em regras tributárias. Desfazer o overhedge implica compra de dólares, movimento em curso desde os primeiros meses do ano e que, segundo analistas, tem grande peso na disparada de 33,24% do dólar em 2020.

“Janela de Oportunidade”

No cômputo geral, o Barclays se diz “neutro” na moeda brasileira neste quarto trimestre de 2020, citando elevados prêmios de risco. Mas o banco enxerga que o mercado pode se tornar “muito otimista” no primeiro semestre de 2021 se a incerteza fiscal diminuir (ainda que temporariamente), se a economia global se recuperar e se os riscos relacionados à Covid-19 forem reduzidos.

“O posicionamento leve, valuations atrativos e um beta alto ao ambiente offshore mais construtivo trazem uma janela de oportunidade para apreciação do real no final do primeiro trimestre de 2021”, disseram em relatório Roberto Secemski, Juan Prada e Sebastian Vargas.

O Barclays projeta que o dólar terminará 2020 em 5,35 reais e que ficará em 5,15 reais ao fim do primeiro trimestre de 2021, indo a 5,05 reais, 5,15 reais e 5,25 reais no fechamento dos demais trimestres, respectivamente.

A percepção de que o real poderá ter desempenho melhor que seus pares também está aumentando entre gestores regionais. Pesquisa do Bank of America com gestores de fundos da América Latina neste mês mostrou que 49% dos que responderam esperam que a moeda brasileira tenha desempenho superior a seus rivais dentro de seis meses, maior porcentagem dentre as divisas latino-americanas.

Uma fatia de 65% vê o dólar abaixo de 5,30 reais ao fim do ano (contra 27% da sondagem do mês passado) e 45% veem a divisa norte-americana até abaixo de 5,10 reais.

A despeito das avaliações de maneira geral favoráveis, alguns bancos ainda carregam cenário mais pessimista para o câmbio.

O Société Générale, por exemplo, vê o dólar em alta de 8,90% ante o real de hoje até o fim de 2021, prevendo taxa de câmbio de 5,80 reais ao término do ano que vem. A cotação deverá fechar o primeiro trimestre de 2021 em 5,70 reais, nas contas do banco francês, que vê a América Latina com performance inferior a outras regiões.

“O ciclo de baixa de longo prazo nas moedas emergentes não acabou”, disseram analistas do banco em relatório de cenários. “Os principais riscos negativos para as moedas de mercados emergentes são uma recuperação menos poderosa do crescimento do que a que está nos preços dos mercados e uma correção no euro”, concluíram.

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