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Rodolfo Amstalden: Sobre cisnes negros e bodes brancos

23 set 2021, 12:07 - atualizado em 23 set 2021, 12:07
“Meu palpite atual, por exemplo — e trata-se apenas de um palpite —, é o de que o segundo semestre de 2022 será substancialmente melhor do que os próximos meses” diz o colunista.

Daqui a 30 dias, ainda estaremos falando sobre a Evergrande?

Sobre os Precatórios?

Sobre um risco de golpe institucional?

A verdade é que ninguém sabe. Nem mesmo o Guga Chacra.

Algoritmos que tentam antever os trending topics do Twitter possuem a mesma eficácia preditiva que a de algoritmos treinados com machine learning para adiantar os movimentos do mercado; em ambos os casos, a eficácia é zero.

O futuro é complexo, nebuloso, inefável — e todas as demais ressalvas epistemológicas sobre exercícios fúteis de indução já tão conhecidas pelos assinantes da Empiricus.

Para nós, talebianos, é ponto pacífico que todo futuro é incógnito.

Mas peço uma breve licença ao Nassim para flertar com uma variação do mesmo tema, sem sair do tom. 

Desconfio que alguns futuros são menos incógnitos do que outros.

Em certas situações — desafiando a curvatura típica dos juros —, prazos longos podem ser menos incógnitos do que prazos relativamente curtos.

Meu palpite atual, por exemplo — e trata-se apenas de um palpite —, é o de que o segundo semestre de 2022 será substancialmente melhor do que os próximos meses.

“Sério, Rodolfo? O que vai acontecer de tão legal no 2S22?”

Talvez — e somente talvez — o bode terá saído da sala.

Isso não implica, necessariamente, que Eduardo Leite vencerá a eleição, nem que Arminio Fraga será o ministro da Fazenda de Lula, nem que Tarcísio Gomes de Freitas será acelerado como sucessor viável de Bolsonaro.

Às vezes, o bode sai da sala sem que saibamos quem era o bode.

Há uma dupla inconsistência na forma com que o mercado constrói suas expectativas. 

O mercado subestima largamente a ocorrência de eventos imprevisíveis (cisnes negros), ao mesmo tempo que superestima a interpretação de eventos aparentemente explícitos (bodes brancos).

São dois lados da mesma moeda. Repare ao seu redor: pessoas viciadas na realidade não têm imaginação.

Por enquanto, o mercado não consegue enxergar. Mas existe um cenário, de grande probabilidade, em que o bode branco sai da sala sem gatilho algum.

Nesse cenário, o simples afunilamento do leque de probabilidades pré-eleitorais rumo a uma convergência eleitoral (qualquer que ela seja) bastaria para trazer paz e visibilidade ao ambiente de negociações.

E lá se foi o bode, sumiu!

Ainda não aconteceu, mas pode acontecer.

O bode branco pode passar o dia inteiro parado no meio da sala, vários dias parado, semanas, meses.

Parado. 

Mas uma hora ele vai ter que ir comer, dormir ou visitar o banheiro.

Sócio-fundador da Empiricus
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.
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