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Renda fixa: Procura por antecipação de recebíveis aumenta e FIDCs surfam movimento

21 ago 2025, 17:08 - atualizado em 21 ago 2025, 17:47
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(Imagem: iStock/Rmcarvalho)

Em julho, a soma do patrimônio líquido dos FIDCs atingiu um novo recorde, de R$ 794,5 bilhões, segundo dados da Comdinheiro/Nelógica. E a maior procura por esse tipo de financiamento, através de fundos de investimento em direitos creditórios, também apareceu nos balanços do segundo trimestre de 2025 (2T25).

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Em 2019, os FIDCs tinham um patrimônio líquido de pouco mais de R$ 168 bilhões. De lá para cá, então, o número quase quintuplicou. E a visão é de que há espaço para mais. No número de CNPJs de fundos, o salto foi de 1.180 para 5.901. 

Dados da ComDinheiro/Nelogica, consolidados da CVM + Anbima

Entre os motivos para essa alta, segundo especialistas, há vários fatores. Entre os principais, estão a procura crescente por empresas por um auxílio na composição de caixa (em meio a juros mais altos), o cenário desbancarização (que acelerou após o caso da Americanas), vantagens tributárias e mudanças na regulação. 

Companhias listadas na bolsa de diversos setores trouxeram em seus balanços sinais da maior procura por antecipação de recebíveis, apesar desses números não serem totalmente abertos.

A CVC (CVCB3) é uma empresa que trouxe o dado completo no seu resultado. A empresa divulgou que chegou a uma dívida de R$ 1,05 bilhão em antecipações, contra R$ 778 milhões um ano antes.

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Já no resultado do Grupo Casas Bahia (BHIA3), é possivel acompanhar o aumento da demanda através dos gastos com desconto com operações de recebíveis — número que somou que R$ 520 milhões no primeiro semestre de 2025, contra R$ 333 milhões no mesmo período do ano passado. 

Como último exemplo, o Assaí (ASAI3) teve um custo de R$ 92 milhões no primeiro semestre com antecipação de recebíveis, contra R$ 65 milhões um ano antes.

Maior procura por antecipação de recebíveis

“Apesar de a antecipação de recebíveis não oferecer juros tão mais baixos do que outros financiamentos, ela, em um cenário de incertezas, se torna uma boa alternativa. Você pega umas duplicatas, antecipa e coloca dinheiro no caixa”, comenta Fernando Marinari, CEO da CashForce, empresa especializada em estruturar operações de risco sacado. 

Marinari explica que os bancos, com os juros altos e incertezas, estão apertando os créditos de mais longo prazo, transformando as operações de risco sacado, que operam mais no curto prazo, em boas alternativas. 

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Além disso, a indústria, segundo ele, passou por um boom desde o estouro da fraude da Americanas. Com o trauma deixado pelo evento nos bancos, diversas empresas, que dependiam dessas linhas de crédito, passaram a estruturar suas próprias operações e a movimentar o setor. 

Já Adriano Joaquim, CEO da Cartular, empresa integradora de ecossistema de recebíveis, enxerga outros fatores beneficiando o mercado de FIDCS e recebíveis, principalmente no que tange a liquidez. “O estado da arte hoje do mercado, ao meu ver, é fruto do que vem sendo construído há quase 10 anos, pelos regulatórios do Banco Central, Conselho Monetário Nacional e CVM”, explica.

Joaquim relembra que, desde 2016, com a criação das registradoras de ativos financeiros — os chamados “cartórios digitais” — passou a existir um ambiente de unicidade informacional, que impede a venda dupla de títulos e aumenta a segurança jurídica.

O diretor da Cartular também menciona que a digitalização dos ativos e a interoperabilidade entre diferentes registradores reduziram riscos e custos de transação, ampliando a confiança dos investidores e a liquidez do mercado.

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Empresas estruturam próprios FIDCs

Algumas companhias grandes passaram a estruturar fundos próprios para antecipar seus próprios recebíveis. Esse arranjo transforma receita operacional em despesa financeira, com ganhos tributários relevantes, já que dentro do fundo há isenção em relação a tributos que incidem sobre a operação no varejo. 

“O FIDC consegue ter também uma flexibilidade maior para absorver ativos numa dinâmica muito mais rápida, porque ele tem normas próprias vinculadas à CVM. Uma vez cumpridas, ele pode operar com uma constelação de ativos”, fala Joaquim. 

“Uma indústria pode operar com contratos, duplicatas, cheques, recebíveis de cartão e outros ativos. É muito rápido estruturar operações de crédito via FIDC”, completa.

A visão é de que as mudanças na Resolução 175 da CVM também ajudaram. A principal delas liberou investidores de varejo a investirem nos fundos — apesar de contarem com algumas restrições  como a possibilidade única de investimento em cotas seniôres.

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Por fim, o próprio ganho de liquidez do mercado, com a entrada de recrusos, torna o setor de FIDCs cada vez mais interessante. 

Toda essa combinação gera um grande ânimo. 

“Esse movimento de ‘fintequizar’ o negócio sempre começa pelo risco sacado, porque é o mais fácil, o que tem menos risco, e passa a gerar um ganho gigante. O provável é que, daqui um tempo, veremos mais empresas começando a ter um alivio em suas carteiras”, fala Marinari. “O movimento se intensificou e tende a seguir”.

“Eu diria com alguma segurança que essa mudança não é conjuntural, mas sim paradigmática. Existem muitos ativos que o mercado ainda está aprendendo a enxergar”, falou Adriano Joaquim.

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Segundo Joaquim, os FIDCs devem começar a estruturar fundos voltados exclusivamente para recebíveis de cartão, um mercado de trilhões de reais que pode injetar crédito em micro e pequenas empresas. ‘Se prepare: veremos uma revolução no mercado de crédito privado’, diz.

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vitor.azevedo@moneytimes.com.br