Risco e retorno: o que o comportamento das ações menos voláteis do Ibovespa revela aos investidores
A teoria financeira que conecta risco e retorno é um dos pilares do mercado de capitais. Ela afirma que, quanto maior o risco assumido, maior deve ser o retorno esperado, e vice-versa. No entanto, a prática do mercado mostra que essa relação é muito mais complexa do que uma linha reta entre dois pontos.
Um levantamento das 20 ações menos voláteis do Ibovespa nos 12 meses até 24 de outubro de 2025 ilustra bem essa complexidade. O estudo, que relaciona volatilidade e rentabilidade, mostra que há grande dispersão entre os resultados, mesmo entre empresas de perfil mais estável.
O que mostram os dados
A mediana da volatilidade das 20 ações mais estáveis do índice foi de 22,11% no período. Apesar de serem papéis considerados defensivos, quatro empresas registraram retornos negativos, duas com volatilidade abaixo da mediana e duas acima.
Esses casos mostram que, mesmo em carteiras de menor risco, a proteção contra perdas não é absoluta. O comportamento do preço das ações depende não apenas de sua volatilidade histórica, mas também de fatores macroeconômicos, setoriais e específicos de cada empresa.
Entre os destaques positivos,BB Seguridade (BBSE3) apresentou forte desempenho, com retorno superior a 30% e uma volatilidade controlada, próximo a 20%. No mesmo grupo, Klabin (KLBN11) e Petrobras (PETR4) registraram rentabilidades acima de 40%, com risco relativamente baixo, mostrando que empresas sólidas, com fundamentos consistentes e bom momento operacional, podem entregar retorno expressivo sem oscilações extremas.
O papel do setor elétrico: estabilidade com retornos modestos
Um ponto que reforça a teoria é o comportamento das empresas do setor elétrico. Três delas, Eletrobras (ELET3 e ELET6), Taesa (TAEE11) e Engie (EGIE3), figuram entre as ações de menor volatilidade do Ibovespa. Em comum, todas registraram rentabilidades mais modestas, refletindo a natureza previsível e regulada do setor, com receitas indexadas e margens estáveis.
Essas empresas representam o conceito clássico da relação risco-retorno: ativos de baixa volatilidade, com fluxo de caixa previsível e sensibilidade limitada a ciclos econômicos, tendem a oferecer ganhos menores, porém mais consistentes ao longo do tempo.
Quando o risco não é (só) volatilidade
Na teoria moderna das finanças, especialmente nos modelos de Markowitz e no CAPM, a volatilidade é tratada como medida de risco. Porém, na vida real, o risco é multidimensional.
Fatores como liquidez, endividamento, governança, exposição cambial e dependência de commodities também afetam o comportamento das ações.
Por isso, um investidor que se apoia exclusivamente na volatilidade histórica pode ter uma visão incompleta do risco. Empresas com baixa oscilação de preços podem esconder vulnerabilidades estruturais, enquanto outras, mais voláteis, podem oferecer retorno ajustado ao risco mais atraente.
Risco remunerado versus risco inútil
Outro ponto essencial da teoria é que nem todo risco é recompensado.
Modelos como o CAPM explicam que apenas o risco sistemático, aquele que não pode ser eliminado pela diversificação e está ligado ao mercado como um todo, tende a ser remunerado. Já o risco específico, como problemas de gestão, governança ou endividamento de uma empresa, pode reduzir o retorno sem qualquer compensação adicional.
Nesse sentido, os dados do Ibovespa reforçam a importância da diversificação inteligente. Investidores que concentram suas posições em poucas ações, mesmo estáveis, podem carregar riscos não compensados, o que distorce a relação esperada entre risco e retorno.
A fronteira entre teoria e prática
Os resultados observados nos últimos 12 meses mostram que a teoria do risco-retorno continua válida em essência, mas requer ajustes de interpretação.
Para que funcione na prática, o investidor precisa:
- Medir risco de forma ampla, considerando volatilidade, liquidez, fundamentos e cenário macro.
- Avaliar retornos ajustados ao risco, por meio de métricas como o índice de Sharpe.
- Diversificar para eliminar riscos não remunerados.
- Manter horizonte de longo prazo, pois a relação entre risco e retorno tende a se confirmar apenas em períodos mais extensos.
Em resumo, o gráfico das ações menos voláteis do Ibovespa mostra que a teoria do risco-retorno não é uma promessa matemática, mas um princípio estatístico que se revela com o tempo e com disciplina.
Para o investidor, a lição é clara: entender o risco é tão importante quanto buscar o retorno, e o equilíbrio entre ambos é o que constrói resultados sustentáveis no longo prazo.