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Rodolfo Amstalden: A César, mais do que é de César

06 ago 2020, 15:57 - atualizado em 06 ago 2020, 15:57
Rodolfo Amstalden
“Devemos carregar nossos ativos seguindo a máxima do resgate de Júlio César”, diz o colunista (Imagem: Murilo Constantino/Empiricus)

Suponha que, na calada da noite, silêncio profundo, uma das ações do seu book de renda variável tenha sido sequestrada.

Depois das taças de ontem à noite, você fica se perguntando se esqueceu a janela aberta, facilitando a entrada dos bandidos. Mas a verdade é que agora isso pouco importa. A ação se foi, sem deixar vestígios.

Ou talvez tenha deixado um único vestígio.

No exato lugar em que a ação dormia, você encontra um bilhete escrito em vermelho, uma proposta indecorosa de resgate.

Quanto você, toparia pagar para tê-la de volta?

Ironicamente, quando defrontados com esse experimento imaginativo, muitos investidores respondem com cifras menores do que o valor de mercado da referida ação.

O papel negocia a R$ 10, e o sujeito pagaria R$ 8 para tê-lo de volta, por exemplo.

Isso é um claro sinal de venda.

Como vacina para tais contradições, devemos carregar nossos ativos seguindo a máxima do resgate de Júlio César.

Navegando através do Mar Egeu, o barco de César foi interpelado por piratas sicilianos, que prontamente nomearam um valor de soltura:

Vinte talentos de prata — algo comparável a US$ 600 mil nos dias de hoje.

Costumeiro boca-aberta, César disse aos piratas que eles estavam sendo ridículos. Não fazia sentido uma chantagem tão módica.

Os piratas deram um passo atrás, confusos. Experientes na arte do sequestro, eles nunca haviam se deparado com uma situação desse tipo. Normalmente, as vítimas pediam desconto, se humilhavam por míseros resquícios de piedade.

Mas César insistiu em elevar substancialmente a pedida, mediante contraproposta de 50 talentos.

Ainda desconfiados, os piratas decidiram jogar na segurança. Mantiveram a custódia de César, liberando seus assistentes para ir a Roma levantar a quantia prometida.

Na capital, a notícia do sequestro rapidamente alcançou as massas com uma conotação mítica.

Nunca antes na história daquela república alguém havia sido resgatado por tamanha soma.

A indução era óbvia: só em se tratando de figura excepcional para exigirem tanto em sua troca.

Assim, Júlio César entrou definitivamente no mapa político da época, pavimentando o caminho para se tornar imperador romano.

P.S.: Se você gostou dessa história e do que ela significa para o seu bolso, convido você a participar comigo e com o Felipe de nossos encontros diários, nos quais traduzimos em narrativas simples aquilo que, no mercado, soa estranho demais.

Sócio-fundador da Empiricus
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
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