Economia

Selic a 13,75%: Três fatores que vão pesar mais na decisão do Copom que o Lula

02 maio 2023, 13:45 - atualizado em 02 maio 2023, 11:28
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A taxa Selic está sendo mantida no patamar de 13,75% ao ano desde agosto de 2022. e deve continuar assim por mais um tempo. (Imagem: Agência Brasil)

Amanhã, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne para discutir o futuro da taxa Selic. A expectativa do mercado é de que a autoridade monetária não dê o pontapé inicial para o corte dos juros agora em maio, mas que sinalize quando isso acontecerá.

A taxa básica de juros, que atualmente está no patamar de 13,75% ao ano desde agosto de 2022, vem gerando atritos entre o governo e o Banco Central. Enquanto o primeiro quer a redução da Selic para acelerar a economia, o segundo bate na tecla que as projeções inflacionárias seguem desancoradas.

Ontem, durante ato sindical pelo Dia do Trabalho, em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o atual patamar da taxa Selic.

“A gente não pode viver mais em um país onde a taxa de juros não controla a inflação. Ela controla, na verdade, o desemprego nesse país, porque ela é responsável por uma parte do que vivemos hoje”, afirmou Lula.

Apesar das reclamações vindas de Brasília, a decisão do Copom não deve considerar as medidas que o governo vem tomando para provar que será responsável com as contas públicas, como o arcabouço fiscal. Mesmo porque a proposta ainda está em análise na Câmara dos Deputados e precisa passar pelo Senado antes de ser aprovada.

Veja três fatores que vão pesar na reunião do Copom e na decisão sobre a Selic

Inflação

Na semana passada, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que mede a prévia da inflação oficial do país, subiu 0,57% em abril, desacelerando-se em relação à alta de 0,69% apurada em março. O indicador também desacelerou a alta acumulada em 12 meses até abril para de +5,36% para +4,16%.

Com esse, a prévia da inflação ficou dentro do teto da meta do Banco Central para 2023, de 4,75%, e intensifica as apostas de que a autoridade monetária pode cortar a taxa Selic mais cedo do que o esperado.

Por mais que a leitura do IPCA-15 corrobore com o cenário de desinflação em curso, o núcleo do indicador, que exclui a volatilidade dos grupos de energia e alimentos, segue pressionando. Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, destaca que resultado ainda é influenciado pelas mudanças nos impostos da gasolina e energia elétrica.

“O grande desafio segue sendo os preços de serviços e demais núcleos. Serviços, por exemplo, subiu de 0,29% para 0,53%, valores incompatíveis com a meta do Banco Central. Nos demais núcleos, olhando para a média móvel de três meses já livre de efeitos sazonais, o que se vê é uma inflação anualizada estacionada em altos 6%”, afirma.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também já falou em mais de uma ocasião que as projeções de inflação para longo prazo seguem desancoradas. No Relatório Focus desta semana, as projeções para os próximos anos giram em torno de 4%, enquanto para 2023 está em 6,05%.

Federal Reserve

O Banco Central também não deixará de considerar o rumo da política monetária do Federal Reserve. O banco central dos Estados Unidos ainda não encerrou o seu ciclo de aperto nos juros, tanto que a expectativa é de que o Fed aumente a sua taxa em 0,25 pontos percentuais amanhã.

“O papel do Banco Central na condução da política monetária não tem nada de simples. Como se não bastasse o entrave técnico versus político que vivenciamos no Brasil, ainda existe a necessidade de se planejar um corte de juros aqui com um olho nas decisões do Fed. É fato que uma redução de juros no Brasil com manutenção ou alta de juros lá fora teria consequências graves no preço do dólar”, destaca Bruno Perottoni, diretor de tesouraria do Braza Bank.

O problema é que as decisões da economia da potência mundial podem trazer complicações para o Brasil. Entre elas está o fato de que, quando os juros dos EUA aumentam, a tendência é de que investidores estrangeiros passem a olhar para os títulos ligados ao governo como uma forma mais segura de investimento. Isso pode reduzir a circulação do dólar no país.

Dólar

Por falar em dólar, no último mês a moeda americana entrou em um movimento de desvalorização e chegou a acumular queda de mais de 3% entre os dias 10 e 16 de abril.

A queda do dólar não é boa apenas para que está pensando em viajar. O Brasil é um país que importa produtos manufaturados e algumas matérias-primas, por isso, quando o câmbio está alto, o custo de produção industrial e itens já prontos sobem.

Essa elevação afeta a inflação, que sobe junto. Agora, quando a moeda americana cai, a tendência é que os preços caiam juntos, aliviando o IPCA.

Por isso, a variação do câmbio não vai passar despercebida pelo Copom, embora não deva influenciar tanto na Selic.

“O Banco Central vai ver essa apreciação como algo positivo para a inflação, o que poderia até ser colocado no balanço de riscos. Porém, a magnitude dessa apreciação não é algo relevante para mudar o direcionamento de política monetária. Bancos Centrais tendem a tomar atitude em relação à moeda somente em movimentos mais bruscos”, afirma Vitor Alves Junckes, gestor de multimercados da Somma Investimentos.

Editora-chefe
Formada em Jornalismo pela PUC-SP, tem especialização em Jornalismo Internacional. Atua como editora-chefe no Money Times e já trabalhou nas redações do InfoMoney, Você S/A, Você RH, Olhar Digital e Editora Trip.
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