Coluna
Coluna do Einar Rivero

Sem as Sete Magníficas, vale a pena investir no índice ‘S&P 492’?

24 mar 2025, 10:29 - atualizado em 24 mar 2025, 10:29
wall street Nasdaq S&P 500 Dow Jones EUA Estados Unidos
Empresas de tecnologia, distorcem as métricas de preço no mercado americano e podem fazer o investidor perder oportunidades excelentes. (Imagem: 400tmax/Getty Images Signature)

O mercado acionário americano é o maior e o mais diversificado do mundo. É possível chegar a essa conclusão de várias maneiras, tanto pelo valor de mercado quanto pela quantidade de empresas listadas. Também é possível comparar as carteiras dos índices.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O brasileiro Ibovespa (IBOV), por exemplo, tem 87 ações de 84 empresas (Bradesco, Petrobras e Eletrobras estão listadas duas vezes). O índice Standard & Poor’s é chamado de S&P 500 por motivos bastante óbvios: é formado por meio milhar de ações.

Parece muito, até pensarmos em um índice menos conhecido, o Russell 2000. E lembrarmos que o índice Nasdaq Composite inclui as ações de praticamente todas as 2.500 empresas listadas no pregão eletrônico.

Só esses números são um argumento poderoso a favor da diversificação dos investimentos para além das fronteiras brasileiras. No entanto, coloca-se uma questão: o mercado americano não está caro demais para ser uma oportunidade interessante?

Para responder a essa pergunta, vamos usar um indicador clássico do mercado, a relação Preço/Lucro (P/L). Resumidamente, esse indicador mostra em quanto tempo os lucros que a empresa gera devolverão ao investidor o dinheiro aplicado na ação.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Segundo um levantamento da consultoria Elos Ayta, em meados de março a mediana ponderada do P/L das 500 ações do S&P 500 era de 41,79. Ou seja, o investidor teria de esperar quase 42 anos para ter seu dinheiro de volta. Essa perspectiva é um balde de água gelada em qualquer expectativa.

Porém, nossa tese aqui é que esse número, embora correto, leva a uma conclusão errônea. A causa é uma palavra: “ponderada”. O fato de esse cálculo considerar o peso individual de cada ação no índice distorce os resultados.

Vamos explicar isso fazendo mais uma comparação entre o Ibovespa e o S&P 500. O método de escolha das ações que formam o índice e sua importância nele são diferentes. Por aqui, as ações são escolhidas pela liquidez. Quanto mais negociadas, maior sua participação. Só a Petrobras, somando ordinárias e preferenciais, responde por 11,78% da carteira.

Essa concentração provoca distorções. Quase 12% da volatilidade do Ibovespa depende das oscilações de uma empresas estatais e/ou ligadas aos preços da commodity mais “nervosa” do mercado, ao lado do ouro.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Os preços do petróleo oscilam pelas oscilações da economia que influenciam a demanda e também pelas (imprevisíveis) decisões políticas que influenciam a oferta. Isso torna as ações de todas as petrolíferas estruturalmente voláteis, Petrobras incluída. E seu peso no índice amplifica essa volatilidade se usarmos uma mediana ou uma média ponderada.

Algo semelhante ocorre com o índice S&P 500. Porém, em vez de petrolíferas, o domínio é das empresas de tecnologia mais importantes. Nomes como Alphabet (que controla o Google), Amazon, Apple, Meta (que controla Facebook, Instagram e WhatsApp), Microsoft, Nvidia e Tesla.

Essas sete empresas têm oito ações (Alphabet aparece duas vezes) que representam 31,25% do S&P 500. Não por acaso são apelidadas de “as Sete Magníficas” (Magnificent Seven), título de um faroeste de 1960 (Sete Homens e um Destino é o título em português).

As ações de tecnologia estão caras. Por vários motivos. São consideradas quase monopólios globais em seus mercados (pense em outro mecanismo de busca que não o Google ou em outro aplicativo de comunicação além do WhatsApp e você vai perceber isso). E nos últimos meses suas ações se valorizaram muito com a vitória de Donald Trump, cuja campanha prometeu um ambiente de negócios mais favorável a elas.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O melhor exemplo (por absurdo) são as ações da Tesla.  No dia 11 de março, sua relação P/L era de 113. Ou seja, o investidor teria de esperar um século e mais 13 anos antes de recuperar seu dinheiro pensando apenas nos lucros. Se parece distorcido, é bom saber que esse valor está longe do máximo. No último pregão de 2024, as ações da Tesla eram negociadas a um P/L de 198. Seriam necessários praticamente dois séculos de resultados antes de o investidor recuperar seu dinheiro. Algo para os netos dos bisnetos. Vamos voltar a isso em breve.

Como ficaria o P/L do S&P 500 sem as sete magníficas? Ainda segundo o levantamento da Elos Ayta, a mediana ponderada das 492 empresas é de 30,62. Ainda é bastante tempo, pouco mais de três décadas, mas é um P/L 26,7% menor do que quando incluímos todas as empresas. Ou seja, desconsiderando a distorção provocada por Tesla e suas colegas, o mercado americano fica mais de 25% mais “barato” (Observe o Gráfico abaixo).

(Fonte: Elos Ayta)

No entanto, se desconsiderarmos a ponderação e calcularmos a mediana simples do P/L das 500 ações, chegamos a uma diferença ainda mais expressiva. Esse resultado indica um P/L mediano de 24,37, pouco mais da metade da média ponderada.

Pode parecer muito na comparação com o P/L das ações brasileiras, mas em mercados desenvolvidos como o dos Estados Unidos as ações são estruturalmente mais caras. Isso ocorre porque os juros são estruturalmente mais baixos.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Assim, há uma vantagem comparativa maior em investir na renda variável, o que explica uma sobrevalorização das ações. Ou seja, a mediana das 500 maiores empresas americanas por capitalização, sem ponderação, indica que apesar da alta recente, os números não estão distorcidos.

E há mais. Vamos retornar ao desempenho da Tesla. Em pouco mais de dois meses, seu P/L caiu de 198 para 113. A empresa segue uma das mais caras do S&P 500. No entanto, esse indicador mostra uma redução de 42,9% no valuation medido por esse múltiplo. O forte vínculo de Elon Musk com o governo de Donald Trump e o impacto das tarifas comerciais impostas pelo novo presidente sobre a indústria automotiva (Tesla incluída) levaram muitos investidores a olhar com cautela a tese de investir na empresa de Musk.

Em uma escala menor, esse mesmo motivo provocou uma queda nos preços da Sete Magníficas. Entre o fim de 2024 e o dia 11 de março, a mediana dos P/Ls recuou de 36,81 para 32,84, uma retração de 10,77%, tornando essas empresas relativamente mais baratas do que estavam no início do ano.

Qual a conclusão? Os índices de ações são ferramentas excelentes para acompanhar o desempenho dos mercados. Permitem observar as tendências de uma maneira muito “econômica”: um único número resume o comportamento da bolsa.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Porém, essa simplicidade tem um “custo” em termos de precisão. Os índices são ponderados e há boas razões para isso: faz sentido que empresas mais importantes pelo tamanho ou pela liquidez tenham mais influência sobre o mercado como um todo.

No entanto, o investidor que observar apenas os índices e não levar em conta as aproximações e simplificações provocadas pela ponderação se arrisca a deixar passar oportunidades excelentes para seu dinheiro.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
Einar Rivero é CEO da Elos Ayta Consultoria e especialista de dados financeiros de mercado. Formado em Engenharia, tornou-se referência para o mercado financeiro por trazer levantamentos e insights inéditos a partir do cruzamento de dados econômicos. Durante 25 anos, atuou como líder e gerente de relacionamento institucional de plataformas de informação financeira, como TradeMap e Economatica.
einar.rivero@autor.moneytimes.com.br
Twitter Linkedin Instagram
Einar Rivero é CEO da Elos Ayta Consultoria e especialista de dados financeiros de mercado. Formado em Engenharia, tornou-se referência para o mercado financeiro por trazer levantamentos e insights inéditos a partir do cruzamento de dados econômicos. Durante 25 anos, atuou como líder e gerente de relacionamento institucional de plataformas de informação financeira, como TradeMap e Economatica.
Twitter Linkedin Instagram

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar