Internacional

Rodrigo Paz vence presidência da Bolívia e encerra quase 20 anos de governos de esquerda

20 out 2025, 7:25 - atualizado em 20 out 2025, 7:25
Mulher deposita voto em seção eleitoral em Tarija, Bolívia 19/10/2025 REUTERS/Sara Aliaga
Mulher deposita voto em seção eleitoral em Tarija, Bolívia 19/10/2025, REUTERS/Sara Aliaga

Rodrigo Paz, de orientação de centro-direita, venceu o segundo turno das eleições presidenciais na Bolívia neste domingo (20), derrotando o rival de extrema-direita Jorge “Tuto” Quiroga, em meio à pior crise econômica em uma geração, que ajudou a pôr fim a quase duas décadas de governos da esquerda.

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Paz, senador pelo Partido Democrata Cristão (PDC), obteve 54,5% dos votos, contra 45,5% de Quiroga, segundo os primeiros resultados do Tribunal Eleitoral da Bolívia. No entanto, o partido de Paz não conquistou a maioria no Legislativo, o que o forçará a formar alianças para governar de forma eficaz.

O novo presidente tomará posse em 8 de novembro.

“Devemos abrir a Bolívia para o mundo”, disse Paz durante seu discurso de vitória em La Paz, após Quiroga reconhecer a derrota.

A vitória do senador de 58 anos marca uma mudança histórica para o país sul-americano, governado quase continuamente desde 2006 pelo Movimento ao Socialismo (MAS), que já contou com apoio esmagador da maioria indígena da Bolívia.

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A plataforma moderada de Paz, que promete manter programas sociais ao mesmo tempo em que promove o crescimento liderado pelo setor privado, pareceu ressoar com eleitores de esquerda desiludidos com o MAS, fundado pelo ex-presidente Evo Morales, mas que também estavam cautelosos com as medidas de austeridade propostas por Quiroga. Paz é o terceiro membro de sua família ampliada a ser eleito presidente do país sem litoral.

O apoio ao MAS despencou no primeiro turno, em agosto, em meio ao agravamento da crise econômica.

“Esta eleição marca um ponto de inflexão político”, disse Glaeldys Gonzalez Calanche, analista para os Andes do Sul no International Crisis Group. “A Bolívia está seguindo em uma nova direção”, afirmou.

Ambos os candidatos do segundo turno prometeram fortalecer os laços diplomáticos com Washington, estremecidos desde 2009, e buscar apoio financeiro dos Estados Unidos para estabilizar a frágil economia boliviana.

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No final de setembro, Paz revelou planos para um acordo de cooperação econômica de US$ 1,5 bilhão com autoridades dos EUA para garantir o abastecimento de combustíveis.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, disse nesta semana que ambos os candidatos presidenciais “querem relações mais fortes e melhores com os EUA”, após décadas de liderança antiamericana. “Esta eleição é uma oportunidade transformadora”, disse ele em 15 de outubro.

Do lado de fora de uma seção eleitoral em La Paz, Lourdes Mendoza afirmou estar cansada da era do MAS. “Meus filhos nasceram e cresceram sob um único governo”, disse. “Espero que agora possam ver outras possibilidades e alternativas”.

Eleitores querem mudança econômica

A frágil economia da Bolívia dominou a campanha do segundo turno. As outrora abundantes exportações de gás natural despencaram, a inflação está no maior nível em 40 anos e há escassez de combustíveis.

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Ambos os candidatos defenderam mudanças no modelo estatal adotado durante os governos do MAS, mas divergiram na intensidade das reformas. Paz defendeu reformas graduais, como incentivos fiscais para pequenas empresas e autonomia fiscal regional, enquanto Quiroga propôs cortes drásticos e um resgate financeiro do FMI.

“Estamos entrando em uma nova etapa da democracia boliviana no século 21”, disse Paz à Reuters dois dias antes da eleição, em sua fazenda na região produtora de gás de Tarija, no sul do país.

“Vamos tentar construir uma economia para o povo”, afirmou, “onde o Estado deixe de ser o eixo central”.

Alguns eleitores, no entanto, não estavam convencidos de que sua vitória representa uma verdadeira ruptura com o MAS: “Acho que ele é um fantoche do governo que está saindo”, disse Esther Miranda, de 21 anos, que trabalha em um salão de unhas em La Paz.

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Vice populista impulsionou paz

A campanha de Paz foi impulsionada por seu vice, Edman Lara, ex-policial conhecido por vídeos virais no TikTok expondo casos de corrupção. Segundo analistas, o apelo populista de Lara ajudou Paz a se conectar com eleitores jovens e da classe trabalhadora.

Economistas alertam que o novo governo enfrentará desafios imediatos, incluindo garantir o abastecimento de combustíveis e formar coalizões em um Congresso fragmentado.

O ministro de Hidrocarbonetos que está de saída, Alejandro Gallardo, afirmou na semana passada que a estatal de energia estava com dificuldades para obter moeda estrangeira para importar combustíveis.

Paz disse à Reuters que já está tratando do problema por meio de acordos de pagamento diferido com fornecedores, para garantir que diesel e gasolina cheguem ao país dentro de poucos dias após sua posse.

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Ele também afirmou que começará a eliminar gradualmente os subsídios universais aos combustíveis. O apoio direcionado continuará para grupos vulneráveis, enquanto setores maiores, como o agronegócio, pagarão preços de mercado.

“O mercado terá que ajustar os preços, mas há setores que terão apoio do governo até que a economia se reative”, afirmou.

A principal central sindical da Bolívia, a Central Obrera Boliviana (COB), já alertou que se oporá a qualquer ameaça aos ganhos sociais e econômicos alcançados até agora, um sinal de que o governo Paz terá que equilibrar cuidadosamente suas medidas para evitar protestos nas ruas.

Entre os desafios imediatos do novo governo está um Congresso fragmentado. Nenhum partido obteve maioria em nenhuma das câmaras, o que significa que Paz terá que construir alianças para governar com eficácia.

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O PDC de Paz conquistou 49 das 130 cadeiras na Câmara dos Deputados e 16 das 36 no Senado, ficando ligeiramente à frente da coalizão de Quiroga, que garantiu 43 cadeiras na Câmara e 12 no Senado.

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Quem é Rodrigo Paz?

Paz nasceu em Santiago de Compostela, na Espanha, durante o exílio de sua família sob um regime militar na Bolívia. Na infância, estudou em várias escolas jesuítas e, mais tarde, formou-se na American University de Washington. Seu pai é o ex-presidente Jaime Paz Zamora, que governou a Bolívia entre 1989 e 1993.

Seu pai é o único sobrevivente de um acidente aéreo na Bolívia, um incidente que foi um atentado direcionado, ocorrido antes do golpe de 1980. Sua mãe também sobreviveu a um misterioso acidente de carro no exílio. Esses episódios marcaram sua vida e ambição política.

Após o retorno da família à Bolívia nos anos 1980, Paz iniciou sua carreira política em Tarija. Ao longo da carreira, alinhou-se a diferentes partidos, desde o movimento de esquerda radical de seu pai até alianças com inclinação à direita.

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Durante esta eleição, Paz se posicionou como um candidato centrista, prometendo manter os programas sociais voltados aos pobres, ao mesmo tempo em que promove o crescimento liderado pelo setor privado. Seu plano econômico inclui incentivos fiscais para pequenas empresas e trabalhadores autônomos, além de maior autonomia fiscal para os governos regionais.

“Ideologias não enchem barriga”, afirmou.

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A Reuters é uma das mais importantes e respeitadas agências de notícias do mundo. Fundada em 1851, no Reino Unido, por Paul Reuter. Com o tempo, expandiu sua cobertura para notícias gerais, políticas, econômicas e internacionais.
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