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Rodolfo Amstalden: Por quanto tempo vai durar esta alta?

02 ago 2020, 22:58 - atualizado em 02 ago 2020, 22:58
Mercados sobe
“Se houvesse um meio de efetivamente comprar tempo, ele certamente seria negociado em mercado mediante as mais altas referências de valor” (Imagem: Unsplash/@fossy)

Contando os dias para que a COVID saia da realidade e entre nos e-books de História?

Quanto tempo ainda leva para comercializarem a vacina?

Somos todos ansiosos, desejosos de atalhos temporais.

Se houvesse um meio de efetivamente comprar tempo, ele certamente seria negociado em mercado mediante as mais altas referências de valor.

De fato, houve um tempo em que o tempo era vendido e comprado, sem metáforas.

Junto à disseminação dos relógios, tornamo-nos obcecados pela pontualidade, pagando caro para cumprir tarefas de acordo com deadlines autoimpostos ou socialmente determinados.

Quem se aproveitou disso foi Ruth Belville, conhecida pelos comerciantes ingleses do século dezenove como a Lady de Greenwich.

Ruth fez uma boa grana vendendo tempo.

A cada madrugada, ela acordava com as galinhas em Maidenhead, uma cidade a cinquenta quilômetros de Londres, e ia direto para o Royal Observatory de Greenwich, onde ficavam os guardadores da “hora exata”.

Chegando lá, Ruth tirava seu relógio do bolso e mostrava para o atendente, que então comparava os minutos com os especificados pelo Relógio Mestre do observatório.

A diferença entre ambas as medições era atestada por um certificado real, entregue à portadora.

Em posse do certificado, Ruth seguia para o centro de Londres, visitando donos de bancos, fábricas, jornais e pubs, que ajustavam seus próprios relógios conforme a referência oficial da lady.

Algo me diz que Ruth se daria bem hoje como trader de growth stocks.

Sempre que compramos ações que negociam a múltiplos elevados, estamos comprando crescimento esperado, não é mesmo?

Mais ou menos.

Uma parte desses múltiplos pode vir do crescimento, e outra parte pode vir do tempo.

Empresas que vivem pouco precisam crescer muito para justificar múltiplos altos.

Por outro lado, empresas que vivem infinitamente talvez não precisem de tanto crescimento assim.

Quanto você pagaria por um investimento capaz de crescer moderadamente, para sempre? Paga-se caro por isso.

Growth stocks podem ser time stocks disfarçadas, e vice-versa.

Ambas carregam grandes perfis de risco, pois tanto o crescimento quanto a eternidade só existem sob constante ameaça.

PS. Já que estamos falando de ameaças, será que a recuperação percebida até o momento é sustentável, ou apenas um breve sopro de vida estimulado artificialmente pelos Bancos Centrais? Podemos arriscar uma resposta propondo este equilíbrio correto entre risco e retorno.

Sócio-fundador da Empiricus
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.