“Selic de 1,5% ao fim do ano é perfeitamente factível”; veja a repercussão do corte dos juros

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu nesta quarta-feira a taxa Selic em 0,75 ponto percentual, para nova mínima recorde de 2,25% ao ano, em linha com consenso de mercado, deixando porta aberta para nova redução “residual”.
Veja comentários de analistas de mercado:
Luis Bento, analista, Rio Bravo
“Já esperávamos que o Copom deixasse a porta aberta para mais corte porque em política monetária não faz muito sentido se prender a uma decisão de antemão.
Temos visto decréscimo nas expectativas de inflação para 2021, o que apareceu nos modelos do BC, então acreditamos que o mais provável é que a gente veja revisão nas expectativas para a Selic de 2021, com o mercado migrando para cenários de um aumento só ou mesmo de manutenção do juro no ano que vem.
Estamos com maiores dificuldades para conter o vírus e isso, junto com o menor gasto fiscal em proporção do PIB para combater a pandemia, pode gerar alguma frustração sobre a velocidade da recuperação econômica e levar o BC a utilizar esse espaço para ajuste adicional na Selic. Projetamos juro de 2% até o fim de 2021. Para o dólar, vejo efeito líquido que corrobore a taxa de câmbio permanecer em todo de onde está.”
Renan Silva, economista-chefe, Bluemetrix Ativos
“Particularmente, acreditava em corte de 0,5 ponto percentual, não pelo desaquecimento da economia –que é muito notório e que poderia justificar Selic de 1,5%, até 1%, até dezembro–, mas porque, na minha visão, as reduções teriam de ser um pouco mais gradualistas.
Vejo que talvez a dose tenha sido um pouco intensa demais neste momento, até porque você pode ter algum ponto de inflexão com relação ao controle do surto ou até mesmo o surgimento de alguma solução efetiva, como um medicamento, anúncio de vacina, e ele (Copom) não colocaria todas as cartas na mesa. Por outro lado, pesam a atividade econômica e os números de desemprego.
Acho que isso contribuiu para que os integrantes do Copom optassem por uma correção mais intensa. Acho que o caminho em direção a uma taxa Selic de 1,5% (ao fim do ano) é perfeitamente factível, mas mudou na medida em que agora vou apostar em cortes mais residuais.”
Carlos Pedroso, economista sênior, Banco MUFG Brasil
“Eu diria que a porta está entreaberta para mais redução do juro. O BC colocou o fiscal como parte central da decisão futura de política monetária.
Com isso, minha avaliação é que ele não vai cortar. Os dados da pandemia continuam a piorar, com certeza as medidas emergenciais serão estendidas. O impacto fiscal dessas ações vai se ampliar. Não haverá melhora na preocupação do mercado sobre isso.
Vemos Selic estável em 2,25% até o fim do ano. O impacto da sinalização do BC sobre o câmbio acredito que será neutro.”
Breno Bonati, sócio e analista, VGR Asset
“A gente também estava contando que podia haver alguma surpresa, mas até então estávamos precificando que seria um corte de 0,75 p.p. e o Banco Central viria com um tom mais ‘dovish’, o que parece que ocorreu mesmo (pelo comunicado), ainda que tenha sinalizado que (o próximo corte) fica mais incerto e deve ser pequeno –se houver.
Um dos problemas é que o Brasil ainda está na primeira onda (de casos do coronavírus), e a gente já começou uma discussão sobre uma segunda onda em outros países.
O Banco Central vai continuar preocupado em relação aos dados da atividade econômica, além dos desafios que o impacto do câmbio está trazendo para a economia.”
Lucas Carvalho, analista, Toro Investimentos
“Pelas condições de hoje, pode ser que haja, sim, novo corte da Selic (em 5 de agosto), de 0,25 ponto percentual. Mas há muitas incertezas: embora os dados da economia estejam vindo ruins, o mercado tem olhado bastante para a questão fiscal.
Nos ativos financeiros, acredito que o impacto de corte adicional da Selic já aconteceu, e a alta do Ibovespa e do dólar hoje em parte mostram isso.”