Colunista Empiricus

Rodolfo Amstalden: Sobre a arte de escalar montanhas

06 jan 2022, 16:42 - atualizado em 06 jan 2022, 16:42
Rodolfo Amstalden
(Imagem: Murilo Constantino/Empiricus)

Saindo do zero para alguma coisa, orgulhamo-nos de progredir rapidamente, e caímos em um perigoso autoengano. Achamos que somos melhores do que realmente somos, e que estamos mais preparados do que realmente estamos.”

“Entre tantos tipos diferentes de estupidez,
a esperteza é um dos piores.”
― Thomas Mann, A Montanha Mágica

Educação financeira é ótimo, mas as pessoas só aprendem a investir por meio da prática.

Por isso, considero que a maior (humilde) contribuição que a Empiricus dá aos investidores individuais brasileiros é a de estimular a prática, de maneira responsável.

Para aprender a tomar boas decisões financeiras, precisamos de muitas horas de voo; idealmente, um número acima de dez mil horas de voo.

Como o financial deepening é um fenômeno ainda recente por aqui, a maior parte dos investidores nacionais ainda possui algumas poucas horas de voo. Nunca passaram por drawdowns significativos, nem experimentaram um ciclo global de aperto monetário.

É justamente nesse estágio das “poucas horas” que separamos os persistentes dos desistentes.

Conforme explica Adam Grant no livro Pense de Novo, a fase inicial de aprendizado é a mais crítica de todo o processo epistemológico. É nessa fase que saltamos do nível iniciante (zero conhecimento) para o nível amador (algum conhecimento).

A criticidade advém de uma lei dura de reconhecermos, mas que acomete todos os seres humanos em estágio seminais de desenvolvimento: conforme ganhamos pequenas doses de vivência, perdemos humildade pouco a pouco.

Se você já foi adolescente, sabe do que estou falando.

Saindo do zero para alguma coisa, orgulhamo-nos de progredir rapidamente, e caímos em um perigoso autoengano. Achamos que somos melhores do que realmente somos, e que estamos mais preparados do que realmente estamos.

É um estágio temporário (alguns ficam nessa para sempre) de autoconfiança excessiva, que ofusca nosso senso crítico e neutraliza o interesse que deveríamos ter pelas infinitas coisas que ainda não sabemos.

Psicólogos chamam essa fase de “montanha da estupidez”. No contexto financeiro, ela costuma ser também uma montanha de prejuízos, em que milhares de investidores com boas intenções simplesmente abandonam o mercado depois de tomarem sua primeira lição de vida.

Como consolo, depois do doloroso drawdown provocado pela montanha da estupidez, vem uma confiável inclinação positiva de aprendizado, tipicamente associada a lucros de longo prazo.

Para alcançá-la, precisamos de alguma paciência e de muita humildade.

Se a arrogância é a ignorância combinada com convicção, a humildade é a sabedoria combinada com a autocrítica.

Sócio-fundador da Empiricus
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
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