Santander reajusta projeções para economia brasileira com inflação desafiadora e incerteza elevada

O Santander atualizou suas projeções para a economia brasileira, com mudanças nas expectativas para inflação e câmbio, devido ao ambiente de elevada incerteza global causada pela recente guerra comercial entre China e Estados Unidos (EUA).
Em relatório assinado pela chefe de estratégia macro, Ana Paula Vescovi, e sua equipe, os economistas projetam um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,4% em 2025, ante a estimativa de 5,8%. Já para 2026, a projeção caiu de 5,0% para 4,8%.
Para o dólar, o banco estima a faixa de R$ 5,80 ao final de 2025, ante a projeção anterior de R$ 5,90. Para 2026, a cotação de R$ 6,00 foi mantida.
Em relação a Selic, a expectativa foi mantida em 14,75% neste ano, indicando uma pausa no aperto monetário do Banco Central, e em 13% no ano que vem. Já a economia brasileira deve crescer 2% em 2025 e 1,5% em 2026, como o previsto anteriormente.
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Selic a 14,75% até o fim de 2025: ‘Cenário é desafiador, com incerteza elevada’
Segundo Vescovi, desde a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o banco reajustou a projeção para a Selic prevendo sua manutenção em 14,75% até o fim de 2025. Isso porque, o comitê tem destacado um cenário desafiador, com incerteza elevada, exigindo cautela e flexibilidade.
“Em nossa visão, o BC pode estar adotando uma estratégia de desinflação oportunista: manter a Selic em nível significativamente contracionista por mais tempo, apostando que uma desaceleração global aumentará a ociosidade doméstica”, afirmam.
Para 2026, a equipe espera uma perda de fôlego da atividade, onde a mudança no horizonte relevante da política monetária deva abrir espaço para uma queda da taxa real no 1T26. No entanto, o Santander alerta que a persistente desancoragem das expectativas de inflação deve limitar esse alívio, mantendo a Selic elevada, em torno de 13,00%, ao final do próximo ano.
Contudo, o Santanter aponta que, quando o Copom enfatiza que “os vetores inflacionários seguem adversos”, sua comunicação conclui que esse contexto exigiria “uma política monetária significativamente restritiva por um período prolongado”, abrindo espaço para o encerramento do ciclo nos atuais 14,75% em detrimento do cenário em que o ciclo de elevação se prolonga de junho em diante.
Para a equipe, dentre os riscos altistas para a política monetária, é estimado: deterioração adicional do prêmio de risco fiscal; resiliência mais forte do que o esperado da inflação subjacente; atividade global não estar realmente desacelerando, mantendo o Fed com uma postura hawkish; e uma moeda persistente mais depreciada.
Já na ponta baixista, os riscos acoplam: o anúncio de medidas fiscais que reancoram as expectativas de inflação; o início de uma desaceleração mais clara e forte no crescimento do PIB; uma moeda persistente mais apreciada; e a guerra comercial, gerando um pouso forçado na economia global.
“Embora os efeitos do Liberation Day tenham sido ‘net dovish‘— principalmente via preços de commodities em reais— o Comitê continua a destacar os fatores adversos de inflação”, afirmam.
Para 2026, Vescovi destaca que as incertezas fiscais são consistentes com câmbio mais desvalorizado e, combinado com a atividade resiliente, limitam os cortes nas taxas de juros.
Inflação: IPCA a 5,4% em 2025
Em relação à inflação, a redução na projeção visa um cenário com a taxa de câmbio mais apreciada, que comparado ao final de 2024, poderia trazer pressão desinflacionária.
“De fato, apesar de todas as incertezas no cenário, a taxa de câmbio permanece ao redor de R$ 5,70/US$ e é a principal responsável pela redução do número para 2025”, dizem. “Vemos um impacto apenas marginal dessa queda para 2026 em situação de crescimento econômico sustentado e inflação de serviços pressionada”, completam.
Mas, apesar da projeção do ano ser revisada para baixo, a casa pontua que ainda é estimada uma aceleração da inflação em 12 meses, onde a desaceleração deve ficar mais evidente apenas no quarto trimestre de 2025 (4T25).
“Essa trajetória para o IPCA é consistente com nossa expectativa para os preços das commodities em reais, que já aponta para variações anuais menores e tem impacto sobre a inflação ao consumidor com alguma defasagem. Ou seja, o canal da desinflação vem dos bens comercializáveis”, destacam.
No entanto, a trajetória esperada de crescimento da atividade econômica com robustez do mercado de trabalho é incompatível com a reversão do hiato do produto para território negativo — fator essencial para convergência da inflação e das expectativas para a meta.
“Apesar da redução da projeção para 2026 pelo fator inercial, seguimos projetando o IPCA acima do teto da meta do BC para todo o período”, afirmam.