Sem ajuste fiscal, não tem espaço para a Selic cair, alerta Rodrigo Azevedo, ex-Banco Central
Enquanto não houver perspectiva de reequilíbrio entre a política fiscal e a monetária, não haverá espaço para a Selic recuar. A análise é de Rodrigo Azevedo, ex-diretor do Banco Central (BC) e sócio da gestora Ibiuna, durante o evento Onde Investir no 2º Semestre de 2025, promovido pelo Seu Dinheiro com apoio do Money Times.
Na visão de Azevedo, o esforço da autarquia para conter a inflação está sendo contrabalançado por estímulos do lado fiscal — e parafiscal. Segundo ele, embora a política monetária esteja “pisando no freio”, há uma força oposta “pisando no acelerador”, o que explica por que a atividade ainda não dá sinais claros de desaceleração.
“Imagina de quanto seria a inflação se o BC não trouxesse juros para 15%? Esse descompasso entre monetário e fiscal cria uma situação em que o juro tem que ser muito alto para manter a inflação”, disse.
O ex-BC também alertou que, embora hoje não haja sinais concretos para uma nova alta de juros, os diretores da autarquia podem ser forçados a subir a Selic novamente caso o dólar volte a se depreciar. Isso porque as expectativas inflacionárias seguem desancoradas, e a atividade econômica resiste a perder tração.
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Atualmente, segundo Azevedo, o único fator que tem contribuído de forma relevante para a desaceleração da inflação é a valorização do câmbio — o que torna o cenário ainda mais sensível. “Se o dólar virar, teremos um problema”, afirmou.
O sócio da Ibiuna avaliou que a valorização recente do real tem sido sustentada por três fatores principais: o ambiente externo mais favorável, os juros elevados no Brasil e a perspectiva de mudança de governo. Se nada mudar nesses pilares, a tendência seria de continuidade. No entanto, ele alertou que um acirramento do processo eleitoral pode romper esse equilíbrio.
Diante desse contexto, Azevedo vê pouco espaço para cortes na taxa Selic daqui para frente, a não ser que haja uma retração da política fiscal ou que o cenário externo siga extremamente benigno. “Não estou muito animado com as perspectivas de quedas de juros no curto prazo no Brasil.”
Ele também reconheceu que um processo eleitoral mais calmo, combinado à continuidade da apreciação cambial, poderia abrir alguma margem para flexibilização monetária — mas considerou essa hipótese improvável. Tudo indica que as eleições de 2026 serão altamente competitivas.
Esse fator político, aliás, tem ganhado cada vez mais relevância na análise dos mercados. O CIO da Empiricus Asset, João Piccioni, que também participou do evento, associou diretamente a recuperação do Ibovespa nos últimos meses ao chamado “rali eleitoral”, além do maior apetite ao risco no exterior.
A head de client strategy da Lifetime Investimentos, Natalia Szyfman, por sua vez, apontou que a reação dos ativos deve se intensificar à medida que o cenário eleitoral de 2026 fique mais claro. Segundo ela, o mercado tende a responder mais fortemente quando estiverem definidos os principais nomes na disputa, algo que deve começar no segundo semestre deste ano e ganhar força no início de 2026.