Selic a 14,75%: Como o Ibovespa, os juros futuros e o dólar devem reagir ao Copom

O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 0,50 ponto percentual (p.p.) na reunião desta quarta-feira (7), em decisão unânime. Com o novo ajuste, a taxa básica de juros subiu de 14,25% para 14,75% ao ano.
“Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, disse o comunicado.
“Tal cenário prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta”, acrescentou.
A falta de sinalização já era esperada pela XP. “O Comitê reconhece que estamos em ‘estágio avançado do ciclo de aperto monetário’, que ainda há impactos acumulados a serem observados, e que o ambiente exige ‘cautela adicional’”, afirmou o economista Alexandre Maluf.
Com a falta de clareza do comunicado, o mercado agora se divide entre as apostas de fim aperto monetário já nessa decisão e a chance de uma última alta de 0,25 ponto percentual no atual ciclo de aperto monetário na próxima reunião do Copom em junho.
“O comunicado dá a entender que [o ciclo de altas na Selic] parou (não explícita, mas implicitamente)”, afirmou Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos. “Há a opcionalidade de alta de 25 pontos-base, mas me parece que o plano de voo é parar. Para dar uma alta dessa magnitude, o cenário precisa piorar. O mercado deveria ir para a probabilidade majoritária de manutenção dos juros em junho, e o debate passa a ser quando o BC deve começar a cortar os juros.”
As atenções agora ficam concentradas na ata do Copom, a ser divulgada na próxima semana.
A expectativa é que alguns ativos domésticos reajam positivamente no dia seguinte ao Copom, que já estava precificada pelo mercado. Lá fora, o índice EWZ — que é um fundo que replica o desempenho do índice MSCI Brasil, com as principais ações da bolsa brasileira — chegou a 0,19% logo após a divulgação do comunicado do Copom contra a queda de 0,79% no fechamento.
Como o Ibovespa deve reagir ao Copom?
O principal índice da bolsa brasileira encerrou o pregão desta quarta-feira (7) em leve queda, na contramão das bolsas de Nova York — em reação à decisão do Federal Reserve de manter os juros inalterados na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano.
Na avaliação dos analistas, o Ibovespa (IBOV) deve iniciar o pregão pós-Copom em tom positivo. “Espero uma movimentação de alta para a bolsa”, disse Alison Correia, analista de investimentos e sócio-fundador da Dom Investimentos.
“A alta dos juros deve pressionar os investidores a reavaliar suas posições, especialmente no mercado de ações e nos setores mais sensíveis ao crédito”, afirmou Marcio Saito, CFO da Entrepay.
Já Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, destaca que as ações de setores sensíveis ao crédito tendem a operar no negativo nesta quinta-feira (8). “Do ponto de vista dos investidores que já estão posicionados no Brasil, o movimento tende a ser bem recebido no curto prazo. A alta da Selic ajuda a conter expectativas futuras, mas seu efeito é defasado”, afirmou. “O custo do controle inflacionário é o impacto sobre o crescimento: setores sensíveis ao crédito, como consumo e construção, devem continuar pressionados.”
Os juros futuros vão subir?
Para alguns analistas, as taxas de contratos de Depósitos Interfinanceiros (DI) curtas tendem a ceder no dia seguinte ao Copom, mas outros veem motivos para altas.
Na avaliação da economista-chefe da Galapagos, Tatiana Pinheiro, os DIs podem ceder um pouco com a leitura de fim de ciclo de aperto monetário.
Já a head de renda fixa da XP, Camille Dolle, considera que pode haver um ajuste de alta nos vencimentos curtos, “uma vez que uma pequena parcela dos investidores esperava um aumento menor, de 0,25 ponto percentual. Já na parte longa da curva, pode ocorrer um movimento de fechamento, porém de baixa magnitude, também em razão de ajuste, na visão dela.
O sócio-diretor da MAG Investimentos, Claudio Pires, espera que a parte mais curta da curva, especialmente os DIs com vencimento entre janeiro de 2026 e janeiro de 2027, continuem em ritmo de abertura com o mercado adiando o cenário de início do afrouxamento monetário. Vale ressaltar que o Copom reforçou que os juros podem permanecer elevados por um período prolongado.
E o dólar?
Para Marcio Saito, CFO da Entrepay, o dólar pode seguir o ritmo de valorização em reação à decisão do Copom. Nesta quarta-feira (29), o dólar à vista encerrou as negociações em alta, a R$ 5,7454 (+0,61%).
“O câmbio deve refletir a pressão sobre o real, com o dólar possivelmente buscando níveis mais elevados, dado o cenário de incertezas externas, incluindo os reflexos da guerra comercial entre EUA e China. O mercado de commodities, especialmente o setor agrícola, pode apresentar volatilidade, com as oscilações do dólar impactando diretamente o preço das exportações brasileiras”, afirmou Saito.