Selic estável em 14,75%: Itaú estima fim do ciclo de alta, embora longe dos cortes

O Itaú estima que a taxa básica de juros (Selic) permanecerá estável em 14,75% ao ano até o final de 2025, com cortes apenas em 2026. A projeção está alinhada à comunicação recente do Banco Central, que parece ter ganhado confiança de que a política monetária está em um patamar significativamente contracionista e que a atividade está desacelerando.
O economista-chefe Mario Mesquita e sua equipe afirmam que, nesse contexto, a estratégia adotada é a manutenção de juros elevados por um período prolongado.
“Não vislumbramos espaço para cortes de juros esse ano, diante das expectativas desancoradas e da atividade ainda resiliente. Projetamos cortes apenas ao longo de 2026, quando a taxa de juros alcançará o nível de 12,75%”, aponta o economista.
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Em relação à inflação, a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi mantida em 5,5% para 2025 e 4,4% para 2026. Segundo o relatório, o balanço de riscos para este ano é considerado simétrico.
A possível diminuição do fluxo comercial entre China e Estados Unidos (EUA), somada à queda nos preços de commodities metálicas, pode resultar em uma inflação industrial mais benigna. No entanto, a diminuição do volume de chuvas eleva a probabilidade de acionamento de bandeiras tarifárias no setor elétrico no final do ano.
Além da Selic e inflação: O que esperar do cenário macroeconômico?
Para o Produto Interno Bruto (PIB), a equipe manteve a projeção em 2,2% para 2025 e 1,5% para 2026. A expectativa é de que a desaceleração da atividade econômica fique mais evidente apenas no segundo semestre, após um início de ano positivo, impulsionado pelo setor agropecuário e pelo consumo sustentado por renda elevada.
No mercado de trabalho, o Itaú também manteve as projeções de taxa de desemprego em 6,8% para 2025 e 7,3% para 2026. “Apesar da volatilidade observada, os dados continuam indicando um mercado de trabalho aquecido”, afirma a equipe.
Em relação ao câmbio, o real segue sendo influenciado predominantemente por fatores externos. Após atingir a faixa dos R$ 6,00 com o anúncio de novas tarifas pelos EUA, a moeda brasileira ganhou força frente ao dólar — em meio a um cenário de enfraquecimento global da moeda americana —, alcançando máximas próximas a R$ 5,60.
O cenário internacional tem sido o principal vetor para o comportamento do real. Por um lado, o avanço nas negociações tarifárias entre EUA e China reduz a probabilidade de um cenário de desaceleração global mais intensa e aumenta a atratividade de ativos de risco. Por outro, a redução de tensões comerciais entre EUA e outros países aumenta a chance de continuidade do excepcionalismo americano, resultando em um dólar mais forte globalmente.
Diante desse cenário, a equipe do Itaú mantém, por ora, a projeção de taxa de câmbio em R$ 5,75 por dólar, tanto para 2025 quanto para 2026.
A equipe ainda destaca que o cenário fiscal segue desafiador, exigindo maior controle de despesas. Assim, o banco mantém a projeção de resultado primário em -0,8% do PIB para 2025 e 2026 — uma vez que, para este ano, não é esperado o cumprimento da meta de -0,6% do PIB.
“Avaliamos ser importante que o governo anuncie medidas de contenção de despesas”, destacam. “Um anúncio de uma contenção robusta, da ordem de R$ 40 bilhões, na próxima revisão bimestral, em 22 de maio, sinalizaria uma maior prudência na execução orçamentária, diante de riscos de frustração das receitas extraordinárias e de nova subestimação de despesas obrigatórias”.
No entanto, os sinais atuais apontam para um ajuste menor e mais gradual, o que, segundo o relatório, contribui para a manutenção do risco fiscal elevado e para a ausência de uma resolução definitiva quanto à execução de despesas fora do orçamento.