Colunista Empiricus

Rodolfo Amstalden: Ninguém tem paciência comigo

18 fev 2021, 15:56 - atualizado em 18 fev 2021, 15:56
Rodolfo Amstalden
“Desconfio, por exemplo, que a espera necessária para o bolo crescer, que os minutos famintos antes da sopa quentíssima, não são paciência de verdade”, afirma  (Imagem: Murilo Constantino/Empiricus)

“Ah, o que todo investidor deveria ter mesmo é paciência!” — meu chefe tentava ensinar, durante a crise do subprime, para quem quisesse ouvir.

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Que genial.

Será que ele se referia ao período caprichoso entre o estresse do Bear Stearns e o colapso do Lehman Brothers?

Ou ao tempo estimado para comprar e aguardar DTEX3 em dezembro de 2008?

As duas coisas se parecem bastante com paciência, mas uma delas traz consigo a falência e a outra leva a um triunfo de +300%.

O que é exatamente a paciência, conforme os termos acordados com o mercado?

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Ela é o fundo do poço que tem porão, jamais tente pegar uma faca caindo? 

Ou é o sentimento seguro de encostar as costas no chão firme, o alívio de beijar o solo ao descer de um avião?

Tudo isso eu perguntei naquela época, mas meu chefe não sabia. 

Não posso culpá-lo inteiramente. Subimos na carreira sabendo pouco, e desconfiando muito.

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Desconfio, por exemplo, que a espera necessária para o bolo crescer, que os minutos famintos antes da sopa quentíssima, não são paciência de verdade. Ao menos, não para o mercado.

A paciência de que fala o mercado é mais profunda, é sobre resignação. Abandonar o controle e submeter-se à vontade do destino.

É aquela coragem quase covarde, pois você não vai mais resolver os próprios problemas; eles serão resolvidos de alguma forma desconhecida, por um alguém desconhecido.

A paciência de que fala o mercado é sobre sofrer calado. 

E o que significa isso? 

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Silêncio. 

Você reclama sem ser ouvido. Aguenta até onde der. Com sorte, dá certo. Sem certezas, dá sorte. Pode dar azar também.

Tecnicamente, a paciência do investidor é uma função de sua capacidade de suportar períodos consecutivos no vermelho, na esperança de alcançar um objetivo financeiro mais à frente.

Precisamos saber “underperformar” para “outperformar”. Não existem atalhos, não há outra saída. Esta é a grande ambivalência do mercado: perder para ganhar.

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Durante sua jornada de investidor, você deve estar preparado para encontrar drawdowns entre -40% e -60%. 

Em média, a cada cinco anos, você terá um ano muito merda.

Assim são dadas as regras.

Paciência, também conhecido como Solitário, é um jogo de cartas para um só jogador.

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Sócio-fundador da Empiricus
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
rodolfo.amstalden@moneytimes.com.br
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.