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Selic: Como as empresas podem lidar com os juros altos (e agradar o investidor)

14 jun 2022, 16:27 - atualizado em 14 jun 2022, 16:27
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Pressão: com a disparada da Selic no último ano, empresas enfrentam custos mais altos de capital (Imagem: Divulgação / MF Press Global)

Por André Pinheiro, gerente Sênior da Peers Consulting

Os efeitos do aumento da taxa básica de juros (Selic) são facilmente identificados e sentidos no dia a dia do cidadão. Inicialmente pelos sintomas da doença que este remédio tenta tratar (o aumento de preços pela inflação), mas também pelos efeitos da elevação dos juros em si, que acarretam acréscimo dos custos de empréstimos e maiores dificuldades para obtê-los.

No entanto, para além dos efeitos óbvios, existem outros impactos, especialmente na vida dos investidores. Esses impactos são mais claramente percebidos no aumento do fluxo de moedas entre países, fluxo de capitais saindo e entrando e consequente impacto na taxa de câmbio.

Ainda, podemos perceber também a alteração dos retornos esperados dos investimentos, as movimentações do mercado e opções de investimento disponíveis.

De uma forma mais indireta, o aumento dos juros também tem impacto na estratégia e nas operações das empresas, principalmente em como gerenciam seu capital de giro e no reflexo das mudanças necessárias na operação, em razão do aumento do custo do dinheiro necessário para conduzir as suas atividades.

Isso pode gerar, dentre outras consequências, redução no número de opções de produtos disponíveis no varejo, seja pela diminuição da velocidade nos investimentos ou pelo aumento na seletividade das aquisições dos clientes. É um ciclo vicioso que acaba influenciando a economia como um todo.

Panorama geral da Selic

A taxa básica de juros é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação do país. De acordo com o Relatório Focus, do Banco Central do dia 02/05/2022, as perspectivas para o índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2022 subiram de 7,65% para 7,89%, acima do teto da meta estabelecida para o ano de 2022, de 5%.

Com base nesse cenário, é natural esperar que a Selic volte a aumentar até o final de 2022, atingindo 13,25%, de acordo com os especialistas, contra 2,75% 12 meses atrás, um aumento de quase 5 vezes em um curto espaço de tempo.

Esse contexto tem consequência no dia a dia do cidadão, visto que acarreta um aumento no custo de crédito para empréstimos bancários. A taxa média para empréstimos pessoais variou de 103,05% ao ano em fevereiro de 2021 para 115,20% ao ano em fevereiro de 2022, de acordo com o Núcleo de Inteligência e Pesquisas – EPDC – Procon-SP. Esse aumento no custo de crédito, alinhado a inflação, tem impacto direto no consumo.

Desafios da Selic para as empresas

O aumento da Selic atinge também as empresas e exige adaptação às novas condições do mercado. São diversos aspectos, mas existem dois mais relevantes.

Custos: O primeiro deles é referente aos custos das dívidas ou seu custo de financiamento com terceiros. Uma empresa em geral utiliza dinheiro financiado para vários fins, desde grandes investimentos até para alavancar suas vendas disponibilizando crédito a seus clientes ou mesmo para tocar gastos do dia a dia.

Com o aumento dos juros, os custos dos empréstimos se tornam cada vez maiores e, simultaneamente, com o aumento dos índices de risco do mercado, níveis de endividamento etc., também cada vez mais difíceis de serem obtidos.

Em um contexto de crise, em que a empresa necessita de financiamento para dar continuidade às suas operações, esse cenário pode ser crítico, além de significar uma piora geral nos resultados apresentados por elas em seus balanços.

Gestão do capital: Já o segundo fator diz respeito à gestão do capital total investido na operação. As empresas demandam dinheiro para tocar seu dia a dia e realizar investimentos. Existem algumas fontes possíveis, que podem ser as receitas da companhia, empréstimos e equity, ou o famoso “dinheiro de investidor” ou acionista.

Quando falamos em equity em um contexto de juros altos, se trata de uma fonte de dinheiro que fica cada vez mais cara pois demanda maiores retornos cem comparação com outros investimentos, como a renda fixa, ficam mais interessantes.

Se trata de uma competição pela preferência dos investidores, que sempre buscarão a melhor combinação possível de maior retorno, com menor risco (ou pelo menos com risco aceitável sob o ponto de vista de seus respectivos estômagos).

No cenário atual, os resultados das empresas já se encontram bastante pressionados. E, para piorar, as empresas foram estimuladas a investir entre 2019 e 2021, um período de juros baixos e dinheiro barato, mas agora têm excesso de ativos (em forma de estoques, maquinário ou edifícios), o que piora o retorno obtido por elas sobre o investimento (já que a base da conta fica maior).

Estratégias das empresas para lidar com a Selic

André Pinheiro, da Peers Consulting, Selic, Juros
“Do ponto de vista dos acionistas, a expectativa de retorno sobre os investimentos aumentou”, diz Pinheiro (Imagem: Divulgação/ Peers)

Portanto, é importante que as empresas busquem reduzir ou otimizar seu capital total investido, ou working capital, adequando sua estratégia a fim de ter a alocação de seu capital na operação da forma mais eficiente possível, gerando menos custos e melhores retornos. Existe um amplo leque de ferramentas e ações que podem ser utilizadas neste sentido.

1.Gestão de Estoque

Do ponto de vista de gestão de estoque, as empresas precisam alinhar demanda, oferta e previsões financeiras, com melhor planejamento de vendas e operações. Uma melhor organização de pedidos e uso de ferramentas colaborativas e de abastecimento podem ajudar a reduzir seus níveis de estoque, custos e melhorar o serviço.

Simultaneamente, devem ser mais seletivas sobre quais produtos devem constar em seu portfólio, colocando suas fichas nos mais atrativos com maiores retornos e maior giro.

2.Gestão de Recebíveis

As empresas devem implementar processos para melhorar sua gestão de recebíveis, tornando seus processos de cobrança mais efetivos. Contudo, devem tomar cuidado para não deixar de ajustar suas estratégias de financiamento de clientes, buscar reduzir o prazo de recebíveis e melhorar a avaliação do crédito frente a rentabilidade dos mesmos.

3.Fornecedores

Além de ações mais tradicionais de busca de redução de custos unitários com negociações, as empresas podem também aprimorar seus relacionamentos com seus fornecedores para otimizar os estoques ao longo da cadeia, aplicando estratégias “just in time” ou de cadeia leve e reposição automática, compartilhando estes custos com o fornecedor.

Outro aspecto importante seria melhorar o fluxo de pagamento a fornecedores, com atenção ao custo e benefício entre pagamentos a prazos curtos com desconto versus pagamentos com prazos estendidos com maior alívio no capital de giro. Novos contratos, portanto, deveriam ser negociados levando em conta também estes aspectos.

Previsões e recomendações

De forma geral, as empresas precisam reduzir o capital total utilizado na operação, selecionando melhor onde investi-lo. Desta forma, podem reduzir custos e gerar melhor índice de retorno, avançando em termos de competitividade em relação ao restante do mercado.

A agilidade com que as empresas conseguirem realizar esta virada estratégica e adequar sua operação ao novo cenário é crítica e será um divisor de águas.

Do ponto de vista dos acionistas, a expectativa de retorno sobre os investimentos aumentou. A partir de agora, o investidor passará a ser mais atraído a produtos pós-fixados atrelados a taxas atrativas atuais da Selic e CDI, com menores riscos, e mais seletivo nas suas aplicações de renda variável, exigindo prêmios maiores.

Empresas que tiverem maior dificuldade de adaptação perderão atratividade e, em um cenário de menor disponibilidade de capital, suas ações perderão valor no curto médio prazo, com impactos significativos possíveis também em suas estratégias de longo prazo.

*André Pinheiro é co-líder das práticas de finanças da Peers e possui 19 anos de experiência em consultorias de processos e gestão. Formou-se em engenharia mecânica pela USP, e possui mestrado em administração pelo Insper, com ênfase em gestão de mudança e estratégia. Atuou como consultor em projetos de melhoria de eficiência operacional principalmente em planejamento financeiro, supply chain e revisão organizacional para diversos setores, dentre os quais os de meios de pagamento, bancário, telecom, mídia e varejo.

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Peers Consulting, a consultoria de negócios que mais cresce no Brasil. A Peers nasceu em 2012 e, desde então, a receita vem crescendo a uma taxa média de crescimento (CAGR) de 40% ao ano. O faturamento em 2020 fechou em R$ 35 milhões, superando em 30% a meta e com um crescimento de 70% sobre o ano anterior. Atende apenas gigantes como Grupo Boticário, Cogna (Ex Kroton), Yduqs, Alpargatas, Marisa, Grupo Fleury e diversas companhias do portfólio de fundos de private equity.
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