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Rodolfo Amstalden: dicas de leitura para o investidor

16 dez 2019, 12:45 - atualizado em 16 dez 2019, 12:45
Devemos aceitar que o ato de investir confunde-se com o desafio de acessar uma realidade futura, afirmou o colunista (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Por Rodolfo Amstalden, da Empiricus Research

Enfim, abro meu inbox. Sem surpresas, lá encontro mais uma mensagem de assinante da Empiricus pedindo dicas de leitura.

Rodolfo, férias coletivas chegando, quais livros devo ler para aprender mais sobre investir?

Nossa tríade introdutória compreende Fooled by Randomness, do Taleb (cuidado com a tradução para o Português), Rápido e Devagar, do Kahneman, e Princípios, do Ray Dalio.

Embora seja uma resposta honesta e suficientemente ampla para começar, fica faltando o pedaço mais importante.

Qual é?

Ora, nada pode ser tão útil ao investidor quanto ler ficção.

As ideias de Taleb, Kahneman e Ray Dalio são formidáveis, mas ficam restritas às fronteiras rígidas da não ficção.

Ao adentrar mundos ficcionais, derrubamos fronteiras. Preparamo-nos para a surpresa e para a imaginação de coisas que inexistem.

Como eu disse, nada pode ser tão útil ao investidor, pois tudo aquilo que se permite marginalmente irreal é, ironicamente, mais capaz de descrever a realidade.

Parece que não, mas essa é uma conclusão lógica.

Para alcançá-la, devemos primeiro aceitar que o ato de investir confunde-se com o desafio de acessar uma realidade futura.

Cientes dos limites da ergodicidade, sabemos que o passado real nunca será capaz de anunciar um futuro real. O passado real não pode ser extrapolado financeiramente para o futuro real.

No entanto, essa é uma habilidade à disposição do passado imaginário. Por tomar impulso naquilo que é marginalmente irreal, a imaginação pode — num ato de sorte — alcançar a realidade futura.

Só ela pode, e pode pouco, pode com sorte. Investir não é fácil.

As chances nunca serão completas, mas se fazem maiores do que zero quando tentamos descrever a realidade por meio da ficção, enquanto nascem zeradas se buscamos a mera extrapolação linear do passado.

Talvez Fernando Pessoa fosse um bom investidor ao escrever: “Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho”.

Passei um bom tempo de colégio tentando interpretar essa última frase. Não ficaria mais sonora a construção “O passado, já não o tenho”?

Agora entendo, ou acho que entendo. De fato, já temos o não do passado, o não que é a negação da realidade que ficou para trás, e que por isso desperta nossa ânsia por imaginar coisas diferentes.

É justamente a negação do passado real que nos permite espiar pedacinhos de um futuro real, às vezes ganhar dinheiro com isso, seguir vivendo.

Negando que seriam necessários outros dez anos para adicionar 800 mil CPFs à Bolsa brasileira, fizemos a mesma soma em 12 meses.

Negando que Eletrobras estaria fadada ao eterno fracasso estatal, botamos lá o Wilson e começamos a discutir sua privatização.

Negando a alavancagem corrupta de Petrobras, passamos a contemplar a empresa como uma bela geração de renda, capaz de distribuir US$ 34 bilhões de dividendos entre 2020 e 2024.

O passado de Selic em dois dígitos, já o não tenho. O futuro de Ibovespa a 300 mil pontos podemos ter sim, está sendo imaginado desde já.

Editora-assistente
Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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