Retirada de tarifas dos EUA vem ‘em boa hora’, mas impacto sobre a inflação deve ser restrito, dizem especialistas
A retirada das tarifas adicionais pelos Estados Unidos sobre uma nova rodada de produtos brasileiros chega “em boa hora”, afirma a estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Angelo. Segundo ela, a decisão tende a dar algum fôlego aos preços da carne bovina após semanas de pressão. Porém, o efeito sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, deve ser restrito, segundo ela.
Mais de 200 itens — incluindo café, frutas, castanhas, especiarias e carne bovina — foram adicionados à relação de mercadorias liberadas da tarifa adicional de 40%, o que representa cerca de 10% da pauta exportadora brasileira.
Com a atualização, os produtos incluídos voltam ao patamar tarifário pré-guerra comercial, e importações realizadas desde 13 de novembro terão direito a reembolso.
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A estrategista da Warren afirma que o alívio das tarifas ocorre em meio à recente queda da arroba do boi, influenciada pelas medidas antidumping adotadas pela China no mercado futuro.
Para ela, o fim da taxação sobre a carne bovina abre espaço para um cenário de maior firmeza nos preços até o fim do ano, ainda que sem movimentos expressivos. A Warren leva como base com o valor de referência próximo de R$ 320 na praça de São Paulo.
Angelo lembra que, mesmo durante o período de sobretaxa, as exportações brasileiras de bovinos continuaram fortes, encontrando outros mercados e ajudando a conter quedas mais acentuadas no mercado interno.
Apesar da melhora esperada, a estrategista reforça que o impacto da medida sobre a inflação deve ser restrito. As projeções da Warren para o IPCA permanecem em 4,3% em 2025 e 4,5% em 2026, com altas de 0,20% em novembro e 0,31% em dezembro deste ano.
Em linha, o economista do ASA, Leonardo Costa, avalia que a reversão representa um alívio adicional relevante, especialmente porque abrange categorias de peso político interno nos EUA e de grande importância nas exportações brasileiras.
Ele ressalta, contudo, que a decisão não encerra o conflito tarifário, mas reduz a pressão setorial. “Ao todo, mais de 60% da pauta brasileira está fora da sobretaxa de 50% aplicada pelo Governo Trump“, diz.