Colunistas

Rodolfo Amstalden: parabéns, continue assim (e morra)

28 nov 2019, 13:25 - atualizado em 28 nov 2019, 13:25
Segundo Rodolfo Amstalden, o mundo é dividido entre pessoas que acreditam que o futuro pode ser previsto e pessoas que defendem a criação de um futuro (Imagem: Pixabay)

Por Rodolfo Amstalden, da Empiricus Research

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Enquanto muitos estão compenetrados em prever o futuro, alguns poucos passam os dias e as horas tentando criar certos tipos interessantes de futuro.

Prever o futuro é um desafio lógico, altamente instigante. Se você conseguir, tira dez na prova e ganha um “continue assim!” no boletim. Parabéns pela inteligência de curral.

Criar futuros não tem tanto a ver com lógica.

É claro que o engenheiro vai usar raciocínio matemático para construir um carro elétrico autônomo voador, mas não é disso que se trata. Tem muito mais a ver com intuição.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Se você vai criar o futuro, é porque ele não existe. Se ele não existe, por definição, não pode ser derivado de deduções lógicas; só nasce com imaginação.

Então, o mundo é dividido assim:

A) Muitas pessoas certas de que o futuro existe e, portanto, pode ser previsto.

B) Poucas pessoas desconfiadas de que o futuro não existe, mas que alguns tipos de futuro podem ser imaginados e, talvez, criados. Mais precisamente, eles se criam em vez de serem criados, mas isso é assunto para um Day One futuro, que ainda não existe.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A ou B? Não vou dizer a qual grupo a Empiricus pertence, para não estragar a surpresa. Mas posso dar uma dica: não pertencemos ao grupo A.

Pronto, isso é dedução lógica: na falta de uma terceira opção (o terceiro excluído), restam duas. Tendo eliminado uma delas, só sobrou a outra. That’s a bingo!

De onde vem a tentação de prever o futuro? Da razão, que é a mais perigosa das emoções. Todo dia, ao acordar, o desejo de controle passa batom e veste sua fantasia de razão. Mas não engana a mim, que sou macaco velho irracional.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compreendo, porém, que os lordes sejam enganados.

Ao percorrer o desafio de um raciocínio lógico, parece mesmo que você previu o futuro, pois partiu de um enunciado inicial para chegar à resposta final.

No entanto, a resposta (final?) já estava lá o tempo todo! Na verdade, você apenas deu uma voltinha no quarteirão para chegar ao mesmo lugar.

Ora, se a resposta está embutida na pergunta, é óbvio que é possível prever o futuro, tão possível quanto prever o passado.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Foi o que fez Teseu, na Ilha de Creta, ao adentrar o labirinto do Minotauro. Tirou do bolso seu novelo de lã e foi desenrolando ao longo do caminho. Fez o trabalho sujo e, na hora de escapar, bastou enrolar o novelo de novo.

A história começa e termina com o mesmo novelo, completamente enrolado. Nunca houve um futuro narrativo em que Teseu estava perdido/morto ou em que o Minotauro triunfava e se casava com Ariadne.

Muitos chamam a história de O Mito de Teseu. Para mim, é claramente o Mito do Minotauro. Ele (o Minotauro) é o protagonista.

Teseu não precisa fazer nada diferente, que vida de merda.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Teseu passa sua existência mitológica inteira numa porra de um labirinto que nem labirinto é, pois consegue facilmente enrolar e desenrolar um novelo de lã que transforma o labirinto em um círculo fechado que vai e volta, vai e volta…

É o falso herói, premiado pela continuidade. Continuidade só capaz de preservar a vida dentro de um arcabouço lógico hermeticamente fechado.

Já o Minotauro morre. Antes de morrer, ele imagina mil diferentes futuros nos quais possa fazer churrasco de Teseu, arrumar uma tesoura para cortar o novelo, espalhar outros novelos por aí, escalar o muro do labirinto, qualquer coisa é melhor do que a morte.

Não à toa, o bom investidor é como o Minotauro diariamente preparado para a morte, imaginando mil alternativas à quebra financeira que resulta do continuísmo de outrem.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Paranoico demais?

Na palestra de aniversário da EmpiricusBernardinho comentou sobre seu livro preferido de cabeceira: ” Only The Paranoid Survive“, só os paranoicos sobrevivem.

Se você acha que eu sou paranoico demais, devo confessar que isso é só o começo. Meu ativo mitológico preferido nem é o Minotauro. Tem outro bem mais legal.

Compartilhar

opiniao@moneytimes.com.br