Recuperação judicial é o tema que mais afeta crédito do agronegócio, diz secretário
Os crescentes registros de recuperação judicial no agronegócio brasileiro estão dificultando a concessão de crédito para o produtor, na medida em que bancos ficam mais rigorosos para liberar recursos, afirmou nesta quarta-feira o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Campos.
“Porque é o tema que mais afeta hoje a questão da concessão de crédito agrícola. É um tema que ganhou muita relevância do ano passado para este ano”, disse ele a jornalistas, durante evento do Lide, em Brasília.
Entre os fatores para o aumento dos pedidos de recuperação judicial, ele citou novos investidores no segmento, com muitos deles sendo influenciados por escritórios de advocacia que vendem soluções para reduzir a dívida.
“Muita gente veio para o agronegócio no momento em que o agronegócio só tinha notícia boa, na hora que dá a primeira engasgadinha, tem gente que não é do ramo que parte para soluções pouco ortodoxas”, observou ele, conforme áudio de uma entrevista divulgada pela assessoria do evento.
Os pedidos de recuperação judicial no agronegócio brasileiro atingiram números recordes no segundo trimestre, com aumento de 31,7% em relação ao mesmo período do ano passado, impulsionados por solicitações de produtores rurais que atuam como pessoa jurídica (PJ), de acordo com dados da Serasa Experian divulgados em setembro.
Ao todo, considerando pedidos de produtores pessoa física, jurídica e empresas relacionadas ao agronegócio, o total de RJs solicitados atingiu 565. Em relação ao primeiro trimestre, a alta foi de 45,2%.
Diante disso, disse o secretário, os bancos se protegem na concessão dos novos créditos, “com cada vez mais critérios rigorosos na concessão desses créditos, com mais garantias, com mais rigor nessa concessão”.
O Banco do Brasil, o maior financiador do agronegócio, afirmou em novembro que esperava um ponto de inflexão na inadimplência do agronegócio a partir do começo do próximo ano, na esteira de uma série de medidas adotadas nos últimos trimestres.
Campos comentou que os pedidos de RJ têm tido uma facilidade “grande” de ser aprovados em primeira instância judicial, mas no longo prazo essa solução não se mostra a melhor.
“Existem diversos escritórios de advocacia que veem a RJ como uma solução que vai garantir um desconto substancial do valor dessa dívida e um alongamento desse valor. (Mas) a realidade não comprova isso, porque a partir do momento que ela se instala, e ao longo de todo o processo, a realidade vai se impondo”, afirmou ele.
Ele comentou que, em instâncias superiores, o resultado do processo “pode ser muito diferente daquilo que foi vendido na hora que se colocou a recuperação judicial”.
O secretário citou ainda que os juros elevados e problemas climáticos em algumas regiões como fatores que também têm desafiado o setor no país.