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Rodolfo Amstalden: o sofrer que advém da vida que não vivemos (ainda)

26 mar 2020, 10:38 - atualizado em 26 mar 2020, 10:38
Ásia Mercados Coronavírus
Simplesmente não é possível investir por cinco, dez, vinte ou trinta anos sem arcar com alguns episódios de sofrimento da pior espécie (Imagem: Reuters/Aly Song)

Depois de duas disparadas dificilmente explicadas pela razão, provavelmente teremos um ajuste de ânimos nesta quinta-feira.

Tudo conforme o plano, sem motivos para surpresa. Estamos aprendendo a sofrer, uns sofrendo mais que os outros, uns aprendendo mais que os outros.

Há dois tipos de sofrimento no mundo.

Há o sofrimento estúpido, injustificável, fruto da ignorância e da maldade.

E há o sofrimento que é o custo a se pagar em busca de uma causa nobre, também conhecido como sacrifício.

Esse segundo sofrimento é parte inerente ao ofício do investidor — e também do empresário, do esportista, do educador, etc. —, de modo que não é possível viver sem ele.

Simplesmente não é possível investir por cinco, dez, vinte ou trinta anos sem arcar com alguns episódios de sofrimento da pior espécie.

Se alguém lhe contou que a jornada do investidor era um conto de fadas, você foi enganado. O coronavírus é apenas o sofrimento escolhido para este momento. Esteja certo de que outros virão. Esteja preparado.

Bem, se não é possível investir sem sofrer, precisamos encontrar um jeito de tolerar esse sofrimento, e até mesmo regozijá-lo.

Como não somos pessoas penitentes, masoquistas, resta apenas a seguinte solução: transformar o sofrimento em outra coisa, que faça mais sentido e seja útil.

Vamos transformá-lo em uma história.

Do ponto de vista do investidor, a história é bastante simples, para quem sobrevive. A história é sempre contada do ponto de vista dos sobreviventes, ainda que sejam uma minoria.

Quando a Bolsa cai, desaba, estamos arcando com um enorme sacrifício emocional e financeiro (marcado a mercado), em troca da raríssima oportunidade de comprar ações de qualidade a preço de banana.

Por tempo indeterminado (o tempo da crise), pagamos um custo altíssimo em troca da chance pontual de multiplicarmos por duas, três ou quatro vezes o capital investido perto de um momento de máximo estresse.

Note que essa é uma troca “justa”, pois decisões que nos façam enriquecer várias vezes nunca serão fáceis, por definição.

É justa porque:

(i) Primeiro você deve sofrer, para depois se beneficiar. A sobremesa só chega depois da salada.

(ii) Enquanto você sofre por um tempo longo e indefinido, a virada de mão se oferece em uma janela curta, que demanda grande sensibilidade. Não falo aqui de um timing perfeito, pois isso não existe. Mas falo de um timing imperfeito, cuja implantação é suficientemente difícil e valiosíssima.

(iii) Durante praticamente todo o tempo, você se sente um completo idiota. Enquanto o mercado cai e todos estão desovando posições, você é o idiota que não se deixa dominar pelo pânico.

Você corre o risco de ser o idiota que perde a virada de mão depois de sofrer tanto. E se candidata ao cargo do idiota que confunde um suspiro do mercado com o primeiro sinal confiável de recuperação secular.

Tudo isso parece terrível, e é mesmo. Para nós que vivemos o dia a dia de uma crise, nenhum controle emocional é o bastante. A cada minuto, você terá suas convicções testadas, e deverá se relembrar de quem verdadeiramente é.

Mas esse é o jogo, não adianta lamentar. É um jogo justo.

Ou você queria receber a chance de transformar R$ 500 mil em R$ 1 milhão (ou mais) sem sacrifício algum?

Sócio-fundador da Empiricus
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
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