Retaliação ao ‘tarifaço’ de Trump é o principal risco para o setor de saúde, avalia o UBS BB

Os impactos do ‘tarifaço’ de Trump sobre os produtos brasileiros vão além dos setores ligados ao agronegócio e commodities, na avaliação do UBS BB.
O banco estima que as tarifas de 50% impostas sobre o Brasil, anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump na última quarta-feira (9), também devem ter reflexo no setor de saúde — mesmo que de maneira limitada.
“O desempenho das empresas brasileiras de saúde está intimamente ligado às condições econômicas locais, com uma sensibilidade aumentada às taxas de emprego formal. Vemos o setor mais exposto a impactos indiretos de tarifas mais altas, como inflação mais elevada, um real potencialmente mais fraco e menor apetite por investimentos no Brasil”, escreveram os analistas André Salles, Leonardo Olmos e Eduardo Resende em relatório.
Para eles, porém, o principal risco está em uma potencial retaliação do governo brasileiro ao ‘tarifaço’.
Na última sexta-feira (11), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que “vai brigar” em todas as esferas — entre eles, a OMC (Organização Mundial do Comércio) e o Brics — para suspender a taxação dos EUA e que a Lei de Reciprocidade Econômica é uma alternativa à medida de Trump.
“Os Estados Unidos representam uma parcela significativa das importações de materiais e medicamentos. Em caso de retaliação, acreditamos que as negociações da indústria de saúde serão fundamentais para limitar os potenciais impactos negativos na indústria”, destacaram os analistas.
Ainda no relatório, o UBS BB cita que cerca de 18% das importações de medicamentos e 15% dos dispositivos médicos — que incluem materiais e equipamentos específicos — são provenientes dos EUA.
Os ‘danos’ da retaliação à Trump
Mesmo em um cenário de tarifas retaliatórias, os analistas do UBS BB acreditam que o setor de saúde pode negociar uma isenção de taxas sobre os EUA, dada a alta importância do sistema público de saúde para a população brasileira.
“Embora reconheçamos que a CMED poderia controlar os aumentos de preços de alguns medicamentos, isso poderia criar um desequilíbrio no mercado, impactando severamente as importações”, diz o relatório.
Considerando ainda a adoção de tarifas recíprocas, o banco avalia que os hospitais estão melhor posicionados do que os operadores de saúde para suportar o potencial choque de preço.
Nas contas dos analistas, os custos com medicamentos e materiais representam entre 40% e 45% dos custos totais das operadoras. Com as tarifas retaliatórias, isso pode variar entre 3% a 4,1% dos custos totais.
“O potencial aumento nos custos para as operadoras de planos de saúde provavelmente seria transferido para os clientes (corporativos/individuais), dado o choque negativo nos sinistros e nas renegociações anuais de contratos”, destacaram os analistas.
Já as operações de hospitais listados na bolsa brasileira têm uma exposição menor em relação às operadoras, de 30% a 35% de seus custos relacionados a materiais e medicamentos. Nas contas do banco, os impactos negativos das tarifas recíprocas podem variar de 2,3% a 3,2% dos custos totais.
“Destacamos também que os hospitais são capazes de cobrar mais por alguns medicamentos, o que ajuda a mitigar impactos negativos.”
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