Retrospectiva 2025: 16 fatos que mexeram com a economia
O ano de 2025 ficou marcado por choques globais que remodelaram a economia e testaram a capacidade de reação de governos. A escalada tarifária de Donald Trump, combinada com a retomada da guerra comercial com a China, elevou tensões geopolíticas, interrompeu cadeias de suprimentos e trouxe mais volatilidade aos mercados. Entre disputas diplomáticas, retaliações e incertezas no comércio internacional, o ambiente de negócios se manteve sob pressão constante.
No Brasil, os efeitos externos se somaram a turbulências internas. O esfriamento das relações com os EUA, a crise fiscal, a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, operações bilionárias contra fraudes e o aperto monetário fizeram o país enfrentar uma sequência de choques políticos e desafios estruturais.
Confira 15 fatos que mexeram com a economia em 2025
Tarifaço do Trump
Trump tomou posse em 20 de janeiro e rapidamente começou a implementar sua nova política tarifária. Em fevereiro, aplicou uma tarifa de 25% sobre produtos do México e do Canadá, alegando que os países contribuíam para a chegada de imigrantes, o tráfico de drogas e o déficit nas contas públicas.
Poucos dias depois, suspendeu temporariamente essas taxas, em um vai-e-vem que se estendeu por meses. Em seguida, passou a ameaçar tarifas contra a União Europeia e determinou uma taxa sobre todas as importações de aço e alumínio.
Em 4 de março, foram anunciadas tarifas recíprocas para mais de 100 países. No mesmo mês, Trump estabeleceu uma tarifa de 25% sobre petróleo e gás venezuelanos e sobre importações de veículos. As datas de início dessas medidas mudaram várias vezes, incluindo bloqueios temporários por tribunais de comércio, até que uma corte federal autorizou a cobrança.
Apesar das tensões, o governo americano fechou acordos tarifários com Reino Unido, Indonésia, Japão, Filipinas, Coreia do Sul, Tailândia, Camboja e com os membros da União Europeia.
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Guerra comercial

A guerra comercial entre EUA e China teve início em fevereiro, quando os americanos impuseram uma tarifa de 10% sobre produtos chineses. Como retaliação, a China aplicou taxas entre 10% e 15% sobre produtos norte-americanos, dando início a um confronto que incluiu ameaças de tarifas superiores a 140% entre as duas maiores economias do mundo.
Preocupado com o impacto sobre empresas de tecnologia americanas, que dependem da China para produção a custos menores, o presidente dos EUA decidiu reduzir tarifas sobre smartphones, computadores e outros eletrônicos.
No final de outubro, Trump e o presidente chinês Xi Jinping fecharam um acordo que previa redução de tarifas, combate ao comércio ilícito de fentanil, retomada das compras de soja americana e manutenção das exportações chinesas de terras-raras.
Julgamento e prisão de Bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes. Durante o julgamento, ele chegou a ter prisão domiciliar decretada por descumprimento de medidas cautelares.
No fim de novembro, Bolsonaro foi conduzido à Superintendência da Polícia Federal, após o STF determinar prisão preventiva em razão da tentativa de violação da tornozeleira eletrônica. O ministro Alexandre de Moraes ordenou que ele começasse a cumprir a pena na própria superintendência.
Antes mesmo da condenação, Bolsonaro já estava inelegível até 2030, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em razão de abuso de poder político e econômico e uso indevido de meios de comunicação durante sua campanha à reeleição em 2022.
Brasil x EUA
Desde o início do tarifaço de Trump, o Brasil foi afetado tanto diretamente — com a tarifa recíproca de 10% — quanto indiretamente, pelo aumento das taxas sobre ferro e aço. A relação entre os dois países, porém, começou a se deteriorar em julho.
Trump assinou um decreto impondo uma tarifa adicional de 40% sobre produtos brasileiros, elevando o total para 50%. Ele alegou que havia uma “relação comercial muito injusta” com o Brasil, sendo que as políticas brasileiras geravam “déficits insustentáveis contra os EUA”. A justificativa provocou questionamentos no governo brasileiro, já que os EUA apresentavam superávit na balança comercial de bens com o Brasil — US$ 7,4 bilhões em 2024.
O decreto também citava questões políticas internas brasileiras, como o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Trump classificou a situação como “uma vergonha internacional” e anunciou uma investigação sobre possíveis práticas comerciais desleais do Brasil, especialmente contra empresas americanas do setor digital.
A crise se aprofundou quando Trump suspendeu os vistos de entrada nos EUA de sete ministros do STF, incluindo Alexandre de Moraes, e aplicou a Lei Magnitsky, impondo restrições financeiras e de viagem.
Em setembro, durante a Assembleia Geral da ONU, Trump se encontrou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e afirmou ter tido “uma química excelente” com o presidente brasileiro. A partir daí, as negociações avançaram, e em meados de novembro os EUA retiraram a tarifa extra de 40% sobre 200 produtos brasileiros.
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Fiscal no radar
As contas do governo estiveram em destaque ao longo de 2025. Uma das principais conquistas foi a aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Para salários entre R$ 5 mil e R$ 7.350, o imposto será reduzido de forma gradual, enquanto as alíquotas acima desse patamar permanecem inalteradas. A medida, que passa a valer em 1º de janeiro de 2026, deve beneficiar cerca de 16 milhões de brasileiros.
A renúncia fiscal prevista é de R$ 31,2 bilhões por ano. Para compensar parte dessa perda, a lei estabelece tributação mínima para quem recebe mais de R$ 50 mil por mês (R$ 600 mil ao ano) e para dividendos enviados ao exterior. A cobrança será progressiva, começando em 2,5% e chegando a 10% para rendas acima de R$ 1,2 milhão ao ano, atingindo apenas 0,13% dos contribuintes — cerca de 140 mil pessoas.
Por outro lado, a equipe econômica sofreu derrotas no Congresso. Foi barrado o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) via decretos do Executivo, e rejeitada a Medida Provisória que tentava substituir o aumento. A proposta tinha potencial para gerar R$ 20,9 bilhões em arrecadação em 2026 e reduzir gastos em R$ 10,7 bilhões.
Fraude no INSS
Em abril, Alessandro Stefanutto, então presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), foi afastado do cargo por decisão da Justiça. A medida ocorreu após uma operação conjunta da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União que investigava um esquema bilionário de descontos indevidos em aposentadorias e pensões.
A operação identificou que entidades cobravam mensalidades associativas diretamente dos benefícios previdenciários sem autorização dos beneficiários. As apurações indicam que, entre 2019 e 2024, cerca de R$ 53,5 milhões foram movimentados entre associações suspeitas e empresas ligadas ao esquema, dos quais R$ 9,3 milhões teriam sido repassados a servidores. Ao todo, 22 empresas foram usadas para intermediar os pagamentos e dificultar o rastreamento das operações.
Em setembro, a Polícia Federal prendeu Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”, e o empresário Maurício Camisotti, em uma nova fase da investigação. Segundo as autoridades, Antunes atuava como intermediário financeiro entre associações e servidores, sendo apontado como o “epicentro da corrupção ativa”.
Hackearam o Pix

Em julho, a empresa de tecnologia C&M Software (CMSW), responsável por conectar bancos menores e fintechs ao sistema Pix, sofreu um ataque hacker que resultou no desvio de pelo menos R$ 800 milhões.
As investigações apontam que os criminosos utilizaram credenciais de clientes, obtidas por meio da venda de informações por um funcionário da empresa, para acessar os sistemas de forma fraudulenta. Ao menos seis instituições financeiras foram afetadas pelo ataque.
Selic no maior patamar em quase 20 anos
Após sete aumentos consecutivos, a Selic alcançou 15% ao ano, o maior patamar desde maio de 2006. O Banco Central manteve a taxa nesse nível desde julho, e as projeções indicam que o ciclo de cortes deve começar entre janeiro e março de 2026.
PCC na Faria Lima
Em agosto, uma grande operação conjunta das polícias Federal, Civil e Militar, com o apoio do Ministério Público de São Paulo e do Ministério Público Federal, cumpriu mandados em oito estados para desarticular um esquema bilionário no setor de combustíveis ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
A operação identificou irregularidades em diversas etapas da cadeia de combustíveis. Segundo as investigações, cerca de 1.000 postos vinculados ao grupo movimentaram R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024, com sonegação superior a R$ 7 bilhões. Entre os 350 alvos estava a Reag Investimentos (REAG3), uma das maiores administradoras de recursos do país, além de outras gestoras e instituições financeiras do centro financeiro brasileiro.
A Receita Federal apontou que uma fintech funcionava como um “banco paralelo” do PCC, movimentando cerca de R$ 46 bilhões sem rastreabilidade. Pelo menos 40 fundos, com patrimônio estimado em R$ 30 bilhões, teriam sido utilizados para ocultar os recursos.
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Fed: Corte de juros e da cabeça de Powell
O Federal Reserve iniciou o ciclo de afrouxamento monetário em setembro, após cinco reuniões sem alterações na taxa de juros e sob intensa pressão da Casa Branca. Trump criticava publicamente as decisões do presidente do Fed, Jerome Powell, e chegou a ameaçar demiti-lo, apesar de não ter autoridade para isso.
O presidente chegou a vistoriar pessoalmente uma reforma de US$ 2,5 bilhões no prédio do Fed, acusando a autoridade monetária de má gestão. O governo também buscou a demissão da diretora Lisa Cook, alegando irregularidades em empréstimos hipotecários.
O mandato de Powell termina em maio, e o nome atualmente mais bem visto por Trump é o de Kevin Hassett, assessor econômico da Casa Branca.
Shutdown
Em 1º de outubro, os EUA enfrentaram seu maior período de shutdown da história. O governo permaneceu paralisado por 43 dias, até que o Congresso aprovou um projeto de lei que garantiu financiamento até janeiro de 2026. A paralisação provocou um apagão de dados de emprego e inflação, informações essenciais para a política monetária do Fed.
E a Ambipar?

Em outubro, a Ambipar (AMBP3) entrou com pedido de recuperação judicial na 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. A Ambipar Emergency Response, sediada nas Ilhas Cayman, também recorreu ao Chapter 11 nos EUA.
A crise da empresa, que acumula R$ 11 bilhões em dívidas, começou em setembro, quando os bonds com vencimento em 2031 despencaram no mercado internacional, pouco antes do anúncio da sétima emissão de debêntures, no valor de R$ 3 bilhões.
O Deutsche Bank exigiu um aditivo contratual de US$ 35 milhões, desencadeando um efeito em cadeia que poderia acelerar obrigações financeiras da companhia em até R$ 10 bilhões.
A (não) falência da Oi
Ao longo de 2025, a situação financeira da Oi (OIBR3;OIBR4) se agravou novamente. Pouco mais de um mês após registrar prejuízo de R$ 835 milhões no segundo trimestre — revertendo o lucro de R$ 15 bilhões do ano anterior —, a 7ª Vara Empresarial do Rio decretou a falência da empresa em 10 de novembro, no segundo processo de recuperação judicial da companhia.
A Oi já havia passado por recuperação judicial em 2016, quando acumulava R$ 65 bilhões em dívidas. Nesta nova etapa, os débitos somam mais de R$ 15 bilhões.
A juíza Simone Gastesi Chevrand afirmou que a empresa havia atingido um “ponto irreversível”. Quatro dias depois, porém, a desembargadora Mônica Maria Costa suspendeu os efeitos da falência, atendendo a recurso de Bradesco e Itaú, que argumentaram que a quebra não seria a melhor solução para os credores.
Crise do Banco Master
Em novembro, a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, após uma investigação apurar um esquema de criação e negociação de títulos de crédito inexistentes, envolvendo instituições do Sistema Financeiro Nacional. As suspeitas incluem gestão fraudulenta, gestão temerária e participação em organização criminosa.
O Master teria repassado ao Banco de Brasília (BRB) cerca de R$ 12,2 bilhões em carteiras fictícias, apresentando documentos falsificados ao BC. O presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, foi afastado por 60 dias.
O caso estourou meses após o BRB anunciar, em março, a intenção de adquirir 58% do Master por cerca de R$ 2 bilhões — operação que criaria um grupo com R$ 100 bilhões em ativos. O negócio, no entanto, foi barrado pelo BC em setembro, por falta de viabilidade e alto risco.
Com o avanço das investigações, a autoridade monetária decretou a liquidação judicial do Master. Um dia antes, a holding Fictor havia demonstrado interesse em comprar o banco, prometendo aporte inicial de R$ 3 bilhões. A liquidação transformou o episódio no maior acionamento da história do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), sendo que, em março de 2025, o Master mantinha cerca de R$ 60 bilhões em depósitos cobertos.
Lavagem de dinheiro nos combustíveis
Em novembro, autoridades deflagraram uma operação contra 190 alvos ligados ao Grupo Refit e a empresas do setor de combustíveis. A ofensiva apurava a atuação de uma organização criminosa envolvida em crimes tributários e lavagem de dinheiro. O esquema teria provocado um rombo de R$ 26 bilhões aos cofres públicos.
As investigações apontam que fintechs e fundos de investimento eram usados para viabilizar as fraudes, em um modelo semelhante ao descoberto na operação Carbono Oculto. A Refit, que já havia sido interditada em setembro, figura como a maior devedora contumaz de impostos do país.
Correios por um fio
Os Correios atravessam uma grave crise econômico-financeira desde meados de 2022. A estatal acumula 12 trimestres consecutivos de prejuízo, somando um rombo de R$ 6 bilhões até setembro deste ano.
Em outubro, a empresa anunciou que buscava um empréstimo de R$ 20 bilhões para tentar estancar a deterioração financeira. Em dezembro, chegou a ser aprovada uma proposta apresentada por um consórcio formado por cinco instituições — Banco do Brasil, Citibank, BTG Pactual, ABC Brasil e Safra.
A operação teria garantia do Tesouro Nacional, que assumiria os pagamentos em caso de inadimplência. Mesmo assim, os Correios decidiram suspender a contratação do empréstimo devido ao custo elevado das condições oferecidas.