Política

Resultado da eleição no Japão complica caminho da política de juros do banco central

22 jul 2025, 5:12 - atualizado em 22 jul 2025, 4:35
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Dívida do Japão equivale a cerca de 250% do PIB (Imagem: Unsplash/Colton Jones)

O resultado da eleição no Japão pode colocar o Banco do Japão (BOJ) em uma encruzilhada: por um lado, a perspectiva de aumento nos gastos públicos pode manter a inflação elevada; por outro, a possibilidade de paralisia política prolongada e uma guerra comercial global fornecem motivos para o banco central adotar cautela com os aumentos de juros.

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A persistente incerteza política também pode enfraquecer o iene e aumentar os custos de importação, segundo alguns analistas, o que adicionaria ainda mais pressão inflacionária, em conflito com a abordagem atual do BOJ de manter os juros inalterados até que a turbulência política se dissipe.

A alta no custo de vida foi um dos fatores que contribuíram para a derrota contundente da coalizão governista do primeiro-ministro Shigeru Ishiba nas eleições para a câmara alta, no domingo. Com a inflação acima da meta de 2% do BOJ há mais de três anos, alguns membros do conselho do banco central já alertam para pressões de preços crescentes.

O conselheiro Junko Koeda recentemente destacou a necessidade de monitorar os efeitos secundários da alta nos preços do arroz. Outro membro, Hajime Takata, disse neste mês que o BOJ deve retomar os aumentos de juros após uma pausa temporária, já que o Japão está prestes a consolidar sua meta de inflação de 2%.

“Se os riscos inflacionários aumentarem, o BOJ pode precisar agir de forma decisiva como guardião da estabilidade de preços”, afirmou o formulador de políticas mais “hawkish” (favorável ao aperto monetário), Naoki Tamura, no final de junho.

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Governo continua

Agora em minoria em ambas as câmaras do parlamento, a coalizão de Ishiba precisará negociar com partidos de oposição, que defendem cortes de impostos e aumento dos gastos, para aprovar novas leis.

Em resposta a essas demandas, Ishiba afirmou ontem que permanecerá como primeiro-ministro e buscará medidas, em parceria com outros partidos, para aliviar o impacto da inflação sobre os lares japoneses.

Embora um corte no imposto sobre consumo gerasse um enorme rombo nas finanças públicas já deterioradas do Japão, essa medida exigiria a aprovação de uma nova legislação, o que levaria tempo.

Mais provável seria a formulação de um orçamento suplementar no outono para financiar benefícios diretos e isenções fiscais. Segundo analistas, o valor pode superar os 14 trilhões de ienes (US$ 95 bilhões) do pacote do ano passado, diante da crescente pressão da oposição por medidas mais ousadas.

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“Um orçamento extra para este outono, a fim de ajudar empresas a lidar com as tarifas dos EUA, já era esperado antes da eleição. Agora, os partidos de oposição podem exigir um pacote ainda maior”, disse David Boling, diretor da consultoria Eurasia Group.

Movimentos do iene serão decisivos

De fato, a economia japonesa pode precisar de estímulos fiscais após ter encolhido no primeiro trimestre e diante do impacto das tarifas dos EUA, que já afetam fortemente o principal motor econômico do país, o setor automotivo.

Mas a preocupação dos mercados com a enorme dívida do Japão e a instabilidade política podem enfraquecer ainda mais o iene e gerar dúvidas sobre a visão do BOJ de que a pressão inflacionária vinda dos custos diminuirá até o fim do ano, segundo analistas.

“Com Ishiba indicando que pretende continuar como premiê, os mercados estão em modo de espera. Mas isso não significa que o risco de queda do iene desapareceu — a eleição enfraqueceu claramente a posição do governo”, disse Tsuyoshi Ueno, economista do NLI Research Institute.

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Diferentemente de outras grandes economias, as taxas de juros reais (ajustadas pela inflação) do Japão permanecem fortemente negativas, devido à lentidão do BOJ em reverter a política de estímulos massivos da última década.

Após elevar os juros de curto prazo para 0,5% em janeiro, o presidente do BOJ, Kazuo Ueda, sinalizou uma pausa nos aumentos até haver mais clareza sobre os efeitos econômicos das tarifas norte-americanas.

Diante desse risco, muitos analistas agora não esperam mais aumentos de juros ao longo de 2025. No entanto, estimativas internas do BOJ sugerem que a taxa básica deveria subir para pelo menos 1% para alcançar um nível neutro.

No fim das contas, uma nova desvalorização do iene pode ser o empurrão decisivo para novas altas de juros, segundo alguns analistas.
Embora o BOJ tenha, por lei, independência em relação ao governo, historicamente tem sido sensível ao ambiente político. Seu programa de estímulos em 2013, por exemplo, foi implementado após forte pressão do então primeiro-ministro Shinzo Abe para conter a valorização do iene e combater a deflação.

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A saída do BOJ da política ultrafrouxa no ano passado também ocorreu após uma série de apelos de políticos pedindo ajuda para conter a queda abrupta do iene, que estava encarecendo as importações.

“Para o BOJ, a maior preocupação é como a eleição pode mudar o foco do governo na política econômica e como os mercados reagirão a isso”, disse uma fonte próxima ao banco central.

A veterana observadora do BOJ Mari Iwashita vê chance de aumento de juros em outubro se o iene, atualmente por volta de 147 por dólar, cair abaixo de 150, elevando a pressão sobre os preços.

“O enfraquecimento persistente do iene aumentaria a inflação subjacente, o que pode ser um gatilho importante para a ação do BOJ”, disse Iwashita, estrategista-chefe de juros da Nomura Securities.

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A Reuters é uma das mais importantes e respeitadas agências de notícias do mundo. Fundada em 1851, no Reino Unido, por Paul Reuter. Com o tempo, expandiu sua cobertura para notícias gerais, políticas, econômicas e internacionais.
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