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Rodolfo Amstalden: Heurísticas tupiniquins no investimento em ações

29 maio 2022, 12:00 - atualizado em 27 maio 2022, 20:51
“A pesquisa revelou que os investidores brasileiros adotam caminhos mais fáceis para tomar decisões de investimentos em ações”, coloca (Imagem: Divulgação/ Empiricus)

Entender como o nosso cérebro funciona é instrutivo para tomar melhores decisões de investimento.

Não é à toa que as finanças comportamentais são uma das áreas de estudos que mais ganham força. O objetivo é entender os aspectos psicológicos e emocionais no processo de avaliação e escolha dos ativos. 

Aqui na Empiricus, nós apoiamos uma série de debates e iniciativas nesse sentido. No final do ano passado, demos a nossa contribuição à pesquisa acadêmica “Heurísticas na decisão de compra de ações – Evidências para o mercado do Brasil”, conduzida por Sandra Santos, em seu mestrado profissional em Gestão de Negócios da Fundação Instituto de Administração (FIA), sob orientação do professor Rodolfo Olivo.

Abrimos a nossa base de assinantes e também dos seguidores dos nossos conteúdos gratuitos para a aplicação do questionário. O alto engajamento nos surpreendeu, com os respondentes via Empiricus representando parcela considerável da amostra. 

Os resultados desse estudo saíram recentemente e eu convidei a Sandra para um bate-papo. São informações que nos ajudam a despertar o nosso senso crítico. Acompanhe a seguir:

Conforme a sua pesquisa, como os investidores brasileiros se comportam na hora de investir em ações? 

A pesquisa revelou que os investidores brasileiros adotam caminhos mais fáceis para tomar decisões de investimentos em ações, ou seja, eles usam atalhos mentais, as chamadas heurísticas, em detrimento de modelos matemáticos e estatísticos previstos pelas finanças mais racionais.

Em geral, as heurísticas costumam ser eficientes e ajudam a economizar tempo e energia. Pode-se concluir que elas são úteis já que proporcionam soluções rápidas, contudo, nelas estão as maiores chances de graves erros.

Na verdade, quando a gente fala sobre vieses cognitivos existe uma grande variedade documentada pelas ciências comportamentais. Esse estudo focou em ancoragem; representatividade e disponibilidade. 

Você poderia comentar sobre esses três vieses analisados? 

A ancoragem é a tendência de superestimar a primeira informação recebida e utilizá-la como ponto de referência ou uma âncora para tomar decisões. Essas âncoras podem aparecer de diversas maneiras, pode ser um preço atingido em determinada época, cotações de compras ou de vendas anteriores ou um valor aleatório. 

Já a heurística da representatividade simplifica a decisão do investidor ao projetar a performance futura da ação baseado apenas na trajetória passada como elemento representativo de tal análise. Ou seja, os investidores veem o sucesso passado de uma empresa e presumem que continuará tendo bom desempenho no futuro, o que não é uma certeza.

Outro exemplo é avaliarem que o potencial de uma ação é positiva simplesmente por terem empatia pela empresa.

Por sua vez, a heurística da disponibilidade é a tendência dos investidores de darem mais peso às informações facilmente disponíveis em vez de examinarem outras alternativas. Assim, costumam comprar ações que estão em maior evidência na mídia e também preferem papéis nacionais aos internacionais, por exemplo. 

Qual é o atalho mental mais usado entre os investidores brasileiros? 

O estudo apontou que o viés da disponibilidade é o que se manifesta com mais intensidade entre os investidores brasileiros. Já as heurísticas de ancoragem e representatividade praticamente empatam em segundo lugar.

Notícias, redes sociais e influenciadores, tudo isso realmente influencia fortemente. Os investidores se baseiam nas informações que eles têm mais facilmente e, se eles têm confiança, geralmente não se esforçam para buscar outras fontes. 

O grau de educação atenua esses vieses comportamentais em se tratando de investimentos na Bolsa?

A pesquisa evidenciou que mesmo a educação formal de indivíduos no Brasil não os exime de riscos oriundos do uso das heurísticas ao investir na Bolsa.

Contudo, o grau de instrução pode ser relevante para minimizar a ação delas. A gente chegou a essa conclusão quando comparamos os resultados do nosso estudo com dados de outros países. Vale dizer que parte considerável da nossa amostra brasileira tem alto nível de escolaridade. 

Nesse contexto, qual a importância da educação financeira? Como estão as iniciativas nesse sentido no país?

A educação financeira é uma ferramenta importantíssima. As iniciativas que informam sobre como operar no mercado de capitais aliadas a programas que alertam em relação às heurísticas levam os investidores a melhorar a alocação dos recursos.

Como comentei, o uso de heurísticas pode levar a equívocos, portanto, é importante tomar consciência desse comportamento e seus efeitos. Indivíduos com baixa educação financeira tendem a imitar investimentos arriscados, não compatíveis com os perfis, e na maior parte das vezes, não diversificam as carteiras e limitam os ganhos potenciais. 

Por isso, é fundamental ampliar os esforços das instituições de ensino, das instituições financeiras e dos governos no aprofundamento e na divulgação de estudos sobre as questões comportamentais envolvidas na tomada de decisão financeira. Observo que há um movimento positivo nesse sentido no país, mas é preciso muito mais.

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Sócio-fundador da Empiricus
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
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