Reportagem Especial

Selic a 15%: Copom aguarda mais dados antes de cortar juros, mas já deve reconhecer avanços da economia, diz Padovani

09 dez 2025, 8:00 - atualizado em 09 dez 2025, 7:22
dominância fiscal roberto padovani
Copom aguarda mais dados antes de cortar Selic, mas já deve reconhecer avanços da economia, diz Roberto Padovani, do BV. (Imagem: Divulgação/Banco BV)

O Banco Central (BC) ainda deve aguardar mais informações para começar a cortar a Selic, mas já tende a reconhecer os avanços da economia brasileira no comunicado da reunião que acontece nesta quarta-feira (10). A leitura é de Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV e assessor do Ministério da Fazenda no Plano Real.

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Segundo Padovani, a decisão esperada é de manutenção da taxa básica de juros, mas o foco do mercado está na sinalização dos diretores. “Ninguém espera corte de juros, mas, mais do que a taxa básica, está todo mundo de olho na comunicação”, disse em entrevista ao Money Times.

O Comitê de Política Monetária (Copom) tem promovido ajustes muito graduais no discurso — e deve seguir nesse ritmo —, postura que o economista considera coerente com o ambiente inflacionário atual. No entanto, os membros devem preservar um tom duro para evitar que o mercado antecipe cortes.

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“O BC tem que manter a taxa básica e manter uma comunicação relativamente dura, porque o serviço não está completo. Se muda o discurso, abrindo espaço para cortes de juros, os mercados futuros de juros antecipam esse corte.”

Entre os avanços citados, Padovani destaca a desaceleração da atividade econômica. “A atividade econômica vem desacelerando. Ela está crescendo mais próxima da sua capacidade”, afirmou.

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Ele acrescenta ainda que esse movimento já reflete nos preços. “A inflação passou a se desacelerar. Agora, ela sobe num ritmo menor. O cenário está melhorando.”

Ainda assim, o economista ressalta que esses progressos têm ocorrido de forma mais lenta do que o desejado. “São processos que têm acontecido na direção desejada pelo Banco Central, mas em um ritmo lento”, disse.

Diante desse quadro, o Banco BV projeta que o início do ciclo de cortes ocorra apenas em março, em função do comportamento da inflação e das expectativas. “Vemos um recuo ainda moderado da inflação corrente e as expectativas de inflação não estão convergindo para 3%.”

Para que o BC finalmente se sinta confortável para iniciar o afrouxamento monetário, o economista aponta como principal condição, justamente, a convergência das expectativas de inflação. “O termômetro mais óbvio de que eles podem começar a cortar juros é a confirmação da convergência das expectativas de inflação.”

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Ele destaca que o olhar não se restringe a um único horizonte. “A variável a ser monitorada é as expectativas de inflação não só para 2026, mas também para 27 e 28.” Segundo o economista, a preocupação está menos na queda pontual e mais na garantia de continuidade. “Você tem que estar seguro de que essa convergência vai continuar acontecendo em direção a 3%.”

Para Padovani, o BC precisa manter as condições financeiras apertadas por mais tempo para evitar uma reação prematura dos mercados. “O Banco Central precisa de mais dados para que ele indicar uma comunicação mais clara de que vai cortar juros”, afirmou.

Quando o ciclo tiver início, a avaliação do BV é de que ele será lento e cauteloso, com cortes de 0,25 ponto percentual, e que o ritmo dependerá do grau de segurança em relação ao cenário prospectivo. O banco projeta a Selic em 12% ao final de 2026.

Eleições x Selic

O economista do BV afirmou que a eleição de 2026 em si não será o principal desafio do Banco Central, mas, sim, a incerteza do ambiente econômico.

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“O que dificulta a vida do Banco Central é a imprevisibilidade dos cenários”, afirmou ao Money Times.

Ele cita dúvidas relevantes sobre a economia internacional, o desempenho dos mercados financeiros e o efeito da política fiscal doméstica.

Juros na casa de um dígito

Padovani disse ainda que o BV projeta a Selic novamente em um dígito apenas mais à frente. “Achamos que isso acontece no final de 2027.”

Para o economista, esse movimento depende de um processo mais longo de ajuste e consolidação das condições macroeconômicas.

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Segundo ele, esse caminho passa, necessariamente, pela entrega de um ajuste fiscal pelo próximo governo, seja por convicção ou por necessidade política. “Podemos ter um governo que acredite na importância desse ajuste ou podemos ter um governo que ache que é importante fazer esse ajuste por razões de sustentabilidade política”, disse.

Padovani explica que uma trajetória oposta, com expansão persistente dos gastos públicos, impactaria a dívida pública. Isso torna o país mais vulnerável a choques externos, piora o sentimento dos investidores e afeta os ativos locais. “O dólar sobe, pressiona o custo das empresas, a inflação sobe, o Banco Central tem que subir juros.”

Na visão do economista-chefe do BV, a entrega desse ajuste abriria espaço para a convergência das expectativas de inflação e, consequentemente, para a queda mais consistente dos juros.

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Editora-assistente
Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Atua na área de macroeconomia, finanças e investimentos desde 2021.
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