Selic a 15%? IPCA-15 de abril reforça política monetária mais restrita

Os dados divulgados nesta sexta-feira (25) pelo IBGE mostram desaceleração no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), apesar da alta registrada. No entanto, para os economistas, o dado reforça o esperado: que o Banco Central eleve a taxa Selic a 15% na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Em abril, houve um crescimento de 0,43% na prévia da inflação, o que representa uma desaceleração em relação à alta de 0,64% apurada em março.
Agora, a inflação acumula alta de 2,43% no ano e de 5,49% em doze meses. Dessa forma, o acumulado de um ano do IPCA segue acima do teto da meta de inflação perseguida pelo Banco Central em 2025. O alvo é 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p.) para baixo ou para cima.
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IPCA-15 reforça estimativas de Selic a 15% no próximo Copom
Qualitativamente, o resultado foi ruim. Isso é o que diz Igor Cadilhac, economista do PicPay. Para ele, as inflações de serviços (em torno de 7,5%) e industriais (em torno de 6%) estão significativamente desancoradas na média dos últimos três meses (dessazonalizadas e anualizadas), o que mantém um cenário desafiador para a política monetária.
Dessa forma, Cadilhac aponta que é projetado que o Copom eleve a Selic para 15%, com uma próxima alta de 50 pontos-base, seguida por outra de 25 pontos-base — levando a taxa básica de juros para 15,75%, patamar no qual a taxa deve permanecer até o fim do ano.
“Nossa projeção para a inflação em 2025 é de 5,6%. Seguimos vendo um viés altista no balanço de riscos, embora avaliemos que eles estão mais equilibrados do que anteriormente”, completa.
Entre os fatores de baixa para o cenário atual, a equipe ressalta:
- um ambiente global menos propenso à atividade, reflexo de choques no comércio internacional; e
- possível redução dos preços administrados, especialmente dos combustíveis, com a queda do petróleo.
Por outro lado, os riscos de alta monitorados acoplam:
- desancoragem das expectativas de inflação;
- uma inflação de serviços mais persistente, impulsionada pelo hiato do produto positivo; e
- desvalorização da moeda em um contexto de percepção fiscal.
Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg, destaca que apesar da surpresa positiva do resultado, o dado hoje registrou um recuo derivado, onde a pressão se deu pela queda bem mais forte que a esperada em passagens aéreas (-14,4% contra expectativa de -4,0%).
Para ele, com as medidas qualitativas do resultado divulgado hoje, ainda há incerteza, porém, é visto um cenário desafiador para o Banco Central.
“Os núcleos de inflação registraram alta de 0,48% e os serviços subjacentes, 0,55%, ambos próximos das nossas estimativas”, diz. Serrano aponta que esses números são compatíveis com uma inflação anualizada próxima a 6%, muito superior à meta de inflação de 3% no Brasil.
“Olhando adiante, esperamos ainda alguma volatilidade do IPCA derivada dos preços dos alimentos e de energia elétrica, que podem voltar a subir por conta do provável acionamento da bandeira amarela nos próximos meses”, completa.
Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, pontua que a prévia deste mês apresentou ‘grandes desvios’ com a projeção da casa. Isso porque, ao variar 0,43%, o IPCA-15 frente à mediana do mercado de 0,42% e à projeção da Ativa Investimentos de +0,35%
O mais proeminente, segundo o economista, foi o item passagem aérea, que surpreendeu negativamente em 7bps — no qual houve uma deflação de 14,38% ante a perspectiva de -5,24% da equipe.
“Como nosso erro agregado foi altista, obviamente subestimamos outros subitens que, ainda que não tenham apresentado desvios individuais superiores a 7bps (em módulo), tiveram um somatório bastante relevante”, afirma. Os subitens em questão acoplam higiene pessoal (4bps), carnes (3bps), despesas pessoais (3bps) e comunicação (3bps).
“No fim das contas, ainda que precisemos calibrar melhor nossas coletas e modelos, avaliamos que, para o mercado, o IPCA-15 de hoje será próximo de um não evento”, finaliza.
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