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Rodolfo Amstalden: Me solta que eu me amarro em você

11 ago 2019, 16:58 - atualizado em 11 ago 2019, 16:58
Colunista discorre sobre construção de riqueza com manutenção de ativos (Imagem: Bloomberg)

Poucos hábitos são mais saudáveis ao investidor do que carregar seus queridos ativos por prazos longos.

Com o chamado buy & hold, evitamos custos de transação, minimizamos impostos e escapamos da tentação de vender na baixa para recomprar na alta.

Mas mesmo as melhores ideias podem ser desvirtuadas no momento da execução.

Veja você que alguns gestores gringos inventaram de conceber Forever Funds, oportunisticamente apoiados na bondade do buy & hold.

Empacotados na marra, tais fundos obrigarão ou “incentivarão” (com taxas pesadas) seus cotistas a travar o dinheiro aplicado por pelo menos dez anos.

Embora pareça bem intencionada, a ideia não escapa de conflitos de interesse.

Quão conveniente seria para um gestor garantir dez anos de fees de administração, independentes da performance? Será que esse gestor Gregor Samsa viraria uma barata preguiçosa?

Quais tipos de risco seriam tomados com a certeza incondicional do dinheiro dos outros? Será que a alavancagem desse gestor faria inveja a um chapeleiro louco?

O buy & hold faz milagres. Falo por experiência própria e pelo desempenho saudável do meu Programa de Riqueza Permanente aqui na Empiricus.

Mas esses milagres só se materializam quanto a decisão de comprar e carregar é 100% voluntária.

Investidores que ficariam calmos se notassem que é possível sair facilmente de uma posição temporariamente negativa se transformam numa massa em pânico quando as portas de incêndio estão bloqueadas.

E há outra questão subjacente que fica renegada mediante a obrigação de carregar: o viés de seleção.

Será que o buy & hold é quem faz mesmo o milagre ou será que ele é um marcador/proxy do indivíduo paciente e resiliente nos momentos ruins, cujas qualidades correlatas se traduzem em decisões financeiras em geral melhores?

Provavelmente, um pouco dos dois.

Galera obcecado pelo “nudge” (no caso, um sludge) que me desculpe, mas não faz sentido amarrar o investidor, nem na cruz e nem na espada.

Investidores que superam sistematicamente o mercado são aqueles que por livre arbítrio carregam suas posições, sobrevivendo emocionalmente e financeiramente durante os drawdowns.

O segredo está justamente em viver o processo e superá-lo.

Ou vamos fazer o corredor de fim de semana completar uma maratona na base do eletrochoque instalado sobre palmilhas que detectam o menor sinal de vacilo?

Até a próxima!

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