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Rodolfo Amstalden: Morning glory, what’s the story?

12 set 2019, 10:33 - atualizado em 12 set 2019, 10:33
Colunista discorre sobre incapacidade de predição através do uso exclusivo de cálculos matemáticos (Imagem: Bloomberg)

Dentre os quatro leitores desta newsletter, os dois que acompanham o Resenha com Rodolfo pedem que eu escreva mais sobre livros.

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Está bem.

Dois livros clássicos perduram como símbolos do nascimento da Economia, ganhando relevância à medida que o tempo passa, graças ao Efeito Lindy (google “The Lindy Effect”).

Sem surpresa alguma, o segundo desses livros é “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith, lançado em 1776. Todo financista diz que leu, mas poucos leram de fato. Não recrimino, pois é um livro chato. Com insights revolucionários, mas chatíssimo de ler. Parabéns se você conseguiu devorar Adam Smith, mas talvez você seja apenas mais um chato.

Assim, fica claro que eu prefiro o primeiro livro, menos acadêmico e, por conseguinte, bastante mais divertido.

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Em 1719, Daniel Defoe publicou a história de um náufrago que passou 28 anos em uma ilha tropical perdida no mapa. Lá, sobreviveu a tempestades, raios, trovões, fome, sede, cobras, canibais, mas acabou assassinado pelo homo economicus.

Felizmente, podemos ressuscitá-lo sempre que pegamos o livro em mãos.

Se você tiver a sorte de abrir “Robinson Crusoé” em uma dada página (na minha edição, é a página 129), encontrará a seguinte passagem:

“Agora eu entendi, ainda que de forma tardia, a estupidez de se começar um trabalho antes de calcular o seu verdadeiro custo, e antes de julgar genuinamente minha própria capacidade de chegar ao final.”

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Essa mesma estupidez nos trouxe até aqui, é a razão de ser por trás de todo o progresso da humanidade.

Se não fôssemos estúpidos a ponto de inaugurar trabalhos gigantescos, sob custos e esforços absurdamente incógnitos, o mais original dentre nossos antepassados não teria levantado da cama.

Não haveria Amazon, não haveria Google; nem iPods, nem iPhones.

Então, fico surpreso quando encontro financistas treinados na Poli que passam sua vida inteira montando estudos de viabilidade, tudo nos mínimos detalhes, pois custo algum e risco algum podem escapar à planilha.

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Aquilo que o Felipe escreveu aqui ontem, sobre empresas de tecnologia, aquilo é a própria vida.

Adoro um carpe diem de fim de semana, mas 99% do valor da vida está na perpetuidade, onde os custos e os riscos são incógnitos e onde o crescimento mais empolga.

Trazer fluxos futuros a valor presente é uma grande bosta, perda de tempo. Só ensina o que nossos espíritos animais já sabiam desde o início.

Fico feliz que Robinson Crusoé tenha entendido tudo de forma tardia. Nosso progresso depende disso, de conhecer os custos e os riscos das coisas de forma tardia.

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No fim das contas (ou seria no início?), compreendo por que o náufrago morreu assassinado pelo homo economicus.

Não é viável introduzir o curso de Ciências Econômicas em cima de um livro de ficção.

As curvas de oferta e demanda se cruzam exatamente no ponto em que a história termina.

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