Opinião

Rodolfo Amstalden: Para você que já ficou velho e ainda quer ficar rico

09 out 2019, 11:44 - atualizado em 09 out 2019, 11:44
Colunista discorre sobre capacidade de inovação das empresas para sobreviverem (Imagem: Bloomberg)

O Ibovespa está a 100 mil pontos. Chuto que estaria entre 105 mil e 110 mil se não fossem tantos IPOs e follow-ons.

As ofertas inaugurais e subsequentes chamam a atenção para a renda variável, mas também roubam fluxo.

Mesmo em um mundo de liquidez ilimitada, o dinheiro encontra um jeito de continuar escasso.

Temos que fazer duras escolhas, trade-offs inevitáveis da “dismal science” que permitem que a vida real preserve sua graça.

Agora é hora de comprar Vivara, e não Kroton. Mas se a Kroton achar uma desculpa para se chamar Cogna e pagar de “edtech”, talvez reconsiderem as probabilidades.

Eu não compro o IPO da Vivara pelo preço alto, mas sou obrigado a reconhecer o mérito de uma empresa debutando em Bolsa sem forçar na maquiagem tecnológica.

Até onde eu sei, pelo menos, não existe uma opção real no plano de negócios da empresa de vender joias digitais, graças a Deus, ou talvez seja apenas eu ficando velho.

Se você já ficou velho e quer seguir no offline, resta um consolo: ainda dá para ter um negócio honesto, artesão, e de pagar as contas hoje em dia.

Já se a ambição é de encarar a bifurcação entre o enorme sucesso e a falência, “two roads diverging in a yellow wood, and sorry you could not travel both”, bem-vindo ao admirável mundo digitech.

Neste novo mundo, um número limitado de empresas captura parte majoritária dos lucros.

Uma elite de 10% das companhias globais fica com aproximadamente 80% de todo o lucro corporativo produzido.

No centro da distribuição, 60% lucram perto do zero a zero.

E, dentre as 10% piores, cada uma acumula, em média, um prejuízo de meio bilhão de dólares a cada ano, justificado pela espera “natural” para alcançar a elite.

Eu não sei exatamente o que acontece com a tal elite, muita sorte envolvida, ecossistemas de “winner takes all”.

Poderíamos tentar isolar fatores em comum, mas isso frequentemente é uma grande viagem pseudocientífica.

Há um motivo para a tamanha dificuldade dos modelos estatísticos de isolarem variáveis explicativas, apesar de amostras por vezes generosas e da rigidez das hipóteses de Gauss-Markov:

A vida não foi feita para ser compreendida por meio de fatores isolados. A sincronicidade das coisas é muito mais relevante.

Assim sendo, tiro o chapéu para certas coincidências entre as empresas fora da curva: testam uma ideia diferente por dia, aceitam ser tratadas de otárias pela imprensa e, principalmente, fazem “double down” naquelas pouquíssimas tentativas que sugerem um potencial de crescimento exponencial.

Nesse sentido, lembram bastante as apostas escolhidas pelo perfil Long Biased do Sergio Oba.

Quanto às 10% piores, normalmente quebram pela incapacidade de escalar uma grande montanha recém-formada ou pela teimosia de querer escalar a montanha errada

O Sergio bem lembrou aqui que o BlackBerry tinha 44% de market share antes do lançamento do iPhone, e que a então Research in Motion investiu pesado na melhora dos seus modelos.

Os modelos de BlackBerry realmente evoluíram muito, mas inteiramente cegos em relação ao fato de que as pessoas não queriam mais usar BlackBerry quando podiam usar iPhone.

Research in motion não basta. Para qual direção está se movendo o seu esforço de inovação?

O nosso esforço, creio eu, está se movendo na sua direção, na direção do leitor e do assinante, à medida que mergulhamos cada vez mais nesta nova fase de institucionalização da Empiricus.

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