Selic elevada faz efeito na economia, mas não tão rápido quanto o Banco Central gostaria, diz Galípolo
A política monetária vem fazendo efeito no cenário macroeconômico, mas não tão rápido quanto a autarquia gostaria, disse presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, nesta quinta-feira (27), em evento promovido pela Itaú Asset Management.
Segundo ele, os “dados continuam demonstrando desaquecimento lento e gradual da economia brasileira”. A última pesquisa do Boletim Focus, indica que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer 2,16% em 2025 e 1,78% em 2026.
Já do lado da inflação, o presidente afirmou que a evolução recente dos indicadores reforça a leitura de que o processo de desinflação segue em linha com o planejado pela autoridade monetária. No Focus, as projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) são de 4,45% este ano e 4,18% no próximo.
“A trajetória da inflação tem seguido ‘plano de voo’ do BC”, afirmou no evento.
Galípolo citou, no entanto, a necessidade de cautela na análise dos indicadores. “Temos repetido que queremos reunir dados, não nos emocionar com um específico”, afirmou. “Nenhum dado específico provocou uma mudança na nossa reação.”
Ele apontou ainda que “há algum tempo, a percepção de fiscal estimulativo está presente na desancoragem”, além de lembrar que “nos últimos anos, medidas fiscais neutras no orçamento tiveram impacto na demanda”.
A combinação entre o atual quadro fiscal e a economia resiliente tem exigido maior persistência da política monetária. “Temos condição estrutural que demanda dose maior do remédio para fazer efeito”, afirmou.
O presidente da autoridade monetária voltou a afirmar que o cenário exige juros altos por mais tempo. De acordo com ele, o BC manterá a taxa básica “no nível necessário, pelo tempo necessário” para assegurar a convergência da inflação.
Ao comentar a comunicação da instituição, Galípolo ainda ressaltou que a construção de credibilidade da autoridade monetária é “coletiva, não é resultado do trabalho de uma pessoa”.
A Selic atual é de 15% e, segundo projeções do mercado, deve seguir nesse patamar até o final de 2025. A expectativa é de que os cortes da taxa comecem no primeiro trimestre de 2026, mas os juros devem seguir em nível elevado ao longo do ano — possivelmente, ainda na cada dos dois dígitos.