Sem Bessent mais uma vez, tensões com os Brics devem lançar sombra sobre a reunião do G20 em Durban

Mais uma ausência do Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, as ameaças tarifárias de Donald Trump e as crescentes tensões entre Washington e os países do Brics parecem prestes a ofuscar a reunião desta semana dos chefes de finanças do G20 em Durban, África do Sul.
O esvaziamento do encontro já havia ocorrido em fevereiro, quando vários funcionários importantes, incluindo Bessent, não compareceram ao encontro de ministros das finanças e bancos centrais realizado na Cidade do Cabo, o que já levantou dúvidas sobre a capacidade do grupo de lidar com desafios globais urgentes.
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“Eu acho problemático não ter a maior economia do mundo representada na mesa, ao menos em um nível político sênior,” disse Josh Lipsky, presidente de economia internacional no Atlantic Council.
“Isso levanta questões sobre a viabilidade de longo prazo do G20,” disse Lipsky, acrescentando que a ausência de Bessent prenuncia os planos dos EUA para um G20 mais enxuto e “de volta ao básico” quando assumirem a presidência rotativa do grupo no próximo ano.
Trump implementou uma tarifa-base de 10% sobre todas as importações dos EUA, com taxas punitivas direcionadas a países e produtos específicos — incluindo 50% sobre aço e alumínio, 25% sobre automóveis e ameaças de tarifas de até 200% sobre produtos farmacêuticos. Tarifas adicionais sobre 25 países devem entrar em vigor em 1º de agosto.
Brics tem oito dos 20
Sua ameaça de impor tarifas adicionais aos países do Brics adiciona complexidade, dado que oito membros do G20, incluindo o anfitrião África do Sul, pertencem ao grupo ampliado dos Brics. Essa sobreposição sugere o surgimento de fóruns concorrentes à medida que instituições lideradas pelo Ocidente enfrentam desafios de credibilidade.
“A incerteza política é o maior tema neste momento,” disse a vice-governadora do Banco Central da África do Sul, Fundi Tshazibana, à Reuters.
O G20 tem suas origens na resposta a crises passadas e ganhou força quando países ao redor do mundo perceberam a necessidade de coordenar políticas para sair da crise financeira global do final dos anos 2000.
“O G20 foi construído com base na suposição de que todas as principais economias do mundo compartilhavam um interesse comum em uma economia global estável e relativamente aberta,” disse Brad Setser, do Council on Foreign Relations. “Mas Trump realmente não se importa com estabilidade e quer uma economia global mais fechada”.
Grupo perde força
Quando assumiu a presidência do G20 em dezembro sob o lema “Solidariedade, Igualdade, Sustentabilidade”, o governo sul-africano esperava usar a plataforma para pressionar os países ricos sobre financiamento climático e lidar com a desconfiança entre o Norte e o Sul globais. Em vez disso, encontra-se lidando com as consequências de cortes de ajuda e guerras tarifárias que minam diretamente esses objetivos.
Como a economia mais desenvolvida do continente, a África do Sul enfrenta pressão para defender os interesses africanos enquanto navega entre as rivalidades das grandes potências. O Tesouro Nacional disse que é “prematuro comentar” sobre metas específicas para o encontro.
O diretor-geral do Tesouro, Duncan Pieterse, disse em comunicado na segunda-feira que esperam emitir o primeiro comunicado sob a presidência sul-africana do G20 ao final das reuniões.
Na segunda-feira, o órgão de estabilidade financeira do G20 apresentou um novo plano sobre como lidar com riscos climáticos, mas pausou os trabalhos políticos em meio à retirada dos EUA, que colocou à prova os esforços para avançar em uma política financeira unificada sobre riscos climáticos.
Os EUA se retiraram de vários grupos dedicados a explorar como enchentes, incêndios florestais e grandes mudanças de políticas climáticas podem impactar a estabilidade financeira.